Pergunta seca: porque é que é de direita?
Resposta seca:
porque não sou de esquerda. Porque não acredito na bondade intrínseca da
natureza humana. Porque não creio que os homens nasçam livres e, como
dizia Rousseau, se encontrem por aí aprisionados. Creio, aliás, no
oposto: os homens nascem aprisionados na sua agressividade instintiva e é
a sociedade que os civiliza, refina e liberta. E não existe liberdade
sem lei, ou seja, sem uma autoridade politicamente constituída e democraticamente
eleita. E, também ela, limitada pela lei. De preferência, bem limitada:
capaz de exercer as suas funções soberanas mas sem interferir nas
escolhas individuais e legítimas dos indivíduos.
Qual é o papel do Estado, nesse quadro?
Não é função do Estado dizer-me como viver; é função do Estado
permitir-me viver em segurança e paz. Por minha conta e risco. Como é
evidente, sei que isto soa estranho em Portugal: um país onde a pobreza
mental e material obriga qualquer um a olhar para o Estado como certas
tribos primitivas olhavam para os seus deuses de pedra e bambu. De forma
reverente, messiânica. E isto tanto se encontra à esquerda como à
direita. Por outro lado, e de forma mais caseira, sou de direita – ou,
se preferir, não sou de esquerda – porque não tenho tempo nem paciência
para cultivar complexos ideológicos de nenhuma espécie. Nasci depois do
25 de Abril.
João Pereira Coutinho
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