terça-feira, 5 de março de 2013

Portugal pede 15 anos, para já!

Pedir não custa.
Segundo a edição online do Expresso, Gaspar pede ao Ecofin mais 15 anos para estender maturidades de dívida que temos que pagar à Troika.

A medida em si é quase inóqua porque apenas atua na tesouraria e não na economia.
Mas acredito que este é o primeiro passo para que se transite da tesouraria para a economia.

Para já, e para não espantar muito a caça, acenamos apenas com uma alteração nos prazos de alguns pagamentos. Se no total forem 3 ou 4 mil milhões de euros que se pedirá para adiar, será muito.

Mas como já referi várias vezes, no final do período da troika, aproximadamente 50% da nossa dívida será detida por estes, e é aqui que teremos que espetar a faca!
Gaspar pode não acreditar neste cenário para já, mas se tiver capacidade de abstração e conseguir olhar para a floresta em vez de se focar apenas na síntese orçamental de cada mês, verá que Portugal está a esgotar a sua energia rapidamente.
Estamos a liquidar despesa corrente usando uma parte do património em vez de usar apenas rendimentos. Mais cedo ou mais tarde o património esgota-se, e pronto.

Oxalá que este passo seja o primeiro de muitos que nos irão "livrar" de mais de 70 mil milhões de dívida e 3-4 mil milhões de juros anuais.

Se o perdão fosse total já no final de 2013, o rácio Dívida/PIB desceria dos 130% do PIB aprox para 86%, e o défice, sem receitas extraordinárias à mistura, cairia dos 10 mil milhões (6% do PIB) para 6-7 mil milhões (3 a 4% do PIB).

Não nos resolveria os problemas todos, é certo, mas se pedíssemos ainda uma ajuda aos credores privados, talvez um haircut de 50% no pagamento de juros, poderíamos reduzir mais 3 mil milhões no défice, o que já daria um défice anual de 3 mil milhões aproximadamente, ou 1,8% do PIB.

Com mais alguma austeridade, nomeadamente cortes na Segurança Social (leia-se 20% nas Reformas e 20% em todas as outras rúbricas da SS), ou seja, 20% de uma despesa total de 22 mil milhões, teríamos 4,4 mil milhões de cortes na SS, o que já permitiria olhar para um superavit orçamental.

Se a isto juntássemos o corte nos 30 ou 40 carros do primeiro ministro, 300 ou 400 carros do conselho de Ministros, 1/3 da despesa da Assembleia e mais umas "merdas" que alguém com o mínimo de coragem conseguiria fazer sem grandes problemas, poderíamos avançar para mais uma poupança que rondaria sem grande dificuldade os 300 ou 400 milhões de euros anuais. Era dinheiro que a juntar ao superavit já existente nos permitiria pensar em baixar os impostos de forma séria e consistente.
Baixar impostos num valor de 1 ou 2 mil milhões anuais já daria para ver a diferença no recibo do ordenado e no preço dos bens finais.
Abolir o ordenado mínimo e começar a fazer charme no exterior de que estamos a baixar SUSTENTADAMENTE os impostos, em contraposição ao MEDO que o haircut provocaria aos credores privados, rapidamente estes o esqueceriam e não iriam querer perder o barco da reviravolta da economia portuguesa.

Era tão bom que a 31 de Dezembro de 2013 a dívida à troika estivesse toda perdoada...
Vai sonhando...

Tiago Mestre

6 comentários:

Pedro Miguel disse...

Sinceramente, perdão de dívida é coisa que não desejo.
Custe o custar, se fomos burros ao ponto de chegar a este endividamento temos que nos lembrar por muito tempo o que custa pagar.
Aceito de bom grado que os pagamentos sejam adiados e que os juros sejam aliviados de forma a ser mais fácil tomar as medidas certas.

