quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Serão os ciclos para se repetir?

Após ter visto este gráfico no ZeroHedge a propósito do crédito mal-parado em Espanha, veio-me à cabeça a ideia se realmente os ciclos que presenciamos no passado estão "condenados" a repetirem-se no futuro:


Ou então este:


Olhando para estes dois passados, a primeira ideia que nos pode assaltar a mente é:

Sempre que houve picos, de seguida seguiram-se quedas acentuadas.
Logo,
Se estamos a viver picos neste preciso momento, podemos estar próximos de uma nova melhoria das condições.

Há razões para estarmos otimistas, porque... SEMPRE FOI ASSIM !

Mas o que assalta verdadeiramente a minha mente é:

Aquilo que causou os picos e posteriormente aquilo que causou a sua quebra está presente nas circuntânscias atuais em que vivemos?

A esta pergunta poderia responder:
Para quê saber isso? Se correu bem no passado, porque razão não há-de correr bem no futuro?

Penso ser do conhecimento geral dos nosso leitores porque é que ocorrem estes ciclos. Aliás, Schumpeter investigou-os e trouxe conclusões que nos ajudaram a perceber melhor estas repetições:
- Excesso de produção / má alocação de capital
- investimentos ruinosos / excesso de produção
- destruição de capital / falências / quebra no consumo
- realocação de capital / novos investimentos
- Aumento do consumo /aumento de produção
e por aí fora..

Deixo-vos o repto:

É ou não importante perceber se nos dias de hoje as variáveis continuam a ser as mesmas para que o ciclo se repita?
Se é, faz sentido descobri-las e percebê-las?
E se não é, damo-nos por satisfeitos por "saber" que a história repetir-se-á inevitavelmente?

Sinceramente não sei

Tiago Mestre

2 comentários:

vazelios disse...

Não há nada como relacionar dados gráficos com a história. Estes dois são dos melhores que vocês têm posto!

Sim, um leigo chega aqui e diz que é ciclico. Aliás, leigos e grandes mentes, Krugman quando vê este ultimo gráfico diz que com os novos 90KKKKK por mês, chega para afirmar que a bonança está quase a chegar.

Os principais problemas/diferenças para mim entre a nossa fase e as anteriores são:

- Todas as outras foram geradas por fortes gastos em guerras, injustificáveis, mas que de certa maneira relançaram o crescimento mundial e principalmente dos EUA, vencedor em ambas. A de hoje, sem guerras, conseguiu-se o mesmo efeito de divida, sem o desejado crescimento.

- Nas outras alturas, os actuais países desenvolvidos eram os únicos com capacidades de crescimento. Os actuais NPI, BRICS ou outros estavam tão atrasados que nem ameaça eram. Aliás, muitos eram colónias ou países inteiramente fechados ao exterior...agora a ameaça vem dos países em crescimento, que não somos nós.

- As pirãmides etárias na altura eram equilibradas, seguindo-se o baby boom. Agora 1/3 da população da Europa/Japão/EUA é da terceira idade e portanto, não trabalha mas recebe pensões. Condições para haver baby boom agora? Até poderão haver mais nascimentos, mas as mortes serão também menores (felizmente) pelo que o saldo final não será tão positivo, em termos económicos. E a concretizar-se, demorará décadas. Para além de que os bens essenciais começarão a ser escassos...

- No passado mentia-se para se ir para a guerra, hoje em dia as diferenças politicas e monetárias na população são tantas, a imprensa tão manipuladora, que dificilmente alguém aprende seja o que for com os erros. Veja-se a mais recente (e ridicula) entrevista do EconomicoTV ao Silva Lopes. O homem tem o desplante em dizer que os economistas de àgua doce (ou serão os de àgua salgada? já não sei), os mais liberais portanto, estão a ganhar terreno, quando tudo e todos culpam o suposto capitalismo pela crise. Vejam como a austeridade (ou correcção de défices) é atacada, vejam o peso do estado numa economia desenvolvida, e depois venham-me falar em capitalismo...

Bom, não me quero alongar mais mas as diferenças são muitas e como a Demagogia já devia ser uma disciplina na escola nã sei como vamos inverter o ciclo sem levarmos um estoiro.

Mas ainda assim não sou catastrofista, só temos é de aprender a viver com menos, e vejo alguma atitude em relação a isso.

Pedro Miguel disse...

Os ciclos vão sempre existir. São inerentes à não racionalidade humana e à inovação.

O indivíduo passa fases de euforia sem perceber as limitações de cada fase de inovação.
Isso pode acontecer com tecnologia, melhoria de condições de vida, não perceber bem novos mecanismos financeiros.

Além de ciclos longos haverá sempre ciclos também mais curtos.
Basta ver quantas bolhas tivemos nos últimos anos, dotcom, imobiliário, crédito...

O principal dos indivíduos como um todo e que explica porque alguns são afectados pela crise e outros não é a própria não percepção que sempre será assim.

Posso dar o exemplo do que se passa no meu agregado familiar. Em tempo de expansão não há euforia e é gerada poupança, em tempos recessão não há qualquer necessidade mudança de hábitos.
Em tempos de expansão acabamos por não contribuir para a explosão da bolha, e em tempos de recessão não contribuímos para o pessimismo.

Se não me engano, Schumpeter chegou a essa mesma conclusão, os ciclos vão existir sempre e é importante compreender que assim é.
Também Keynes estudou bastante os ciclos económicos, com algumas conclusões interessantes, que não inteiramente erradas.
Devemos tentar aproveitar os bons ensinamentos de todos os estudos.

Recentemente é Krugman que se farta de falar sobre o assunto. Convém saber que Krugman ganhou o prémio Nobel pelos seus estudos ao nível do comércio internacional e que a opinião dele sobre ciclos vale tanto como a de qualquer outro opinador, uma vez que não é um entendido no assunto.