terça-feira, 25 de junho de 2013

Uma boa troca de ideias

Aconteceu aqui

João da Silva 25/06/2013 13:56:35
Era capaz de jurar que estava a ler um retrato social e económico mas de Portugal. A situação por cá é praticamente igual. Deve ter sido uma herança que Portugal deixou ao Brasil. Só pode. Excelente artigo.
RESPONDER
Leandro 25/06/2013 14:50:08
Prezado João, creia-me, Portugal está muito melhor do que o Brasil. Anualmente, passo alguns dias em Lisboa. Sempre fico impressionado com a ordem, com a segurança e com a ampla variedade de bens e serviços ofertados a preços extremamente baixos.

Vocês têm uma moeda forte, não têm problema nenhum com inflação de preços (o restaurante em que sempre almoço no Chiado está com os mesmos preços de dois anos atrás) e têm acesso a bens importados a tarifas praticamente nulas. Os carros que circulam em Lisboa são mais elegantes e mais bem equipados do que a frota de São Paulo, a cidade mais rica do país.

Suas universidades ainda são decentes e os debates que nelas ocorrem -- a se julgar pelas publicações acadêmicas -- são infinitamente superiores aos das universidades brasileiras.

Sim, há um problema com o desemprego em Portugal, mas isso é culpa das leis trabalhistas e da carga tributária. Em país de moeda forte, não há impunidade para uma carga tributária alta e para burocracias intransigentes: elas geram desemprego, pois não há expansão monetária capaz de arrefecer estes empecilhos. Esse é o efeito colateral de se ter uma moeda pouco inflacionada, com alto poder de compra.

A coisa no Brasil está tão ruim, que estou até (e eu nunca imaginei que fosse dizer isso) me tornando simpático à União Europeia e suas leis: aí na Europa, nenhum governo tem autonomia para impor tarifas protecionistas e fechar seu mercado para proteger suas empresas favoritas, algo totalmente cotidiano aqui no Brasil. Se, por exemplo, o governo italiano quiser proteger a FIAT encarecendo a importação de carros alemães, a União Europeia o proíbe de fazer isso. Ele não tem essa autonomia. Aqui no Brasil, haver um mecanismo semelhante que amarrasse as mãos do governo federal desta forma seria um sonho.

Creia-me: vocês estão bem.

Abraços!
RESPONDER
Anônimo 25/06/2013 14:59:12
Leandro, poderia explicar melhor este parágrafo:

"Sim, há um problema com o desemprego em Portugal, mas isso é culpa das leis trabalhistas e da carga tributária. Em país de moeda forte, não há impunidade para uma carga tributária alta e para burocracias intransigentes: elas geram desemprego, pois não há expansão monetária capaz de arrefecer estes empecilhos. Esse é o efeito colateral de se ter uma moeda pouco inflacionada, com alto poder de compra."

Se não houver problemas, claro.
RESPONDER

Leandro 25/06/2013 15:12:53
Anônimo, isso foi explicado em mais detalhes neste artigo, mas posso abreviar.

Para se ter uma moeda forte você não pode inflacionar a oferta monetária continuamente. Ou seja, a oferta monetária tem de crescer pouco. Se a oferta monetária cresce pouco -- isto é, se a inflação monetária é baixa --, sua renda nominal também cresce pouco. Sendo assim, é difícil você conseguir fazer com que os custos da contratação da mão-de-obra sejam artificialmente barateados pela maior oferta monetária.

Imagine -- para pegar um exemplo extremo -- uma economia em que a quantidade de dinheiro fosse rigidamente fixa. Nesta economia, se o governo fosse elevando impostos continuamente, fosse aumentando o valor do salário mínimo e fosse criando cada vez mais regulamentações que encarecessem a mão-de-obra, haveria um momento em que você teria simplesmente de demitir pessoas e parar de contratar outras, pois os seus custos só aumentam ao passo que sua renda nominal está estagnada (pois a quantidade de dinheiro na economia está congelada).

Esse é o raciocínio.

Abraços!

1 comentário:

Eduardo Freitas disse...

Muito oportuno, Vivendi!