Até na rica Dinamarca, crise afeta o emprego
Steen Mengel caminhava por uma rua movimentada da capital dinamarquesa há algumas semanas, quando se deparou com um letreiro onde se lia: "um acadêmico disponível está sentado aqui". Uma seta apontava para pessoas sentadas na vitrine de uma loja.
O incorporador de 47 anos não tinha nenhum emprego a oferecer, mas ficou intrigado. "Gostei da ideia", disse ele, parado a poucos metros da vitrine. "Isto chama a atenção."
E chamar a atenção é exatamente o que uma série de profissionais desempregados está tentando fazer em Copenhague, ainda que, para atingir seu objetivo, eles pareçam estar copiando as vitrines do famoso Bairro da Luz Vermelha de Amsterdã. Depois de perambular por dois anos em alguns casos, profissionais altamente qualificados — que vão desde contadores e advogados a ex-diretores-presidentes — estão esperando na fila por uma cadeira na "vitrine".
"Estou disposto a tentar qualquer coisa", disse Hannibal Camel Holt, um cientista político que está desempregado, ao tomar seu lugar na vitrine numa tarde recente. Munido de um laptop e vestindo uma camisa azul escura, Holt disse que vinha "fazendo de tudo um pouco" nos últimos quatro anos, sem sucesso, apesar de ter qualificações que incluem ser fluente em seis línguas. Para ele, sentar-se na vitrine foi um passo insólito, mas necessário.
"Eu me sento como um macaco [...] numa jaula com as pessoas passando e me observando", disse o ex-funcionário da receita federal ao se sentar numa mesa, de onde ele de vez em quando olhava os transeuntes de relance. Depois de ter perdido recentemente a briga por uma vaga que tinha atraído 265 candidatos, ele diz ter notado que "chega uma hora que o seu currículo não vale mais nada".
Holt agendou vários períodos na vitrine nas semanas seguintes, juntando-se a 14 outros que pretendiam fazer o mesmo entre o abril e maio. Para passar o tempo, ele planejava procurar empregos on-line, atualizar seu currículo e melhorar seu perfil nas redes sociais.
A Dinamarca ficou imune aos sérios problemas econômicos da Europa graças à sua baixa dívida pública, mas as finanças municipais estão apertadas e os salários têm estado sob forte pressão nos últimos anos diante da preocupação com as exportações e a baixa produtividade. O desemprego continua relativamente baixo, mas a situação está difícil para os empregados mais qualificados.
O DJOEF, que é o sindicato por trás da ideia da vitrine, estima que 41% dos dinamarqueses que fizeram mestrado recentemente ainda estão procurando por emprego um ano depois de terem se formado. A organização acredita que a raiz do problema está no excesso de oferta de profissionais qualificados e a relutância das pequenas empresas em oferecer contratos permanentes a advogados e profissionais de outras áreas. O sindicato está, então, encorajando desempregados a tomar iniciativas mais criativas.
Alexander Peitersen, diretor-gerente de uma agência da firma de consultoria global Reputation Institute, foi um dos arquitetos do programa e ofereceu as janelas de seu escritório como vitrine para os desempregados. Ele já usou as janelas para uma variedade de eventos, incluindo um concurso de karaokê realizado para lançar um novo produto do console de videogames Xbox, da Microsoft . Ele achou que o local funcionaria bem para "expor" as pessoas que procuram trabalho porque na vizinhança há muitas empresas.
"As companhias recebem até 50 currículos por semana e depois de um tempo, todos começam a parecer exatamente iguais", diz Peitersen.
Peitersen que supervisiona um escritório com 36 funcionários, disse que aprendeu a dar valor àqueles que vão à luta, especialmente em um lugar como a Dinamarca, onde os benefícios sociais e o seguro-desemprego são generosos e protegem muitos jovens da dura realidade empresarial.
As vitrines parecem estar funcionando. Os organizadores já tiveram de prorrogar o fim do projeto para acomodar a demanda dos candidatos.
Christel Werenskiold foi uma das primeiras a usar a vitrine em abril. A ex-diretora executiva de um distrito escolar que tem um mestrado em administração pública foi demitida em 2011 depois de passar duas décadas no mercado de trabalho, sem nunca ter tido problemas para encontrar trabalho. Ela ficou desempregada numa fase ruim da economia e decidiu passar 10 meses em Honduras numa missão religiosa. "Eu voltei num momento em que a crise ficou ainda muito pior," disse ela.
Na vitrine, ela colocou um sapato de dança e um CD de música gospel para dar boa sorte e mostrar aos espectadores algo sobre sua personalidade.
Em uma semana, Werenskiold foi abordada por sete empregadores e o seu perfil no LinkedIn foi acessado 539 vezes, quatro vezes mais que na semana anterior. Sua página no Facebook ficou abarrotada de comentários, como "muito bom", "boa sorte", "boa iniciativa" e "gostaria que o meu sindicato tivesse o mesmo tipo de criatividade."
Werenskiold conseguiu rapidamente um emprego como consultora de desenvolvimento organizacional.
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