segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ai se eu tivesse moeda própria

Li ontem 2 artigos, ambos a propósito da desvalorização salarial nos países da zona euro, que gostei bastante. Um do blog espectador-interessado, em que incide mais sobre a Grécia, e outro no Zerohedge.

Basicamente, a ideia é esta:

Se os países do Euro querem competir com a Alemanha, têm que voltar a padrões salariais que permitam que tal aconteça.
Mas como não temos moeda própria, não podemos fazer essa desvalorização do dia para a noite, abrangendo toda a gente.

E como forma de ilustrar este problema, eis um gráfico que mostra o que aconteceu aos salários de alguns países do Euro desde 2000:


É evidente que a evolução dos salários dentro da zona euro, sobretudo dos países que hoje estão em resgate, não se fundou em critérios económicos fundamentais. Foi o enorme aumento de dívida nos setores público e privado que permitiu a levitação artifical destes valores.

Mas agora coloca-se a questão:
Como "pedir" às populações que aceitem esta redução salarial? Já que o caminho dos cobardes (a desvalorização cambial) está para já, fora de questão.

É minha opinião que nenhum governo deve entrar por estes caminhos duvidosos de planificação centralizada. Se foram os mesmos políticos que permitiram que se criassem as condições para este crescimento artifical de salários, que crédito lhes posso dar para inverterem a sua política?
NENHUM
Aliás, mesmo que outra classe de políticos houvesse, iriam errar como erraram os anteriores. Porquê?

Porque não é possível manipular as intenções das pessoas que assinam livremente os seus contratos, tanto do lado do empregado como do lado do empregador. Pode-se estimular que se faça isto ou aquilo, através da criação de leis, mas as consequências inesperadas costumam ser sempre mais gravosas do que o mérito das esperadas, impelindo os legisladores a produzirem ainda mais leis sem que haja fim à vista.

Na minha opinião, a desvalorização salarial deve ser obra do... MERCADO.
Devem ser as intenções e as não-intenções de ambos os lados do contrato a definirem o que pretendem e o que não pretendem. Se há acordo, pois bem, a desvalorização salarial ocorre sem problemas. Se não há acordo, tudo bem na mesma, a desvalorização ocorre mais à frente, quer por falência da empresa, despedimento coletivo ou outra, sendo muito provável que o eventual novo emprego que o desempregado arranjar terá uma remuneração inferior à que tinha antes.

Como se pode ver no gráfico, Portugal já esta nesta trajetória descendente, igualando em 2012 os valores de 2008, segundo dá para perceber pelo gráfico.

É óbvio que quando a desvalorização salarial se faz sem acordos, há mais desemprego, mais dor, mais MEDO. Mas estas são também as consequências naturais das ruturas, independentemente da natureza delas.

Não me parece que valha a pena chorar sobre leite derramado, nomeadamente defender a apologia do "ai se tivéssemos moeda própria seria mais fácil".
Não seria nada mais fácil porque efetuar desvalorização cambial é uma ALDRABICE. Quanto muito compraria algum tempo, mas já todos sabemos que quando os políticos compram tempo não é para dar "tempo" para se tomarem decisões difíceis, mas antes adiá-las o mais possível.

Pode realmente ajudar nas exportações no curto prazo mas agrava o preço das importações, além de que promove inflação e afugenta investidores que gostem de ter moedas seguras e não sujeitas a apetites políticos. No longo prazo só dá asneira.

A bolha da valorização salarial é obra dos mega-estímulos que a UE deu a quase todos os seus países, sempre na esperança de que se modernizassem e atingissem elevados padrões de produtividade.
OK, deu asneira, não correu bem porque foi só mais uma grande planificação centralizadora, mas por agora, deixem um bocado as pessoas em paz, e sobretudo, deixem-nas tentar trilhar o seu próprio caminho, por muito sofrimento que isso provoque, sem manipular, sem estimular e sem enganar mais uma vez os europeus.
Vai doer? Claro que vai doer, mas depois de tanta manipulação e de tanta bebedeira pseudo-financeira, não podemos esperar que uma ressaca passe apenas com 1 ou 2 Ben-u-rons  !

Tiago Mestre

1 comentário:

Ricardo Anjos disse...

Há pessoas que não conseguem aguentar as notas na carteira... eu conheço algumas!

Os governos( leia-se partidos) por definição, têm como prioridade antecipar o máximo os rendimentos e benefícios, e adiar até não poderem mais as despesas, encargos e responsabilidades... é este o programa eleitoral que submetem a sufrágio, e é por isto que são eleitos.
Visto que a elaboração de Orçamentos em que a despesa é fixa e considerada inalterável (em prol do bem-estar dos cidadãos), e a receita é sempre o aumento de impostos, nunca se poderá obter nada remotamente similar a um déficit ZERO, que advogamos todos aqui no viriatos! O povo nunca o irá permitir...