quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Priscos e a Europa
Por José Manuel Moreira,
É verdade que por aqui perdura o roubo em igrejas, mas ainda ninguém lhes ateou fogo, ou teve arte para urinar em altares ou enfiar um crucifixo no ânus para provar que o cristianismo é uma "religião de ódio".
Mas podemos lá chegar! À classe de vanguarda, que anda por aí nos media, cabe a missão de abrir as nossas mentes ao desenraizamento, como já aconteceu nas escolas, e agora grassa no quotidiano. E a quadra natalícia serviu para avaliar o tempo que falta para consagrar em lei a expressão "Feliz Natal" como insulto: a permitir, quiçá, só em recinto fechado. Entretanto, para não ofender ninguém, o "Feliz Natal" vai dando lugar às genéricas "Boas Festas" e o Pai Natal ao autismo hedonista.
Hoje, Priscos (Braga) quer dar corpo mediático ao maior presépio vivo da Europa, mas, há pouco mais de um ano, foi lugar de encontro para fomentar o diálogo inter-religioso. A iniciativa, da "Capital Europeia da Juventude", obrigou a refeitório comum, onde, para ninguém se ofender, não se serviu carne de porco e de vaca.
Uma ementa ("sem ofensas") que contradiz o desejo de que os líderes das 32 confissões mostrassem a história e os princípios de cada religião. Mas que se compreende à luz do pseudoliberalismo neutralizador do Estado de Bem-estar, que tende a intervir em tudo e a tudo burocratizar a contento do vanguardismo e suas clientelas. Uma luz que levou o pároco, um dos organizadores, a apoiar uma ementa que apaga a marca da terra: o pudim Abade de Priscos. Iguaria que, com tantos ovos e presunto, além de açúcar e vinho do Porto, acabará em breve proibida pelo neutralismo progressista.
Será Priscos ponto de encruzilhada de duas visões da Europa? Uma que aviva a origem das nossas raízes e afirma o que é único e exclusivo de cada região. E outra que vê no tradicional uma ofensa, um mal, que obriga a normativos que liquidam as singularidades, próprias de cada terra e suas gentes, que dão história, coesão e propósito a uma sociedade universal e plural.
Um mal que cedo impregnou a arte e se revela na recente proposta de retirada de um nú ("Juno") do artista barroco G. E. Schröder - há 30 anos na sala de jantar do Parlamento sueco - por poder ofender visitantes islâmicos e feministas.
Voltando ao nosso ponto: queremos uma Europa com milhares de aldeias de Priscos, todas com suas ricas e vivas tradições ou a normalização imposta por políticas da UE cada vez mais anti-europeias? Não serão os movimentos identitários sintoma de um conflito neste caminho de "progresso na decadência", que está a levar mesmo o "tuga" do eduquês, talvez por remorso, a já não sentir tanto ódio ao herdado? Como aconteceu com um técnico de informática que, chamado a casa de alguém, ao deparar com farta biblioteca, logo se defendeu: "Nunca li um livro na minha vida, mas não critico quem leia".
aqui
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário