quarta-feira, 1 de maio de 2013
Cortar 6 mil milhões não chega, mas Gaspar está de parabéns
Feitas as contas, de 2011 para 2012 Gaspar conseguiu cortar 6 mil milhões de euros. Aparentemente fê-lo através da redução de custos com pessoal e com o investimento.
A despesa em 2009 e em 2010 nem conto com ela para nada, já que se inseriu na loucura de Sócrates em querer estimular a economia pelo lado da despesa. Foi uma aberração financeira o que aconteceu nestes dois anos e deveria ficar nos Anais da História dos grandes erros financeiros que um Estado deve evitar a todo o transe.
Cortar 6 mil milhões de 2011 para 2012 é muito dinheiro, e temos que dar os parabéns ao homem por ter conseguido tal feito.
Infelizmente esse corte foi acompanhado de uma queda das receitas, deixando o défice numa posição quase inalterável, os tais 10 mil milhões de euros.
Para um Estado como o nosso, que ocupa quase 50% da nossa economia, reduzir na despesa significa também captar menos receita, por muito que os impostos aumentem.
Vai daí e a despesa tem que ser cortada, para começar, em 10 mil milhões, devendo continuar essa trajetória até que as despesas ordinárias igualem as receitas ordinárias.
Só depois de um corte de 20 ou 30 mil milhões é que talvez as despesas igualem as receitas, ali por volta dos 50 a 55 mil milhões de euros. Já escrevi várias vezes que o meu palpite (porque não passa disso mesmo) roçará este valor.
Tomei consciência desta evidência ali por volta de meados de 2010, e pelo facto de muito comentador negligenciar esta correlação decidi avançar com o blog Contas Caseiras. Tentei tanto quanto possível expor esta correlação, referindo que reduzir despesa não seria uma panaceia.
O tempo foi passando, e 2 anos depois podemos constatar que as coisas estão a processar-se mais ou menos desta maneira.
Não é bom, é mau, mas o que importa reconhecer é se estamos no caminho da verdade ou no caminho do engano.
Mas se Gaspar estiver apenas a pensar cortar 1300 milhões em 2013 e 4,7 mil milhões entre 2014 e 2017, totalizando 6 mil milhões em 5 anos, não creio que tais medidas sejam suficientes para corrigir o défice, a não ser que nos esteja a escapar qualquer coisa.
Porquê?
Porque considero que as projeções do crescimento do PIB apresentadas no DEO2013 são demasiado otimistas. Oxalá esteja enganado, mas não vejo como se conseguirá ir buscar a diferença no lado das receitas para que o défice fique a roçar o ZERO. Aumentar impostos já foi chão que deu uva. Será necessário continuar a cortar nas pensões, no pessoal, e por aí fora.
Tiago Mestre
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3 comentários:
Um bom artigo Tiago.
Na minha opinião, o esforço é ainda maior porque não nos podemos esquecer que só em subsídios de desemprego, o Estado gastou mais 500 milhões de euros em 2012 quando comparado com 2011.
Os juros pagos obviamente também aumentaram.
Encargos com PPP idem.
Continua a ser visível que há muita dificuldade em convencer todos os que tem poder de voto ou decisão que se devem tomar estas medidas impopulares, mas o momento da verdade parece ter chegado.
Quanto aos valores que dizes que precisamos cortar, aí discordo. Se a economia começar a recuperar, por melhores condições do país, mesmo com taxas de imposto maiores, os impostos recolhidos serão maiores e o equilíbrio das contas acontecerá por si.
A descida do peso do Estado na economia também irá acontecer normalmente com o crescimento.
Contudo, para haver crescimento não basta dizer que deve haver crescimento, nem se podem apresentar medidas com o dinheiro dos outros e que os outros nem aprovam (como defende o Sr Seguro).
Vamos manter a confiança externa e dar um choque de competitividade e estabilidade na economia para que quem nos pode fazer crescer venha investir e criar emprego.
Deve existir uma curva ou teoria qualquer de que, tal como os custos marginais do trabalho diminuem com o aumento do numero de trabalhadores (até certo ponto), a diminuição marginal do consumo privado também vai sendo menor, à medida que este decresce.
O que quero dizer é que, trocando por miudos (O Professor Pedro Cosme não me respondeu a esta questão), dois factos interligados ao consumo estão a ser positivos: A diminuição do consumo repentina e consequente diminuição das importações e o aumento da poupança.
Não tenho conhecimentos para descrever com exactidão, mas sendo o rendimento disponível = Poupança + Consumo, aconteceram coisas bastante positivas desde 2011 (ano em que pusémos os pés na Terra) a dois ou três conjuntos de pessoas que classifico como A, B e C. Esta análise é a apenas a minha opinião, baseando-me também no muito que já aprendi aqui.
