- Eles querem é poleiro! Andam todos ao mesmo!
- Andaram a aumentar impostos e mais impostos na Grécia, perdoaram a dívida, e de que é que adiantou? Nada!
- Vêm lá de Bruxelas mandar na gente e pensam que sabem mais do que os que cá estão!
- Ainda bem que vieram esses de fora pôr ordem nisto, que os de cá só fazem asneiras.
- A gente aqui a esfalfar-se a trabalhar doze horas por dia, sem dormir, sem segurança, sem nada, e os funcionários públicos ainda querem que tenham pena deles! Tenho pena é de mim!
- Só querem saber é dos bancos. Dinheiro para os bancos, não falta, agora para fazer isto andar para a frente, nada.
- Esses do BPN, eu se os apanhava, nem sei o que lhes fazia. Se calhar dava-lhes um tiro! Então andaram-me a roubar, foram-me ao bolso e eu não havia de lhes fazer nada?
- Essa malta que andou aí a dar cabo do país esses anos todos e a pôr-nos de tanga é que devia ir toda para a cadeia. Tanto dinheiro da Europa, ou lá de onde é, e onde é que ele está? Deve ter ido parar aos bolsos desses vigaristas, que ao meu é que não foi.
- E agora, em vez de se entenderem para pôr isto direito, só sabem andar às marradas, como os carneiros. E o povo pasmado, a assistir! A sorte deles é que isto é tudo uma cambada de mansos.
- Os professores queixam-se que ganham pouco e trabalham muito. Haviam de conduzir táxis uma semana, que nem piavam mais.
- Sempre a aumentar o IRS para nós e esses tipos dos institutos e das estradas e das empresas públicas, é só mordomias e carrões e tudo o que eles quiserem.
Estes excertos de diálogos dentro de táxis em Lisboa e no Porto são reais - conquanto algo censurados, porque se não é exigível que os senhores motoristas discorram com fluência sobre a assimetria dos enunciados universais e a teoria dos cisnes, de Popper, também não é curial eu permitir-me reproduzir aqui integralmente a linguagem "da rua" (ou do carro, neste caso).
Também não pretendo sugerir que a voz do povo é a voz de Deus, mesmo incluindo-me (sobretudo incluindo-me) no povo. Facto é que a voz do povo e da "rua" veicula algumas verdades insofismáveis e por vezes desarma-nos com os seus tiros de mão firme e alvo certeiro. Os enunciados com que se revela são frequentemente testemunho fiel da experiência, da sensibilidade, dos ressentimentos, dos medos e dos anseios do homem comum, do trabalhador comum, do contribuinte e do votante comum. Haja discernimento e humildade suficientes, e não deixarão os responsáveis políticos de aprender lições valiosas provenientes da rua. Condição necessária para isso é a recusa de viver numa redoma que isola o poder dos seus destinatários. E andar de táxi!
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