quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Investimento em Portugal

Ainda no tempo do Contas Caseiras, lancei um desafio ao pessoal para que se tentasse perceber potenciais mecanismos que ajudassem a prever o PIB.
Tal desígnio surgiu do meu desagrado em constatar que as previsões feitas por todas as instituições oficiais eram (e são) sempre excessivamente otimistas. Esse otimismo acaba por esbarrar na realidade, forçando os governos a mudarem metas, a imporem mais austeridade, etc, etc

No último post sobre esta matéria, dei alguma importância à parcela do PIB denominada Investimento ou Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF.

Esta parcela pode ajudar-nos a tentar perceber que tendência pode estar no horizonte, já que é a partir do investimento que surgirão novas empresas, novos postos de trabalho, mais riqueza produzida, etc. Basicamente, apesar da parcela Investimento valer apenas 16% na fórmula do PIB, esta pode ser um bom indicador do que pode vir a ser o PIB algures no futuro. Vai daí, tentei acompanhar a trajetória desta rúbrica.

Desde final da década de 90 que esta rúbrica tem vindo a perder fôlego, sendo que em 2001 entrou em terreno negativo, ou seja, o Investimento em 2002 já foi inferior ao de 2001. A partir de 2009 as coisas agravaram-se, com reduções homólogas na casa dos 10%. Os últimos dados de Março 2013 são estes:


O próprio FBCF, apesar de só valer 16% no PIB, ainda se divide em 3 rúbricas:
Máquinas e Equipamentos
Construção
Material de Transporte

No gráfico 15 percebe-se que tem sido a Construção a grande força a puxar para baixo o FBCF, com reduções homólogas entre os 16% e 18%.

A notícia positiva é que as Máquinas&Equipamentos e Material de Transporte começaram a influenciar cada vez menos na recessão. Aliás, Máquinas&Equipamentos está quase em terreno positivo face ao ano anterior.

A má notícia é que a queda na Construção tem sido tão grande tão grande que tudo somado, a quebra homóloga agravou-se para lá dos 18% desde Jan2013.

Numa escala temporal maior, o cenário é este:


Desde 2001 que andamos a roçar 0%.
Entre 2007 e 2008 ainda se subiu qualquer coisa.
E a partir de 2011 a coisa colapsou.

Enquanto o indicador FBCF não arrebitar para valores acima de zero, pensar-se em recuperação económica sustentável parece-me complicado.
Sem que haja mais Investimento e mais produção, falar em recuperação económica só porque as famílias começaram a consumir mais é TANGA. Recorrer ao crédito para consumir, aumentando pelo caminho as importações não é recuperação, evidentemente.

Fórmula do PIB para os leitores mais novos do Viriatos:

            PIB = Consumo Privado + Consumo Público + Investimento + Exportações - Importações
% em 2011 =      67,11%                       19,64%               16,43%          35,98%          39,15%

Tiago Mestre

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