As do grupo C, com menores rendimentos, vivem actualmente, infelizmente, com pouca margem de sobrevivência. Todo o pouco dinheiro disponível vai para pagar contas e por comida na mesa, mesmo essa já é bastante racionada. Logo, o consumo destes desceu a pique, mas haverá um momento (não faço ideia se já o atingimos) em que não descerá muito mais porque simplesmente têm de sobreviver e comer o minimo. Até pode descer mais, mas o ritmo de quebra vai sendo menor.
No grupo B, o maior e provavelmente o de nós todos, poderemos chamar de classe média. Talvez seja a mais atingida, no que toca a hábitos de consumo. Muita gente consumia como se não houvesse amanhã: Carros de 4 em 4 anos, muita roupa para a mulher, jantar fora todos os fins de semana. Férias no estrangeiro incluindo uma viagem à neve no Inverno e muitos fins de semana no alentejo. Neste grupo, o consumo em termos percentuais deve ter sido o que caiu mais nestes dois anos, e o que caiu mais rapidamente. O que aconteceu? As pessoas pararam para pensar. Muitas não sabem como vai ser o futuro, desemprego/possível saída do Euro/aumentos de impostos, que pôe em causa o colegios dos filhos, a prestação da casa, do carro, etc. As despesas são controladas mensalmente. Muitos conseguem poupar algum dinheiro, mas escolhem fazê-lo para se precaverem do futuro (ao contrario do passado), daí a taxa de poupança estar a aumentar. Mas calma, diminuiram bastante o consumo adaptando-se à nova realidade. Jantam fora uma vez por mês, vendas no retalho sobem em algumas categorias devido ao aumento de refeições caseiras, vão de férias mas em Portugal, e já não trocaram de carro desde 2007. Talvez em 2016, logo se vê. Fizeram os calculos para manter praticamente intacto o bom nível de vida basico que tinham (maior diversidade de produtos do supermercado, "boas" escolas dos filhos, um almoço de vez em quando fora, etc). Tudo o resto foi cortado e racionalizado. O que penso deste grupo é que o consumo poderá descer um pouco mais, devido ao aumento do desempergo e a uma ainda maior adaptação à nova realidade. Mas descer como desceu estes dois anos não desce. Vão tentar manter assim, cortar aqui ou ali se a situação se agravar um pouco.
No grupo A, felizmente os que têm mais posses, levaram uma talhada no rendimento (do trabalho) via aumento dos impostos, mantiveram alguns habitos de consumo mais basicos como jantares fora almoços e férias, aproveitam algumas oportunidades de investimento que existem como comprar casas ou terrenos. O consumo deve ter descido, mas a % de pessoas deste grupo é bastante menor e não deverá ter tanto peso no consumo privado. Têm mais peso no investimento. O que penso deste grupo é que o consumo poderá estar mais racional, alguns até perderam bastante rendimento, como empresários ligados ao imobiliário. Mas os que aguentaram, aguentarão. Em termos de consumo deverá ter praticamente estagnado. Procuram agora a melhor forma de investir.
O que quero dizer por fim é que pegando no excelente artigo do Tiago e no comentário do Pedro Miguel, é que algumas coisas estão a estabilizar, e que tenho esperanças de que o consumo privado não caia tanto em termos percentuais. Mais, como o consumo já desceu, não pesa tanto no PIB, e agora se cair 10% não pesa tanto como cair 10% há 2 anos. As exportações por seu lado pesam mais do que há 2 anos e a sua evolução contribui mais favoravelmente para o PIB do que antes.
Agora, é imprescindivel acontecer uma coisa: Diminuir o IRC. Pesa 15% nas nossas receitas, não fiz cálculos nenhuns mas compensando com um corte na despesa, esta medida é fulcral para dinamizar o sector privado, atrair investimento e IDE e por fim tentar travar a escalada do desemprego, absorvendo trabalhadores que foram para o desemprego recentemente, quer tenham sido FP's ou do privado.
E nisso, depois dessa medida e estabilizar a fiscalidade em Portugal, o governo deverá ajudar a fazer a ponte entre desempregados/empresas como fazem os países nórdicos (em que a facilidade em despedir é grande, mas por outro lado ajudam as pessoas a encontrar novo emprego). Tome-se o exemplo do impulso jovem, muito bem lançado por este executivo.
Mas concordo com o Pedro, quero lá saber do Pib neste momento, sem consolidação orçamental e consequente confiança dos investidores, não há PIB para ninguém.
Agora a única parcela do PIB que irá continuar a cair se não se fizer alguma coisa, é o investimento.
P.S. - Digo isto pressupondo que as coisas continuam mais ou menos como estão. Se entretanto der o click de quebra de confiança no Dollar, a Coreia do Norte invadir a Coreia do Sul ou o Japão entrar em Hiperinflação, nada disto do que disse é minimamente relevante.
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