domingo, 3 de março de 2013

Idealismos...

Com todos estes desfiles a exigirem mudanças de políticas e de políticos, fica sempre a dúvida:
Mas mudar para onde? Apostar em que políticas?

E como já referiu o Vazelios, ouvindo os manifestantes (festivaleiros), a pobreza franciscana das ideias do pessoal entrevistado é enorme. É mesmo de fugir.

Mas enquanto que toda esta massa de gente chega às 18.30 e decide regressar a casa, outros há que ficam, refletem e organizam a próxima manifestação, e esses, meus caros, são exatamente aqueles que fomentam e semeiam as ideias fáceis na população.

As suas soluções são apelativas:
Que se lixe a troika
Demissão do governo
Acabar com a pobreza
Acabar com a miséria
Acabar com este governo e meter lá outro (Qual?)
Acabar com o desemprego
As pessoas não são números, etc, etc

Soubessem eles quão difícil é fugir da miséria e gerar riqueza PELOS SEUS PRÓPRIOS MEIOS, sem heranças nem cunhas, e não andavam a propalar ideais fáceis de entrar no ouvido.

A julgar pelo que dizem na televisão, só posso considerá-los idealistas no mau sentido do termo.

Pseudo-Idealistas inteligentes que sabem muito bem retorcer as ideias e apresentá-las de bandeja, sem mácula, prontas a servir a quem queira ouvir e se sinta revoltado com o que se está a passar.
Com esta conversa da treta acabam por conseguir cativar todos aqueles e aquelas que se sentem perdidos e que procuram desesperadamente uma âncora.
Soubessem eles a realidade que esta conversa mole esconde e fugiriam mais depressa deles do que de Passos Coelho.

O problema destes idealistas é que se focam demasiado no que está mal no sistema vigente e idealizam o que de diferente poderia ele ser. Esquecem-se do que está bem e deve ser mantido.

Pseudo-Idealistas tivemos no 25 de Abril, que deslumbrados com ideais estrangeiros, quiseram aplicá-los aqui, fazendo tábua rasa ao que já havia de bom ou então silenciando e apropriando-se do mérito do que já vinha de trás.

Os pseudo-idealistas, como qualquer homem que sonha demais e vê de menos, escapa-lhe o que de bom o mundo já tem, e só pensa no que de mau tem, e de como poderia ser muito bom, bastando para tal irem eles lá para o poder.

O idealismo exacerbado e míope colide com a força da realidade, e o que acaba sempre por acontecer depois é que o futuro nunca se desenrola como o tínhamos imaginado, e quanto mais o imaginamos à nossa maneira, mais os resultados são diferentes do que se esperaria.

Idealistas ignorantes temos hoje aos pontapés:

- Idealistas na política que prometem uma coisa mas depois a realidade afinal não lhes deixa fazer o que queriam.

- Idealistas nas relações amorosas que acham que a pessoa que conheceram recentemente é muito melhor do que o parceiro(a) que já têm. Depois "provam" e afinal não é aquilo que julgavam ser.

- Idealistas nas empresas que acham que o novo fornecedor desconhecido será sempre melhor do que o fornecedor que é leal há anos.

Enfim, o idealismo não deixa de ser um vício de raciocínio, baseado na nossa ignorância, em que apenas nos focamos numa parte da questão, a que nos interessa, e deixamos o resto de fora, como se não existisse.

E normalmente os idealistas só são idealistas porque vivem BEM, queixando-se sempre de tudo.
Há aquele exemplo clássico de que só valorizamos a saúde quando estamos doentes.
Pois quem padece de doenças e tem que se agarrar à vida com todas as forças, dificilmente é idealista, porque valoriza o que de bom a vida tem, e nada desperdiça, sobretudo em assuntos que não levam a lado algum.

Os ideais simplistas que vemos hoje serem defendidos na rua deveriam primeiro ser ensaiados num pequeno laboratório social, e depois dos resultados logo veriam o que lhes calhava na rifa. Acabavam-se logo os idealismos fáceis.

Para se ser um idealista a sério é preciso conhecer muito da história dos povos e muito do perfil intelectual do ser humano. Só depois de juntar muitas peças do puzzle é que o nosso idealismo pode ter alguma colagem à realidade.

Ser idealista só porque não gosto do prato que me põe à frente não é idealismo, é excesso de presunção e défice de vida.


Insinuações, difamações, registos humorísticos e lugares comuns são mais que muitos.
Mas ideais realistas que apelam à lógica das coisas, nem vê-los! (até porque nem cabem num cartaz)

Tiago Mestre

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