quinta-feira, 18 de julho de 2013

O perímetro orçamental alarga-se

Na edição online do jornal I surge uma notícia com o seguinte título:

"Empresas públicas ameaçam agravar dívida pública em 5500 milhões de euros"

À primeira vista parece um contra-senso, já que se as empresas são públicas, então a dívida também é pública. Mas não.
Com as jogadas de desorçamentação que se fizeram há uns anos, muitas empresas públicas totalmente falidas ficaram de fora da contabilização do défice e da dívida pública.
E olhos que não vêem, coração que não sente.
Continuaram a dar prejuízo ano após ano, recorrendo ao endividamento para financiar a atividade deficitária da empresa.
No final de 2010 houve transição da dívida da Refer, MPorto e MLisboa para a esfera pública, agravando a dívida em mais uns pontos percentuais. Mas ainda faltam algumas, como a Carris e a CP, e parece que já intenções da União Europeia (e bem) de alargar o perímetro..

Apesar de ambas estarem completamente falidas há muitos anos, a CP ganha destaque pelo facto de conseguir introduzir nas regras de gestão novos pseudo-dogmas na ciência económica, nomeadamente faturar à volta de 300 milhões de euros por ano e ter uma dívida consolidada de mais de 3 mil milhões de euros. É 10 vezes mais.
Outro fenómeno que merece destaque é ter um ativo que ronda os 1,3 mil milhões de euros e um passivo de 4,2 mil milhões, resultando num capital próprio negativo de 2,9 mil milhões de euros. Aplicar o termo FALÊNCIA às contas desta empresa é um elogio.

Toda esta insanidade a que chegámos é fruto de muita negligência e incapacidade técnica na análise da realidade que se perpetuou durante décadas.
Como não se resolveram os pequenos problemas no dia-a-dia ao longo dos anos, a dimensão deles cresceu, tornando agora o processo de resolução quase impossível, já que o Estado não tem capitais para repor a diferença.

Caso as dívidas da CP entrem na esfera pública, que era o que deveria ser desde sempre, poderemos acrescentar 3,7 mil milhões de euros aos já existentes 204 ou 205 mil milhões de dívida pública.

Bingo. E é assim que os problemas explodem nas nossas mãos quando não os acautelamos a tempo.

Tiago Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais vale que os esqueletos saiam todos da cartola, de uma vez! Para podermos à vontade dar o default, sem medos. Depois logo se vê. Uma limpeza é sempre bom. E que tal esses (pseudo)gestores de empresas públicas irem sentarem o traseiro no banco dos réus!

vazelios disse...

http://www.zerohedge.com/news/2013-07-18/bernanke-passes-buck-contained-student-debt

The clock is ticking.

E mais uma vez, menosprezam as bolhas Keynesianas