sexta-feira, 14 de junho de 2013

Portugal deve ficar no Euro?


Eu penso que o Problema da economia (bem como da sociedade) portuguesa não é a moeda.

O problema é a falta de competitividade da economia, um resultado da falta de capacidade de ajustamento da sociedade à realidade dos tempos.

A teoria dos que defendem a saída do Euro, é que ganharíamos competitividade preço, isto é, os nossos produtos ficariam mais baratos (aumentaria a exportação) e os preços importados mais caros (diminuição das importações), logo isto iria levar a um estímulo da economia, porque venderíamos mais ao exterior e compraríamos menos.

Este raciocínio tem duas falhas graves, primeira falha parte do pressuposto que os nossos concorrentes não retaliariam desvalorizando as suas moedas, dou o caso dos USA, tem se esforçado em desvalorizar a moeda (assumido pelo próprio Chairman da FED), mas os países concorrentes tem desvalorizado as suas moedas anulando em parte este efeito.
Segunda falha, esquece-se que hoje o mundo se encontra interligado e que maioria das empresas importa acrescenta valor e exporta, o caso da GALP um dos maiores exportadores de Portugal, importa crude, transforma em produtos derivados e exporta, se a moeda desvaloriza-se 30%, verdade que os preços de venda iriam descer 30%, mas o preço da matéria prima aumentaria 30%. Portanto não é credível que a desvalorização da moeda levaria a um aumento das exportações, em alguns caso sim (os que tivessem uma forte componente de matérias primas nacionais) outros não.

O principal motor do crescimento é a energia, a sociedade humana desenvolveu se mais rapidamente desde que se conseguiu produzir electricidade, um dos principais factores do crescimento foi o acesso a energia barata.

Portugal importa todo o seu gás natural bem como o petróleo (não somos produtores para já), logo somos dependentes dos preços dos mercados internacionais, logo com uma moeda mais fraca estes bens tornar se iam incomportáveis, recordo que temos das moedas mais valiosas do mundo e já temos combustíveis muitos caros, agora imaginar um aumento do preço em 30/40%, grande maioria dos negócios seria profundamente afectado, bem como o bem estar dos cidadãos.

Importamos grande parte da comida que consumimos desde carne, a cereais, etc... o raciocínio a aplicar é idêntico ao dos combustíveis, o preço dos bens alimentares subiriam, criando problemas de capacidade de grande parte da população conseguir se alimentar (não é nada de novo, nos anos 80 ocorreu, o problema é que hoje as pessoas não estão habituadas a ir ao super mercado e ver as prateleiras vazias), este facto iria criar ainda mais distúrbios da ordem social que o factor anterior.

Grande parte das empresas hoje exportadoras iriam falir, dado não conseguirem ter acesso às matérias primas que necessitam para continuar a laborar.

Num primeiro momento o desemprego aumentaria de forma fulgurante.

O nível de vida das pessoas seria esmagado, e o país ficaria mais pobre quase que instantaneamente, numa situação dessas não existe ninguém que consiga prever o que de facto irá ocorrer, dado que ninguém tem essa capacidade, seguramente seria bem pior do que Eu descrevo aqui.

Aumentariam os casos de óbitos, principalmente de idosos, por falta de capacidade de comprar os medicamentos necessários, dado serem importados, o seu preço dispararia, bem como uma diminuição da qualidade dos serviços de saúde.

As empresas nacionais sofreriam de um choque de falta de confiança, muito provavelmente os fornecedores internacionais exigiriam pagamento antecipado, e reduziriam o crédito concedido (basta recordar que foi isto que se passou quando Portugal requereu a assistência).

A emigração dispararia, dado que os novos salários reais ainda seriam mais baixos do que com o Euro, além que como mencionado antes haveria ainda menos emprego

Portugal teria que obrigatoriamente de pedir um perdão de divida, ficando arredado dos mercados de divida por muitos e bons anos(tendo implicações nas empresas nacionais).

Teria de ser decretado controlo de capitais, todos os depósitos seriam nacionalizados (sendo que o Estado procederia a um roubo da totalidade dos depósitos, dado que trocaria os Euros depositados nos bancos por Escudos).
A livre circulação de pessoas e bens seria suspensa.
Os mais afectados seriam os que menos tem, porque os preços iriam disparar, causando um impacto fortíssimo nos mais pobres e mais idosos.

Quem ganha com isto serão apenas os Políticos que poderão assim imprimir moeda à vontade, inflacionando a economia e taxando por igual todos (mais uma vez afectando mais os que menos tem e os que vivem de rendimentos), permitindo que continue Orgia.

