sábado, 24 de agosto de 2013

"Meter o socialismo na gaveta"

Diz o meu vizinho que "o grande problema deste protetorado [Portugal]" é a falta de socialismo. Acrescenta ele que o que está mal é "esta miudagem que meteu o socialismo dentro da gaveta". 

É verdade, o que nós precisamos é mesmo de mais socialismo, até porque não chega ter o Estado a gastar metade do PIB. É preciso mais, 70%, 80% e porque não 90%...


E lá está o mestre a dizer uma verdade: "O socialismo é a filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja. A sua virtude inerente é a igual partilha da miséria."

O que me custa a perceber é o facto de ele não ser nem funcionário público, nem reformado, nem desempregado. Mas vá-se lá entender as pessoas, de resto é um tipo porreiro. 

Mas vamos à questão: "o problema de Portugal é ter colocado o socialismo na gaveta". Esta expressão, "socialismo na gaveta" é utilizada muito frequentemente em relação ao 'bochechas' Soares na gestão da intervenção do FMI em 1983-1984. Também já a vi associada ao Guterres e ao Sócrates. O que eu nunca vi foi alguém dizer que se meteu o "Liberalismo na gaveta". E porquê? 

Porque o Liberalismo, ao contrário do socialismo, está de tal modo assente na realidade que funciona perfeitamente em qualquer altura: seja em expansões, seja em recessões. Não muda as suas premissas com as circunstâncias temporais. É íntegro em si mesmo. 

Já o socialismo, não. O socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros. E mesmo em épocas de expansão o socialismo só funciona se houver, externamente, um mercado capitalista pronto a financiá-lo... Para os socialistas, um dia devemos copiar o modelo nórdico, no dia seguinte já são as auto-estradas o nosso futuro! Depois são as energias renováveis e o aumento da despesa pública, depois é o turismo... Depois é o mar, depois são as exportações, depois é o setor transacionável, depois são as empresas de cariz tecnológico. Agora é a reabilitação urbana... afinal em que ficamos? Decidam-se!!

Já a solução que o Liberalismo apresenta para as recessões é a mesma de sempre (e nunca ninguém provou estar errada, muito pelo contrário): cortar na despesa pública, baixar impostos, diminuir o poder estatal, deixar o livre mercado "curar" as feridas e restituir outra vez o crescimento económico, desta vez sustentável.

Dito isto, o meu vizinho mudou de discurso: "O problema não é o socialismo, o problema mesmo é a miudagem corrupta que para lá anda... se lá estivessem indivíduos competentes seria diferente". Vou destacar uma citação de Margaret Thatcher:


"A system of state control can´t be made good merely because it is run by 'clever' people who make the arrogant assertion that they 'know best' and that they are serving the 'public interest' which of course is determined by them. State control is fundamentally bad because it denies people the power to choose and the opportunity to bear responsability for their own actions."
Foi exatamente o que lhe disse: se estivessem pessoas competentes à frente dos órgãos públicos, até podíamos estar ligeiramente melhor, mas no essencial estávamos na mesma. Era capaz de não se ter construído tantas auto-estradas? Era. Mas em vez disso tínhamos outro buraco qualquer a moer-nos o juízo. Isto porque o Estado não tem condições de prever o que vai ser necessário construir ou a melhor forma de aplicar os recursos. Ele não é omnsciente, não dispõe de toda a informação necessária para dirigir os processos económicos, isso foi demonstrado por Hayek. E na presença de um Estado todo poderoso, o sistema de preços vai mingando e, mingando, perde-se a forma de gerir os recursos o mais eficientemente possível, pois perde-se toda a informação e incentivo que o sistema de preços transmite ao mercado. Isto foi demonstrado por Mises. 

Este é, a meu ver, o maior problema da sociedade portuguesa: pensar-se que esta dimensão do Estado é uma fatalidade, não é. E pensar-se que mudando os protagonistas tudo volta ao normal, não volta. É o sistema que está errado, não as pessoas que nele atuam.

Atira ele: "Mas se isso é assim, como explicas o facto de termos 3 partidos de direita e 2 de esquerda? Se essa tua conversa fosse verdade, estávamos mais que bem". Dei uma gargalhada monumental. Disse-lhe: "Senta-te, que o que vais ouvir vai ser trágico para ti! Em Portugal não há um único partido verdadeiramente de direita [direita no sentido inverso a esquerda: defender menor estado e maior liberdade individual]". "O BE e o PCP são claramente de extrema-esquerda. O PS fartou-se de aumentar a despesa e dívida pública, chamas isso de direita? O CDS quer cortes na despesa pública desde que não se corte na despesa pública. É contra a privatização da RTP e da CGD. O Portas tinha de apresentar os cortes de 4700 milhões de euros em Março. Já os viste? Eu não. O CDS quer diminuir impostos, mas apenas à custa de mais défice e dívida o que corresponde necessariamente a mais impostos no futuro. Portanto, é claramente um partido de esquerda. Conservador, mas de esquerda. Nem sempre os conservadores são adeptos da menor intervenção estatal, muito pelo contrário, grande parte das vezes eles querem ver o estado a proibir comportamentos que eles não gostam (casamento homossexual). É pura mentalidade socialista. O último caso e mais complicado é o do PSD. O PSD é de génese um partido social democrata devoto das políticas do estado social nórdico. No entanto, há uma facção do PSD que quer menos impostos e menos despesa pública. É pelo menos o único sítio onde vejo algum "liberalismo" ainda que haja no partido muitos "Filipes Menezes" e "Albertos Joãos"."

Acrescentei-lhe mais um coisa: "Não tenho problema nenhum que sejas socialista. Desde que não me forces nem a mim nem a quem não o quer a sê-lo. Junta-te com os teus camaradas e criem um estado entre vocês com impostos e contribuições apenas pagas por vocês! E quem não quiser que vá ao ensino e saúde privados. Se queres viver em socialismo estou completamente à vontade. O problema é mesmo o de forçar os outros a entrar no sistema. Eu quero viver em liberdade."

E volto a afirmar: tentar resolver os atuais problemas deste país com socialismo é como tentar apagar um incêndio com gasolina. A não ser que sejamos pirómanos. Mas espera lá... o Krugman é pirómano! Segundo o mesmo, catástrofes naturais = crescimento económico!

Para o bem de todos, é bom que o socialismo esteja lá bem dentro da gaveta e, se possível, fechada a cadeado. 


Bernardo Botelho Moniz

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora, ora.
Eu sou funcionário público e não quero mais socialismo.