O défice não se resolve com os carros, assembleias... não da forma por ti descrita.
O gabinete do primeiro ministro não têm 30 nem 40 carros, são menos, apesar daquilo que se vê na comunicação social. Não sei os números de automóveis atribuídos aos gabinetes ministriais.
Seria contudo bom ter carros mais baratos, de preferência dos apreendidos pelas diversas polícias.
Concordo com a redução do número de deputados, mas haverá votos suficientes para acompanhar o PSD nessa decisão? O PSD já o tentou várias vezes, é bom recordar.
A poupança nas contas da AR para o OE seriam mínimas, mas um contributo que somado a outros seria importante.
Outras poupanças importantes, a redução real das forças armadas, desajustadas e desnecessárias.

Seria interessante fazermos um apanhado de onde o Estado podia poupar, o que achas?
Mas devíamos ao mesmo tempo que propomos, apresentar motivos pelo que passaria ou não a proposta ou porque seria ou não perigoso para manter a opinião pública relativamente do lado da medida.
Era um bom contributo dos Viriatos.

Tiago Mestre disse...

Em tempos já comecei a fazer isso, não sei se ainda foi no Contas ou já nos Viriatos, mas como há tantas rúbricas, tantos institutos, tanto dinheiro que não se sabe bem para onde vai, torna-se complicado.

Se reparares no gráfico da SS, tens uma rúbrica "Outras Prestações" com mais de mil milhões e ainda esta "Outras despesas correntes", também de mil milhões.
É muito dinheiro, e faria toda a diferença se se soubesse o que isto é.

Estas 2 rúbricas somadas equivalem ao orçamento do Ministério da Defesa!

Ora, sugerir cortes na Defesa quando há 2 rúbricas "desconhecidas" na SS que lhe equivalem é complicado.

Em relação aos cortes em si na Defesa, tenho sempre alguma relutância nisso, apenas e porque são orgãos de soberania, tal como a justiça e as polícias. Mas esta minha opinião é mais do que discutível.

Cortar sim, mas saber muito bem o que isso implica, e mais ainda, perceber se faz a diferença ou não.

Em relação aos cortes nas assembleias, carros e por aí fora, estou de acordo contigo de que nem uma vírgula muda, mas se queremos ter o povo do nosso lado em momentos difíceis temos que dar o exemplo, temos que exigir mais a nós do que exigimos aos outros. O povo não se deixa, e bem, levar apenas por imposições, quer exemplos, quer líderes, quer gente que os faça acreditar que vale a pena fazer sacrifícios, nem que seja porque o líder os está a fazer também.

Em relação às inúmeras instituições superiores de ensino público, como politécnicos nas capitais de distrito e algumas universidades, considero que já não prestam o serviço à comunidade com que foram inicialmente pensados.
Talvez haja uma exceção aqui e acolá, como Leiria por exemplo, mas cada politécnico de província, por exemplo, custa em média 13 a 15 milhões por ano ao Estado, o resto é financiado por propinas e fundos europeus. Os alunos já não aguentam pagar, e sem alunos, a maioria seria para fechar. Beja, Portalegre, a própria Universidade da Covilhã, Tomar, Póvoa de Lanhoso, talvez Bragança, a Universidade da Beira Interior, enfim, era estudar caso a caso.

Poderiam era eventualmente alguns politécnicos substituir as escolas secundárias que não foram remodeladas pela Parque Escolar, e fechá-las imediatamente.

Se pensarmos um bocadinho, o que não falta são ideias.

Miguel disse...

Concordo com o que o Tiago disse.

Se analisarmos os variados ministérios desde a década de 80, podemos constatar a diferença e aumentos brutais em gastos.
A educação custava em 80 cerca de 3 mil milhões agora são quase 8... A saude idem, ss tb sempre a subir...curiosamente só os gastos referentes às forcas de segurança (militares e policia) é que vêm descendo ano após ano.
Claro que há sempre medidas a tomar, há muito por fazer em todos os ministérios.
Lanço um desafio ao Tiago:
Um gráfico com estas variações dos gastos desde a década de 80 por ministérios. Seria engraçado ver os aumentos e diminuições e que serviria para desmistificar muito do que se fala da comunicação "anti-social"

abraço

Miguel

André disse...

