terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A austeridadezinha em 2013/2014



A educação é a minha paixão, lá dizia o Guterres na década de 90.

As paixões às vezes extravasam o racional, e a ideia subliminar que ainda vigora em Portugal de que o futuro do país está na educação e na formação dos jovens, que é como quem diz: para a educação nunca deveria faltar dinheiro e quanto mais melhor, começa a esbarrar na pântano a que chamamos Realidade.

A realidade é que o dinheiro atribuído à educação, aproximadamente 7 mil milhões de euros todos os anos, ao qual acresce talvez mais mil milhões com propinas, e eventualmente mais uns milhões valentes com dinheiros da UE para financiamento de projetos universitários, não gera a tal criação de emprego altamente especializado em número suficiente, e que mais tarde deveria faturar forte e feio e que deveria pagar impostos que iriam financiar tudo isto.

A educação não chegou a "criar" estas pessoas em número suficiente, a economia não levantou pé, e na hora da crise, sem a tal criação de empregos, a malta jovem formada e supostamente altamente especializada tem que abalar do país porque aqui não encontra a sua oportunidade.

Sistemas desequilibrados são assim mesmo.

Todo o Ministério da Educação, incluindo o Ensino Superior, acreditou que o seu quadro docente deveria ser bem formado em termos académicos, e a respetiva remuneração, desde o professor primário até ao reitor, deveria estar de acordo com os altos desígnios que se pediam a estes ilustres cidadãos da nossa pátria.

A coisa não funcionou, e os sonhos e esperanças de muitos docentes e recém-docentes que entraram para esta carreira desvanecem-se diariamente, sem vislumbrarem grandes alternativas à sua carreira.

O que já está a acontecer à Educação e o que ainda lhe falta fazer deixará qualquer professor minimamente informado deveras preocupado, porque o desinvestimento na educação é já hoje uma realidade por não haver dinheiro, e cortar mais na Saúde e tentar cortar na Segurança Social, em que 90% das pensões são abaixo dos 600€, trará "desequilíbrios" ainda mais difíceis de gerir politicamente.

Na educação, ao contrário do que acontece na Saúde e na SS, o corte de despesa através destas medidas dificilmente se consegue avaliar na redução da qualidade do serviço. Os pais fazem barulho aqui e acolá mas depois a coisa passa.
Em 2011 e 2012 aumentou-se ligeiramente o nº de alunos por turma, cortou-se um professor na disciplina de EVT, diminuiu-se a carga horária em disciplinas menos importantes, saiu o Estudo Acompanhado, fundiram-se escolas nos tais mega-agrupamentos, etc, etc.
Em 2013/2014 teremos professores a dar mais aulas por semana, à semelhança do que já acontece no privado, e bastará atribuir mais 3 ou 4 horas a cada um por semana para que as necessidades de docentes caiam bastante. Perder 20 ou 30% dos docentes numa escola pública com a aplicação destas medidas não me parece nenhum disparate, apesar de que o valor é atirado ao ar.

São os 4 mil milhões que é preciso cortar e que já não dá para ir às "gorduras" que muitos nos fizeram crer que haveria em quantidade suficiente para repor o equilíbrio.
Tem que se ir aos salários, às pensões e a funções do estado que até há 3-4 anos se considerariam intocáveis e imutáveis.
E a brincadeira não acaba aqui porque como tantas vezes demonstrei no Contas, para termos um nível de impostos que não exceda os 25% do PIB, as contas na despesa são simples de fazer: é preciso descer de 80 mil milhões para 50 mil milhões. Aaai!
Com tanta "austeridade" já aplicada, ainda nem sequer descemos da barreira dos 80... falta tudo

Tiago Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

Spot on!!!

David Seraos disse...

Muito bom post Tiago.

A educação e a formação dos jovens é o futuro do país. Mas como em tudo na economia não é a atirar dinheiro para cima que se resolvem os problemas.

Mas os políticos pensam que sim, e agora que não é dinheiro irá haver uma perda 20 ou 30% dos docentes nas escolas públicas, como tu bem dizes.

Na educação uma boa forma de poupar/reduzir custos, é com eficiência.

Mas na educação não é a contratar professores e mais professores que se resolvem as coisas. Sim a fenprof defende que é com mais professores, obrigado dá-lhes jeito.
Uma tema interessante que tem aparecido ultimamente é as charter schools, os professores tem melhores salários sim, mas estas são mais eficientes e assim compensam. Mas isto é um tema que não interessa à fenprof porque os melhores recebem os outros não tem lugar nessas escolas.

E nas escolas de hoje é preciso maior exigência, ah e tal como é ensino obrigatório é passar todos, assim o ensino obrigatório torna-se um bandalheira.

Pois não basta alguém receber o ensino obrigatório se ele está neste nível de qualidade, que de modo geral é baixo.

Mas sim é preciso haver cortes em todas as áreas, não à dinheiro. Mas mesmo com menos dinheiro o nível de educação no nosso país podia melhorar, comparativamente ao nível que temos