domingo, 16 de dezembro de 2012

Nos EUA, o suicídio é precedido de um genocídio público, de preferência com câmaras a gravar

O massacre que ocorreu nos EUA esta sexta-feira foi grave e na minha opinião quem escreve/comenta sobre este tipo de assuntos deve ter algum cuidado em não banalizar o fenómeno ocorrido.

Li vários artigos/comentários nas edições online dos jornais portugueses, e aparece de tudo.
Há quem aponte como causas:

a proliferação generalizada de armas,
os vídeo-jogos,
perturbações mentais do assassino, em particular com síndrome de Asperger.

Não acredito que sejam estas as verdadeiras causas. Quanto muito são catalisadores de comportamentos "desviantes", mas não mais do que isso. E porquê?

Porque em muitos outros locais do planeta, para não dizer quase todos, também há proliferação de armas, vídeo-jogos e gente com síndrome de Asperger.

Tem que haver algo mais, e do pouco que eu percebo disto, sinto-me inclinado a acreditar que as verdadeiras causas prendem-se com o tipo de cultura que se está a "construir" nos EUA, a saber:

Quem é "inocente" deve ser protegido dos outros.
Quem é "normal" deve ser protegido dos anormais.
Quem se insere na sociedade desenhada pelos planificadores deve ser protegido daqueles que nela não se inserem.
Quem é potencialmente ameaçador deve ver a sua liberdade de movimentos restringida.
Quem foge à lei, rapidamente passa a representar o MAL, e quem cumpre, representa o BEM, independentemente do mérito judicial da lei.
E quem chora, mama, e muito. O Estado americano é hoje uma mega-máquina de solidariedade social, basta olhar para o crescimento do Food-Stamps. Perpetua-se a miséria (chora-se) para continuar a receber sem ter que trabalhar (mama-se).
No filme Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, quando a Hilary Swank oferece uma casa nova à mãe, esta rejeita-a porque dessa forma perderia os subsídios a que tem direito por viver numa... caravana e estar desempregada.

E com tanta proteção para com os BONZINHOS QUE CUMPREM e ostracização para com os ANORMAIS QUE SÃO ERRÁTICOS, está-se mesmo a ver que tipo de semente cresce dentro destes:
ÓDIO, só pode!

Se o miúdo massacrou uma escola inteira, tal faz-me pensar que massacrado já ele era por dentro. Apenas extravasou para o exterior aquilo que o consumia por dentro: esse mesmo exterior que o destruía como ser humano.
E como havia armas à mão, optou pelo espetáculo público em vez do suicídio silencioso.

Mas não são só os garotos erráticos que rebentam. São muitos adolescentes sem perspetivas nenhumas de vida e são também professores que lecionam a esta gente. E são muitos outros que me escapam agora.

Quando as elites desejam e tentam construir a sociedade perfeita, "arrumando para o canto" quem é marginal, e protegendo quem não falha e é inocente, não me estranha que haja explosões individuais desta natureza.
É o protestantismo social em todo o seu esplendor, ignorando as raízes da natureza humana e esquecendo que foi a livre iniciativa e a liberdade de poder errar e de acertar que fez dos EUA a potência económica que foi, mas que começa paulatinamente a deixar de o ser.
Se querem abolir as asneiras humanas terão mesmo que meter a malta toda numa gaiola, com câmaras de vigilância e mecanismos de punição automáticos. Mas depois não se queixem nem fiquem perplexos por haver suicídios coletivos.

Não sou a favor do crime nem da prevaricação, antes pelo contrário, mas vejo que a febre criminalizadora e de ajuste de contas em termos sociais que os políticos promovem na praça pública começa a produzir resultados que levam ao colapso de homens e mulheres que vêm o seu espaço de liberdade ser quotidianamente reduzido.
O mesmo tipo de reação acontece a qualquer outro animal quando vê o seu microcosmos ameaçado.

A tragédia ficará para sempre gravada nos pais e nos familiares destas vítimas. A vida que tinham e que levavam, tal e qual como a conheciam, acabou.

