O Banco de Portugal revelou ontem o seu boletim estatístico, documento que aliás muito prezo pela quantidade de informação disponibilizada.
O que lá vem escrito já não é novidade nenhuma para nós:
A dívida pública na ótica de Maastricht situa-se nos 203 mil milhões de € em Dez-2012, ou seja, já bem acima dos 200 mil milhões, ultrapassando certamente os 120% do PIB. Em Janeiro andava pelos 190 mil milhões.
Os meus receios de que a dívida superaria os 200 mil milhões em 2012 estão confirmados.
São estes os resultados objetivos da austeridadezinha, e que sempre referi que não seria suficiente, tal é a dimensão do animal. Falta a austeridade a sério.
Nas empresas privadas a dívida mantêm-se nos 306 mil milhões, à semelhança do valor registado em Setembro pelo BdP.
Nas famílias, a tendência de redução parece-me já algo evidente: 168 mil milhões em Dezembro contra 168,7 em Setembro, e contra 174 em Jan.
Num ano, as famílias reduziram o seu endividamento em 6 mil milhões de euros. É obra.
Tudo somado, incluindo empresas públicas, temos 257 + 306 + 168 = 731 mil milhões de dívida total, ou 437% do PIB.
Se a taxa de juro média for de 5% para todo este stock, em 2012 tivemos que libertar aprox 36 mil milhões só para juros, equivalente a 22% do nosso PIB.
Basicamente, utilizámos entre 1/4 e 1/5 do nosso PIB para liquidar juros em 2012 !
Mas há notícias boas na imprensa:
A dívida a 10 anos baixou dos 7%. E isso é que é importante, porque significa que iremos regressar aos mercados da dívida em 2013, se Deus quiser. Mas eu não sei se Deus quer. Eu não quero!
Com os números e rácios de dívida que acima referi, não posso sequer considerar o que há de positivo em regressar aos mercados de dívida. Só se for para nos estatelarmos outra vez.
Ahh, mas esperem. Temos o BCE preparado para comprar tudo o que mexe e que cheire mal, atenuando a desconfiança dos investidores.
Se é assim, para quê então preocupar-me com rácios, dívidas e fundamentos? Para quê fazer contas? Para nada.
Como o juro já vai abaixo dos 7%, está tudo bem, certo?
Tiago Mestre
13 comentários:
Bom dia Tiago,
estou a falar de memória e posso estar enganado, mas o regresso aos mercados em 2013 é para para pagar dívida que vence.
Independentemente dos progressos que haja ou não, essa dívida vai vencer e é preciso pagar com dívida. Se o juro da renovação foi mais baixo, então melhor.
Só por si, se isso acontecer, significa uma melhoria ao nível do défice das contas do Estado.
Não estou tão optimista como o Pedro Miguel!!!
penso mesmo que se "Voltarmos aos Mercados de Dívida", é para comprar champanhe do mais caro, e "festejar"!
está aqui um link que era útil publicar aqui no Viriatos... até no seguimento de outro post sobre ciclos económicos. Para aprender, e ficar boquiaberto!!!
http://youtu.be/mHLskCx4HaI
este homem percebe disto... no bullshit!
espero que gostem
Mas sem recorrermos aos mercados, a juros mais baixos, e sem assistência financeira, consegue o país continuar a funcionar?
Eu acho que temos sempre de nos endividar porque o dinheiro que geramos cá dentro não chega.
A ciência é, cortar cortar corta gastos, pagar dividas que se vencem e para isso é preciso recorrer a mais divida.
O essencial é cumprirmos com os compromissos e endividarmo-nos ao menor custo possível.
Eu não concordo com o recurso à divida recorrentemente, mas penso que nesta altura não é possível não o fazermos! Temos é de a renovar com custos mais baixos!
Ou então qual é a solução? Cortarmos até nos conseguirmos governar com o que temos? Era o ideal mas parece-me utópico no momento, dada a percentagem de divida que temos e à velocidade a que este ajustamento se está a fazer...
(ainda não vi o video do deathandaxes pode ser que me responda a esta questão)
Obrigado pela partilha
Vamos ver por outro prisma, sem ser sempre negativos, as coisas nao estão melhores que no inicio do ano???
Algumas coisas estão melhores e outras piores. É assim a vida...
O maior problema está na aventura fiscal de 2013 e o tipo de corte na despesa que está a ser preparado.
sr Tiago: Estamos a adiar a nossa saída controlada do euro,pessoalmente, penso que vamos sair descontroladamente e aí vai ser mais doloroso. O euro está condenado.
sr Tiago: Estamos a adiar a nossa saída controlada do euro,pessoalmente, penso que vamos sair descontroladamente e aí vai ser mais doloroso. O euro está condenado.
Caro Pedro,
Tempo é dinheiro.
Quem está a ficar com a dívida pública portuguesa? Os bancos portugueses. E em Espanha? Os bancos espanhóis. E na Grécia? Os bancos gregos...
O último fecha a porta.
Vivendi, não é completamente verdade que sejam apenas bancos portugueses:
"Investidores internacionais aumentam exposição à dívida pública em 2,5 mil milhões de euros.
Os investidores internacionais voltaram a reforçar na dívida pública portuguesa em Outubro. Um mês antes, os investidores estrangeiros aumentaram a exposição à dívida soberana nacional pela primeira vez desde o pedido de resgate do país, em 605 milhões de euros. Uma tendência que é agora confirmada pelos dados ontem divulgados pelo Banco de Portugal. Em Outubro, os investidores estrangeiros voltaram a reforçar a sua exposição em 1,86 mil milhões de euros, elevando o investimento líquido para 2,5 mil milhões nos últimos dois meses. "
Boas Pedro Miguel,
Consegues indicar qual é o peso atual dos estrangeiros em relação ao total na dívida soberana nacional?
Vivendi, não sei onde estão esses dados, mas irei procurar.
O que quis mostrar foi que de acordo com as informações mais recentes há um retorno da compra da dívida por estrangeiros e que não são apenas os bancos nacionais.
Vivendi, podes ver alguns dados nestes artigos:
http://www.auditoriacidada.info/article/os-donos-da-d%C3%ADvida
http://expresso.sapo.pt/quem-sao-os-maiores-credores-da-divida-publica-portuguesa=f662512
Na realidade o “resgate” a Portugal, que nós estamos a pagar da forma que se sabe, é o resgate de bancos europeus que emprestaram acima das suas possibilidades.
Esta última frase do artigo do 1º link diz tudo. Há-de chegar o dia que as dívidas deixarão de ser sistémicas para a banca do norte.
Mas como é estranho dever tanto e ao mesmo tempo a dívida ser ainda tão mais obscura. E é bizarro como cidadão português comum não pode adquirir a dívida pública de Portugal.
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