Continuam correndo sozinhos no páreo
Certa
vez eu estava conversando com o Jonas Faga. Falávamos sobre o ritmo de
impressão monetária dos pacotes de expansão Americano - novidade! O tema
é sempre esse! - e, de repente, algo ocorre:
- Mas, Jonas, uma hora isso vai dar merda.
- Vai.
- Os Americanos tornaram o mercado viciado em seu pacote de impressão.
Esse fornecimento de liquidez gera inflação, cria dinheiro a partir do
nada e, por maiores que sejam a demanda por dólares no mundo, por mais
atrelados que sejam os seus contratos de cessão tecnológica, ligações
contratuais com a necessidade do mundo em se dolarizar para comprar
petróleo da OPEP, uma hora nós veremos a depreciação do dólar. Isso é
matemático. Inevitável. O que deve estar segurando isso é a fragilidade -
justamente - de todo o resto, em especial do Euro e da comunidade
Européia.
- A questão é: Até que ponto os Americanos iriam para defender o seu direito de imprimirem dólares, de expandirem a dívida.
E isso veio como uma bacia d'água sobre a minha cabeça. E é verdade.
Tudo na teoria é bonito, nos livros, nos cálculos, na planilha e na
nossa tentativa de achar que a realidade segue os esboços dos nosso
teoremas; mas não é assim. Quase nunca é assim.
A grande
maioria das pessoas acreditam que, de alguma forma, quanto mais você
estuda mais conhece sobre algo. Ledo engano! Quanto mais se estuda mais
você percebe que todo paradigma é quebrado, que toda conclusão "óbvia e
absoluta" sobre determinado tema acaba, mais cedo ou mais tarde, levando
aquele que concluiu a uma queda vertiginosa. Hoje, em 2014, quanto mais
eu penso sobre o que será do mundo ao longo desse ano, mais certeza eu
tenho de que só existe uma única resposta correta: Eu não sei. Não sei e
nenhum de nós sabe!
Não conseguimos enxergar o elefante por
inteiro. Temos que nos contentar no tato, buscando algumas peças, parte a
parte, paciente e repetidas vezes, até que algo comece a se formar em
nossas cabeças. E para os próximos 10 anos? Pior ainda!
A
lógica pede para que eu diga que a inflação crescerá nos Estados Unidos
se o seu ritmo de fornecimento de liquidez não encontrar um freio - se
não econômico, ao menos moral, pois a dívida que está sendo deixada para
as futuras gerações é enorme. Mas, os Estados Unidos se beneficiam
justamente da completa ausência de uma moeda para lhes fazer
contra-peso. As opções seriam:
01. O Iene Japonês. Moeda
advinda de um país que se encontra em deflação econômica desde 1986.
Apesar dos pacotes de estímulo do país, este simplesmente não consegue
forçar o seu povo a consumir. Não há aquecimento econômico desde antes
do meu nascimento. A população envelhece no ritmo mais assustador do
globo. Sua política de empregos e estabilidade engessa o mercado.
02. O Yuane Chinês. Não preciso nem discutir: Apesar da pujança
financeira do "continente Chinês", ainda se trata de um país
absolutamente fechado, sem democracia instituída, cujas pessoas,
acredito eu, não abririam mão de uma moeda que, apesar de todos os seus
males inflacionários ainda é livre, para adotarem em seus contratos
coeficientes de crença em um Estado que, por decreto, pode nacionalizar
tudo e invalidar o resto ou qualquer outro surto histérico totalitário.
03. O Euro. Era a moeda mais forte, sem dúvida, o concorrente de peso
para desbancar o dólar. Quem puder ler o estatuto da união Européia
estará diante de um dos mais belos documentos econômicos e políticos já
feitos. Incentiva-se a livre circulação de bens, de pessoas, do
comércio, isenção de taxas, aumento da competitividade, mas, na prática,
pouco está sendo colocado pra valer. Quando falamos de comunidade
Européia a primeira coisa que lembramos é da palavra: Crise. Bastou meia
década de liberdade para tomada de empréstimos a juros Alemães por
parte dos países menos responsáveis do grupo para que o estrago fosse
feito. A Europa milenar, conhecedora e pivô do nosso legado cultural
humanitário, atolou-se de dinheiro a juros baixos e comprou grande parte
dos JUNKY BONDS hipotecários Americanos, que tinham certificado de
segurança atestado pelo próprio Estado!, mas que não evitaram a quebra
em cadeia de toda a comunidade.
O euro claudica, por conta dos
seus próprios atos e decisões, mas tenta levantar-se de maneira
responsável: Por meio de ajustes fiscais, austeridade, buscando a volta
do compasso das contas públicas, mas tem pela frente questões
complicadas, como o envelhecimento da população, a completa falta de
vontade empreendedora dos seus jovens - os que restam - e a perda da
competitividade da sua indústria para os asiáticos. Trata-se da minha
aposta mais forte, mas, talvez, só para a próxima década.
Enquanto isso, seguem os Americanos na liderança inequívoca do mundo.
Sem ninguém para soprar-lhes os cangotes, continuam imprimindo,
produzindo, expandindo e negociando. Seguem como o povo mais produtivo
do mundo e nada mais justo que isso se torne reflexo na confiança dos
títulos de dívida, para curto e longo prazo, que emitem aos investidores
estrangeiros. Os Chineses sabem disso, por isso seguem comprando suas
dívidas. Já são os maiores credores do mundo dos Estados Unidos. Já são
os maiores credores de quase todo o planeta!
Enquanto não
houver qualquer tipo de candidato a altura, seguem os Americanos, ou
melhor, o dólar, como representação da segurança e do porto seguro no
mundo, apesar de todas as sandices financeiras e repetidas erupções de
oferta monetária que promovam a cada virada de ano. Infelizmente, apesar
de tudo que o façam, os Americanos - e o dólar - ainda continuam
correndo sozinhos no páreo.
Ícaro Carvalho
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