No Discutir Portugal já lancei umas ideias para onde cortar. Fiz inclusive uma proposta para cortar nos tais 4 mil milhões:

http://discutir-portugal.wikidot.com/forum/t-614538/cortar-mais-de-4-mil-milhoes-de-forma-permanente#post-1683741


E se virem deixei algures uma proposta para um processo de privatizações que pode muito bem se alargar às escolas, hospitais e à própria Segurança Social. Está baseado no modelo checo-eslováco, as privatizações por "cupões":

http://www.wikiberal.org/wiki/Privatisation_par_coupon

Pedro Miguel disse...

Eu quando falo em forças armadas, que seria uma poupança também relativamente simbólica, falo numa estrutura onde quase 80% dos gastos vão para salários.
Há mais chefias que militares:
http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/09/diapositivo1.jpg
http://www.operacional.pt/wp-content/uploads/2012/09/diapositivo2.jpg

18308 chefias para 17710 militares.

É preferível reduzir em muito o número de militares e chefias e ter dinheiro para que o material cumpra a sua função.

Na questão dos politécnicos e universidades acho que estás a ver mal a questão Tiago.
Os que existem próximos, tem que fundir cursos e vai haver poupança.
Mas os que existem no interior, não podem ser colocados todos no mesmo saco.
Além de importantes e impulsionadores de regiões pobres há vários factores a ponderar.
Mais justo e provavelmente mais barato para o Estado seria talvez fechar as universidades das grandes cidades para reforçar as do interior.
O custo de construir uma universidade é menor no interior, o custo de um aluno estar alojado no interior é menor (o Estado muitas vezes precisa ajudar).
O mesmo aluno tem mais impacto numa cidade do interior que numa cidade como o Porto.

Quanto às sugestões do André, vou dar alguns exemplos dos muitos que não concordo.
- salário mínimo para um deputado, quem iria aceitar?
Não sei se sabe, mas cargos de chefia mal pagos são sujeitos a maior corrupção.
Qual de vocês aceitaria ser deputado por 485 euros por mês?

Subvenções partidárias, esta é discutível, mas acredito que é melhor o estado financiar as campanhas do que os políticos irem buscar dinheiro a patrocinadores em troca de favores, mas claro, é discutível.

Algumas medidas concordo, outras discordo, outras são discutíveis, mas é um bom contributo.

A maioria dos cortes não os saberia justificar pro bem ou para o mal, é-me mais fácil pegar em valores de salários, pensões e reformas altas e dar-lhes um corte.

André disse...

Pessoalmente aceitaria ser Primeiro-Ministro de borla!

É certo que eu fui um pouco longe ao apresentar esta medida como permanente, é mais algo para o periódo em que vivemos. O ideal seria que os deputados tivessem salários elevados (tipo 3 ou 4 salários minímos), mas depois que não tivessem nenhuma ajuda para as despesas deles, a não ser um passe pessoal de transportes públicos (Carris e CP + TAP para os deputados das regiões autónomas e da emigração), e eventualmente algo como 1000 euros por mês para as despesas com material, fotocópia, para ter um assistante etc.

Subvenções partidárias devem acabar, os partidos que peçam aos seus militantes e aos grupos de interesse que os apoiam. Eu próprio sou militante do PSD e não me importaria de pagar mais para evitar que o partido roube a sociedade. As subvenções não os impediu de favorecer certos sectores em detrimento dos outros, logo porquê que toda à gente deve pagar igual?

Mas esteja à vontade para dizer em quê concorda ou discorda. Mais, esteja à vontade para propor o que quiser no Discutir Portugal