sexta-feira, 1 de março de 2013

Sporting - Clube Português

Sem querer entrar em discussões futebolísticas, tema aliás muito sensível ao povo masculino português, proponho-me a tentar perceber como conseguiu o Sporting chegar aonde chegou.

Segundo uma entrevista que li no Ionline a um dos candidatos a estas novas eleições, o Sporting consegue em média, gerar 1 milhão de receitas e gastar 5 milhões em despesas por mês.

Provavelmente este défice corrente não inclui venda de passes de jogadores, mas a ser verdade, todos os anos o Sporting tem que arranjar à volta de 400 milhões de euros em receitas extraordinárias e/ou mais endividamento. Não possuo dados acerca da evolução do passivo do Sporting, mas pouco interessa, já que sendo este o modus operandi, a tendência do endividamento é certamente para crescer muito e depressa.

Sem nos apercebermos bem, todos nós, portugueses e portuguesas, ficámos ingenuamente reféns dos milagres propalados pelo recurso ao crédito. Este permitia-nos trazer para o presente todos os sonhos que só era possível ambicionar num futuro distante. O prazer ficava no presente, o esforço de liquidar a dívida ficava para o futuro.

Caímos todos que nem uns patinhos, porque na esperança de que o futuro tudo resolva, fomos entalando cada vez mais o nosso presente, e ainda hoje, tanto nos media como em muitas franjas da sociedade, digamos mais elitista, o recurso ao crédito é FUNDAMENTAL para fazer crescer a economia.

Realmente o recurso massivo ao crédito até faz crescer a economia, mas é no início, quando ainda há pouco. Aí sim, por cada 1€ de dívida geramos 2,3 ou 4€ de PIB. E se o país exportar muito e importar pouco, então podemos chegar a valores ainda maiores.

O Sporting, em princípio liderado pela burguesia endinheirada e até por alguma aristocracia, revela que também esta franja da população portuguesa se deixou levar pelo cheiro a canela da dívida.
Complexos modelos financeiros importados do estrangeiro traziam a boa nova ao Clube do Leão.
O Sporting é o tubo de ensaio doméstico da Nova Gestão empresarial que a burguesia e a aristocracia importou, e que foi apreendida em MBA's, conferências, workshops, reuniões, etc, etc.

Mas quando já estamos saturados em dívida, em que 1€ de PIB já precisa de 3,4 ou 5 € de Dívida nova, pronto, o sistema atingiu o seu limite. Por muita insuflação que se faça, já não cabe mais dinheiro na sala, e normalmente é o credor a perceber a armadilha, deixando o devedor com as calças na mão.
Há aquela discussão de quem é responsável por perder o dinheiro: se é o credor ou o devedor, mas isso já é fim de linha.

O que acontece é que as relações de dependência entre ambos reforçam-se, e não é pela positiva. Segundo ouço dizer, o Sporting está nas mãos dos bancos.
Dito desta forma até parece que são os banqueiros os responsáveis pela atual situação do Sporting. É óbvio que eles são responsáveis, mas é pelo dinheiro que lá têm, e não pela gestão do clube. Se depois se querem imiscuir ou não na gestão é porque já têm uma relação de dependência tão grande em que tudo se confunde só para tentar salvar o dia.

Dada a promiscuidade entre as elites do Sporting e as elites dos partidos políticos do arco do poder, não é de estranhar que no plano da política as coisas não sejam muito diferentes. Para este pessoal, o cheiro a perfume da dívida compensa o cheiro a merda dos prejuízos. O nariz está avariado.

E um pouco por todo o mundo, muitos foram aqueles que nas suas funções de poder se deixaram levar pelo cheiro da dívida. À exceção de certos países em que ninguém lhes quer emprestar dinheiro, pouquíssimos são aqueles que sendo evoluídos possuem pouca dívida pública. Luxemburgo, Suécia e mais um ou outro país são dos poucos que mantêm dívidas públicas abaixo dos 60% do PIB e a quem toda a gente deseja emprestar.

É preciso ser um bocadinho asceta para dizer Não a uma tentação tão grande, mas há quem consiga.
Talvez o excesso de urbanidade e o défice em vivência rural tenha contribuído para este desregramento, já que conduziu as nossas mentes a desligarem-se dos processos físicos e limitados com que a Natureza nos confronta diariamente.

Na cidade, os desmandos da Natureza ficam relegados para segundo plano. Talvez seja a dívida criada a partir do nada o cúmulo da vida em urbanidade. É o artificial a impôr-se ao natural em todo o seu esplendor. Mas o problema da urbanidade é que a Natureza não esquece o quanto a estamos a manipular, não perdoa a dívida que temos para com ela, e quanto mais abafamos o seu ímpeto, mais ela enche. Temos sido muito ardilosos em adiar o dia do reencontro. Veremos até quando.

No Sporting, parece que o dia do reencontro já esteve mais longe.

Tiago Mestre

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