segunda-feira, 24 de junho de 2013

Estimulo

As bolsas iniciaram uma forte correcção após as palavras de Ben Bernanke, onde assume pela primeira vez a retirada dos estímulos à economia americana.O anúncio do fim do programa de compra de activos de 85 mil milhões de dólares mensais, visa apaziguar os opositores do programa, e sinalizar que Bernanke está atento às divergências dentro da FED
- Reserva Federal Americana. Nada mais do que isto. É irrealista pensar que é possível terminar uma política monetária expansionista, que levará o balanço da FED aos 4 triliões de dólares ou 25% do PIB, quando a economia americana precisa de emitir obrigações para financiar o seu défice na ordem dos 650 mil milhões de dólares por ano. A FED tem dado uma ajuda vital ao financiamento do tesouro americano, dando literalmente dinheiro a troco de juro zero, no curto prazo. Com esta decisão existe o perigo do défice voltar a subir e inverter a tendência.
No ano fiscal de 2012, os Estados Unidos da América pagaram 360 mil milhões de dólares em juros, sobre uma dívida de 16 triliões, uma taxa de juro a 2,25%. Se adicionarmos, ao aumento da dívida anual, via défice, uma subida das taxas de juro que está a acontecer nos mercados, então percebe-se o quão difícil é abandonar uma política monetária expansionista. As taxas de juro americanas a 10 anos subiram 0,8% nos últimos 45 dias. Parece pouco, mas corresponde a um agravamento de 50% do custo de financiamento futuro.
Para além das questões internas, o aumento do défice e os condicionalismos para a retirada do estímulo, ao nível do desemprego, inflação e crescimento, existem as questões externas a ter em consideração: o mundo está a travessar uma fase de crescimento anémico, instabilidade social, geopolítica sem soluções à vista.
O principal parceiro comercial dos EUA, a Europa, está em recessão, com um crescimento nulo em 2014, um desempego e uma contestação social nunca dantes vista.
A China continua numa desaceleração deslizante, com dados contraditórios, mas com uma luta gigantesca, a do controle dos preços do imobiliário. A sua economia não poderá contribuir para o crescimento mundial. As economias emergentes começam a sofrer um verdadeiro desgaste de confiança, o Brasil e a Turquia, são um bom exemplo - as populações já o estão a sentir e a revelar ao mundo o seu descontentamento, cada moeda que trazem no bolso sofre desvalorizações quase diárias.
Por agora o único motor em aceleração é o Japão, dependente da desvalorização do iene para aumentar as exportações e impedir que as industrias abandonem o país, o que pode ser interpretado como uma concorrência desleal.
A resposta dos mercados e investidores não se fez esperar. Quedas generalizadas nas bolsas com triliões a desaparecerem em capitalização bolsista. É um grande revés no multiplicador do efeito riqueza que bancos centrais contavam para reanimar as procuras internas. Esta reacção prova a dependência por liquidez a que os investidores foram habituados e a fragilidade das subidas que os principais índices mundiais registaram. Agora sim, as empresas têm que apresentar crescimento e não aumento dos lucros baseado no corte de despesa, para atrair investidores, pois estes vão ser muito mais selectivos.
Pedro Lino, Economista

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