Enfiar os comportamentos dos Bons numa tabela em Excel e dos Maus noutra tabela pode muito bem dar nisto.
Tudo se tabela, tudo se quantifica, tudo se legisla, tudo se controla.
Não é fascismo, não é comunismo, é uma coisa meio híbrida. Capitalismo é que não é de certeza.



Aguardamos pelas novas medidas do governo norte-americano na tentativa de evitar situações destas no futuro, ou seja, mais medidas de segurança:
Murar todas as escolas e revistar toda a gente à entrada
1 Drone em permanência por cima de cada escola
Câmaras em todas as salas de aula e corredores
Revistar na rua qualquer cidadão que "aparente" possuir armas
Deter sem acusação cidadãos suspeitos
Instalar localizadores GPS em todos os carros
Câmaras em comboios, autocarros, aviões, etc.

Nada disto evitará o que aconteceu, e como consequência inesperada, gerará ainda mais indivíduos como este massacrado que massacrou.

Na Europa, e em Portugal em particular, estas correntes pan-criminalizadoras começam a chegar. A mais recente vontade da Ministra da Justiça em querer criminalizar o enriquecimento ilícito sem formar prova do ato ilícito que gerou esse enriquecimento, exigindo ao rico que seja este a provar inocência da sua riqueza, é tão só um pequeníssimo dos muitos exemplos desta doideira em querer controlar tudo e todos que invadiu as mentes daqueles que julgam ter o poder.

Tiago Mestre

6 comentários:

Filipe Silva disse...


O que leva a estes massacres não faço ideia, não vivo lá por isso não posso opinar.

Agora podemos opinar é que nos USA em 2010 morreram 378 pessoas por motivo de uso de arma, mas morreram 750 por motivos de luta corpo a corpo, e 1000 por uso de facas/bastões.

Logo dizer que a cultura das armas é que mata, é ridiculo, Guns dont kill people, people kill people.

Além do mais, onde esta o Obama a chorar quando um Drone ataca um pueblo no paquistão ou noutro sitio e mata dezenas de pessoas e crianças?
Onde está a tristeza e revolta por terem sido mortos mais de 1milhão de iraquianos desde 2002?

É ridículo, mas para mim vale tanto a vida de um português, como a de um iraquiano, ou americano.


O problema é muito do que o Tiago diz, muita manipulação e pressão social para seres de determinada maneira, pelo que leio e vejo, nos USA se não és conforme o que é apregoado sofres, principalmente no High school, com os grupos, dos nerds, jocks, emo´s, etc...

Muita pressão social que depois poderá dar nisto

Vivendi disse...

Nada como ter esta comunidade de Viriatos para perceber como as coisa são.

Querem que os seres humanos sejam melhores? Então lhes deem menos socialismo e mais preparação espiritual.

Anónimo disse...

E não é que me estou a concencer que as vivencias puberes do Vivendi foram num seminário socialista - tipo seminário dos olivais?

Vivendi disse...

Ahhaha!

Não meu caro anónimo. A minha adolescência foi livre como a de poucos. O país e o ocidente é que se deixaram capturar pelo socialismo e não param de querer restringir a liberdade das pessoas todos os dias.

doorstep disse...

Uhfff! Que alívio (sobretudo para si...)!

Mas continuo perplexo: se a sua adolescência foi livre "como a de poucos", donde lhe vem esse voluntarismo daninho, que se manifesta pela vontade compulsiva de querer que os muitos mudem?

Sempre pensei que o activismo que visa "criar o bem dos outros" fosse monopólio das extremas esquerda e direita. Mas o Vivendi - que eu acredito liberal e tolerante - baralha-me de todo...

De qualuqer forma, parabéns pela adolescencia!

Vivendi disse...

Caro Doorstep,

A resposta é simples...

Liberdade. Agora não quero nem preciso que todos concordem comigo. Me basta que cada um seja livre à sua maneira.

Afinal de contas foi o povo que enterrou Portugal ou foram os governos? A resposta é clara como a água.