domingo, 16 de dezembro de 2012

Alemanha insatisfeita com países periféricos

É com este título que o Expresso publica uma notícia acerca de um relatório do governo alemão que refere com preocupação os lentos progressos de ajustamento e competitividade dos países periféricos, incluindo Portugal.

Em primeiro lugar, é importante perceber se os tais lentos progressos são porque não se quer fazer mais ou porque não é possível fazer mais.

Se não se quer fazer mais, é possível corrigir nas avaliações da troika e exigir mais, com a retaliação de o dinheirinho não chegar.

Se não é possível fazer mais, então o que devem fazer é perceber os resultados das suas políticas e corrigirem naquilo que acharem melhor.

Aliás, como já referi tantas vezes no Contas e no Viriatos, algo se passou no Verão de 2012 à Merkel e ao Schauble. Não sei o que foi, mas que a rédea passou a ficar muito mais solta, ai disso não tenho dúvidas. O OMT de Draghi passou a ser uma realidade e as aldrabices dos políticos gregos mereceram novo apoio. E ideologicamente falando, transitámos da austeridade orçamental para um incremento na necessidade dos países crescerem, conforme o FMI já disse várias vezes em público.

Genericamente, o pessoal já percebeu o seguinte:

A austeridade é muito mais recessiva do que se imaginava. Pensavam que o equilíbrio orçamental público pouco afetaria a economia.

Não sei que contas fizeram, se é que as fizeram, mas posso-vos garantir que não era difícil lá chegar.
Foi com matemática do 8º ano que fiz esta "descoberta": de que a austeridade iria trazer-nos para outro patamar civilizacional. Não podia aceitar tanta aldrabice junta de que a redução de despesa era uma brincadeira e que em 2013 já estaríamos em franco crescimento e orçamento equilibrado. O Contas Caseiras surgiu muito por causa destas conclusões a que cheguei.

Para Merkel e Schauble, se realmente a austeridade fosse fácil e com os resultados que se perspetivavam, era uma vitória brutal nas suas políticas. Exigiam disciplina aos gastadores, granjeavam reputação doméstica por terem mão de ferro certeira, e a Europa como um todo ganhava nova confiança interna e externa. Era tudo win-win.

Agora fica mais complicado, porque têm que arranjar dois discursos diferentes para o mesmo assunto caso estejam a falar para a comunicação social alemã ou para a do resto da Europa.
Veremos se este relatório é a continuação da política de agradar a uns sem querer desagradar a outros.

Ainda se lembram do que disse Merkel quando esteve cá há menos de dois meses durante seis horas? Ou o que disse Schauble quando Gaspar foi a Alemanha depois do Verão?
PORTUGAL ERA O EXEMPLO.

Apesar da gravidade da situação e de não se vislumbrarem desfechos positivos no médio prazo, sobretudo por causa da falta de coragem desta gente intelectualmente tão fraca e com tanto poder nas mãos, só já dá mesmo para "gozar" com a situação, e sugerir a Merkel e companhia que se aperfeiçoem e muito na arte de agradar a gregos e a troianos, já que viver muito tempo no fio da navalha não é para povos pragmáticos, utilitaristas e pouco inteligentes como o alemão.

Tiago Mestre

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