Recordar que o Estado financia-se por emissão de divida (impostos futuros), Impostos, impressão monetária.

Ao realizar a saída, emissão de divida ficaria profundamente afectada, sobrariam os outros dois.

Iriam procurar forçar o crescimento inflacionando, destruindo ainda mais a poupança, e roubando as pessoas ainda mais.

Iria se assim consumir ainda mais capital, o pouco que resta levando a uma diminuição dos salários reais, e empobrecendo ainda mais o já pobre país.

O Euro como Huerta de Soto nos explica no seu "A defesa do Euro", hoje funciona para Portugal como uma espécie de padrão ouro, obrigando os políticos a tomarem medidas, que verificamos no nosso país, só o fazem quando tem a espada ao pescoço.
O euro permitiu que a divida chega se ao montante que chegou, mas reparem se bem utilizado teria sido um mecanismo de crescimento para Portugal como mais nenhum, infelizmente foi utilizado para consumir e não para criar capital (nada que não fosse esperado dado as teorias económicas vigentes no main stream).

Os que defendem este caminho, querem fazer austeridade mas de forma de simulada enganando as pessoas, em vez de cortar salário nominal, querem cortar o salário Real. Permitindo que o Estado continue o regabofe.

Mas mesmo neste caso o regabofe não poderia continuar por muito mais tempo, a inflação rapidamente sairia fora do controlo criando efeitos nefastos na economia, levando a uma situação ainda mais nefasta do que aquela que passamos hoje.
E passado pouco tempo teríamos o FMI a aterrar na Portela, dado que ninguém aceitaria a nossa moeda, e iríamos necessitar de divisas estrangeiras.


O Euro foi criado como um mecanismo de controlo do Bundesbank e como forma de forçar a integração europeia. Basta ler o livro de Baggus "a tragédia do Euro".

A entrada foi decidida exclusivamente por políticos, o povo não foi nem tido nem achado, não foi explicado o que acarretava, foi forçado.
Agora forçar a saída sem explicar o que pressupõe a saída é outro crime.

O euro hoje demonstra nos o quanto é estúpido o Planeamento central, e quanto detrói a vida das pessoas.

Mas as pessoas continuam a achar que o caminho é mais planeamento central.

Como o economista Ferreira do Amaral defende uma saída controla do euro é algo que só assiste a um professor universitário, e a um planejador central a vida tem as suas próprias dinâmicas e muitas vezes as pessoas não reagem de forma como pensamos que vão reagir e o plano sai furado.

O principal problema como sempre defendi é que com políticos estamos tramados, principalmente os que existem por cá.

Se a saída fosse acompanhada por uma reforma total da sociedade, teria possibilidades de singrar, mas como isso é irrealista, a certeza é ficarmos ainda piores do que Estamos e iremos ficar se continuarmos no Euro.

4 comentários:

Tiago Mestre disse...

Como o Filipe bem resume, com Euro ou sem Euro, o problema é estrutural, e portanto qualquer que seja o caminho trilhado, haverá grandes dificuldades no percurso.

Talvez o que me preocupa mais é tentar perceber para onde estamos a ir, se para uma saída ou para uma manutenção do €, e com isso compreender as ameaças de cada uma das opções, preparando-me o melhor possível para minimizar os impactos da porrada.

Agricultura e poupança a todo o custo na empresa têm sido as estratégias adotadas pela minha parte.

Não sei dizer com certeza alguma se estou a fazer bem ou mal. Estou tão só a reagir à interpretação que tento fazer da realidade.

Anónimo disse...

"E passado pouco tempo teríamos o FMI a aterrar na Portela, dado que ninguém aceitaria a nossa moeda, e iríamos necessitar de divisas estrangeiras."
As nossas divisas são suportadas por ouro no BdP (um dos rácios maiores do mundo)

David Seraos disse...

Parabéns pelo post, concordo que o problema é estrutural.

Agora o futuro, acredito que o Euro irá continuar, não sei é como vai ser o seu formato.

Caro anónimo se "As nossas divisas são suportadas por ouro no BdP (um dos rácios maiores do mundo)", porque é que o FMI já veio cá 3vezes? Deve ser só porque gostamos mesmo da companhia deles só pode.

doorstep disse...


Excelente post!!!

Acrescentar-lhe-ia um argumento: só um Estado forte seria capaz de decidir e de gerir uma saída "controlada" do euro. E o nosso estado, além de fraco, está cativo de forças profundamente hostis à nação, logo nem sequer é um "Estado".