Grande controvérsia no anúncio publicitário do Colégio Militar, em que grandes vultos da socialite portuguesa e ex-alunos do CM, claro, perguntam:
"Querem matar o Colégio Militar. Porquê? Porquê?"
Tanto quanto sei, ninguém quer matar o Colégio Militar. O que o Ministério da Defesa quer, isso sim, é fundir o Colégio Militar com o Instituto de Odivelas, nos terrenos atuais do Colégio Militar.
Aparentemente, o pessoal do Colégio Militar não quer isso, e portanto julgam que os estão a matar. Simples.
Mas para quem conhece o terreno do CM e analisa de forma desapaixonada esta questão, a convivência de meninos da Luz com meninas de Odivelas é perfeitamente possível sem estarem em cima uns dos outros!
O pessoal do CM alega que, com esta decisão, 2 séculos de tradição poderão perder-se, e as coisas já não serão o que eram. Pois, isso é verdade. Mas há mal algum em que as tradições mudem? NÃO.
Nos Pupilos do Exército já há regime misto, rapazes e raparigas, bem como internato e semi-internato, ou seja, há vários anos que o IMPE se abriu à comunidade e aos novos tempos, sem que com isso viesse mal ao mundo.
Estou relativamente à vontade para escrever sobre este assunto porque sou ex-aluno dos Pupilos do Exército e conheço minimamente a realidade destas três instituições militares de ensino.
Já no final da minha carreira académica no IMPE se falava na abertura do semi-internato do 5º ao 12ºano. A falta de alunos para o regime de internato era mais do que evidente, mas toda a gente se opunha à ideia, alunos incluídos, e porquê? Por causa da tradição que vinha desde... 1911 !
Hoje há semi-internato, e imagine-se, regime misto. Profetizar há 15 anos que hoje os Pupilos seriam assim dava em sacrilégio.
O que é mau no meio disto tudo é que os custos destas três instituições, por aluno, excedem várias vezes o custo do aluno do ensino público, e na minha opinião, face à perda de alunos que estas três instituições têm vindo a sofrer, bem como à necessidade de cortar em despesa, eu consideraria a fusão das três instituições num só espaço, e não a manutenção do CM/IO e do IMPE.
Todas elas prestam o mesmo tipo de ensino, e espaço físico não falta no Colégio Militar ou nos Pupilos.
Curioso/preocupante é ver a incapacidade das ditas personalidades em reconhecer os novos tempos e em perceber que as mudanças não podem ser só na casa dos outros. Se queremos ser coerentes, temos que a aceitar na nossa própria casa por muito que isso nos custe, ou então toda esta gente que já deu nome a não sei quantas ruas está muito longe de serem verdadeiros estadistas, não passando de velhos do Restelo que tudo fazem para manter o seu status quo.
Tiago Mestre
2 comentários:
“Se queremos ser coerentes, temos que a aceitar na nossa própria casa…”
“…velhos do Restelo que tudo fazem para manter o seu status quo…”
Caro Tiago Mestre
Inteiramente de acordo com o seu Post.
Permita-me apenas algumas “correcções”:
A “nossa casa” só é nossa quando somos nós a pagá-la.
Quando quem a pagou, e quem a sustenta são terceiros, neste caso contribuintes líquidos do OGE (como é o meu caso), os seus utilizadores são “inquilinos”.
Espera-se, no mínimo, que esses “inquilinos” respeitem a propriedade de terceiros e o esforço financeiro que esses terceiros, pelos vistos, têm suportado.
Esses anúncios que tem aparecido na televisão até me enojam.
É graças a “patriotas” daquela laia que chegámos ao estado em que estamos.
Quanto à figura de “Velho do Restelo”, criada por Camões, na minha opinião, não é aplicável neste caso.
Do que me lembro do meu estudo dos Lusíadas (e já vão umas dezenas de anos), a figura do Velho do Restelo, pretendia chamar a atenção, que em todos os novos empreendimentos ou aventuras, deve haver respeito pela nossa história e tradição.
Não me parece que o Velho do Restelo de Camões tivesse alguma semelhança com os “alimentados pela manjedoira do OGE” que eu vi reclamar.
Tens razão:
A expressão "nossa casa" é um exagero e reflete bem o sentimento de posse que muita gente (como eu) tem acerca daquilo que não é seu.
Usei a expressão Velho do Restelo recorrendo à conotação popular atual:
Alguém que tem dificuldade em aceitar a mudança e que tudo faz para manter o seu posto, não olhando ao mal comum que está a provocar.
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