sábado, 29 de dezembro de 2012

Défice de 5% do PIB em 2012: sim ou não?

À falta de melhores notícias, podemos sempre especular sobre se o défice será atingido ou não em 2013.

Ouvi ontem o programa Contraditório na Antena1, e uns convidados achavam que sim, outros achavam que não, e se formos acompanhar os múltiplos programas que passam na rádio e na televisão, haverá sempre quem se incline para a esquerda e quem se incline para a direita.

Passos Coelho diz que acredita que sim, e como essa afirmação induz-nos a ideia de que estamos QUASE lá, para os pessimistas e oposicionistas o quase não é suficiente, e para os otimistas é exatamente o contrário.

Tudo isto não passa de espuma e mais espuma.
Independentemente do défice atingir os 5% do PIB ou não, o que é importante saber é que em 2012 a despesa total aumentou face a 2011, com a SS a liderar as perdas.

Mas como o incremento de receitas extraordinárias é brutal, tanto pela venda de empresas como pela incorporação dos fundos de pensões, tais factos podem, mesmo assim, compensar o aumento da despesa e a queda do PIB, fixando o rácio défice/PIB nos 5%.

Fundos de pensões + privatizações da ANA/EDP/REN e outras vendas que tais equivalem a uma receita extra de 6 mil milhões de euros ou até mais.

Se o défice se fixar pelos 5% do PIB, equivalerá a um prejuízo de 8,1 mil milhões de euros.

É evidente que o peso das receitas extraordinárias (6 mil) é a força que verdadeiramente comanda a realização do défice ou não (8,1 mil).
Tirando estas receitas extraordinárias, o défice dispararia dos 8 para os 14 mil milhões, que é, na minha opinião, o DÉFICE QUE DEVERIA CONTAR, porque de outra forma só nos andamos a enganar uns aos outros com toda esta lenga-lenga.

Mas de facto, toda esta conversa fiada associada a tanta manipulação nas contas só revela que atravessamos caminhos muito conturbados, em que para se manter minimamente o status quo, todas as aldrabice contam e todas as trafulhices valem, desde que se atinja o resultado desejado.

Estes são os sinais que indiciam uma certa falência do regime, já que quando relativizamos demasiado os meios para tentar atingir os fins, isso significa que os princípios, os valores, há muito que ficaram para trás.

Enganar para conseguir atingir é hoje prática corrente, e ninguém no espectro político português e europeu se levanta contra este modo de fazer as coisas: o que importa é superar a crise, custe o que custar, viole-se o que se tenha que violar.

É claro para mim que mais cedo ou mais tarde tudo isto irá fazer ricochete, aliás, já está, com a recusa da sociedade e da economia privada em acompanharem todo este desequilíbrio.
As pessoas não gostam de ser enganadas, e retraem-se, escondem-se, enganam também quem podem, na tentativa de sobreviverem, e tudo somado, há menos transações, há mais fuga, há mais falências, há mais desconfiança, e no fim, menos esperança de que isto possa dar a volta.

Quem não esperou pela esperança, já saiu, já emigrou, e quem cá continua tenta agarrar-se à fé, que é uma espécie de esperança ainda mais desinformada, de que as coisas podem dar a volta dentro de 2 ou 3 anos.

Já ouço isto desde 2007, que virão aí 1 ou 2 anos complicados, e que quem sobreviver a esta tempestade é que ficará bem.
Enfim, as pessoas sabem pouco do que estão a falar porque não olham para os números, ficando-se por estes lugares-comuns, enganando-se uns aos outros sem quererem.

Baralhando novamente:
Para o Estado ter "apenas" um prejuízo de 8,1 mil milhões em 2012, teve que captar receitas extraordinárias a rondar os 6 mil milhões.
Veremos o que é que se arranja para 2013: GALP?

De uma coisa já sabemos: o OE2013 diz-nos que a despesa total do Estado aumentará em mais 2 mil milhões de euros, culpa da SS, claro, face a 2012.

E assim, vamos vendo ano após ano o que é que se vai arranjando.

Tiago Mestre

2 comentários:

Carlos Rebelo disse...

De bolha em bolha, até ao estoiro final.

Sérgio disse...

Os números são tramados, sempre que se tenta enrolar na conversa e fazer de conta que se conseguiu alguma coisa, lá estão eles para dizer que assim não vamos lá... nem lá perto! Infelizmente o futuro é sombrio.