terça-feira, 28 de maio de 2013

Ensinamentos austríacos

Um interessante debate de ideias no Instituto Mises Brasil:

Luís Silva 27/05/2013 18:20:54
Eu sou iniciante (+- 1 ano) na escola austríaca com 18 anos mas ao ler o artigo que disponibilizo a seguir vejo que algo não bate certo.
www.publico.pt/economia/noticia/paul-krugman-diz-que-portugal-vive-um-pesadelo-economicofinanceiro-1595662

Mesmo o meu pai que não é um interessado em economia mas defende medidas assistencialistas pensa que este homem (Paul Krugman) não diz "coisa com coisa".
Se alguém poder fazer uma análise das palavras de Krugman, agradeço, assim poderei discutir o assunto com meus professores.

Felicito o site pelos excelentes artigos diários e peço desculpa por alguma coisa que não entendam (sou português, as diferenças linguísticas podem fazer-se notar).
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Leandro 27/05/2013 18:58:24
Prezado Luís, Krugman diz que "o Banco Central Europeu (BCE), assim como a Reserva Federal Americana, são contra taxas de juro próximas de zero."

Como assim? Ambos estão mantendo a taxa básica de juros próxima a zero desde o início de 2009. Imagina então se eles fossem a favor de juros zero...

Sobre Portugal, a questão é que, como mostrado neste artigo, os países do mediterrâneo estão vivenciando uma deflação monetária. Portugal também está, e relativamente acentuada.

Esta deflação monetária é consequência inevitável de um sistema bancário que fez empréstimos ruins, levou prejuízos e agora está tendo de contrair o crédito para se reestruturar.

Sendo assim, Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda deveriam estar vivenciando deflação de preços. E é justamente pelo fato de isso não estar acontecendo -- porque sindicatos não aceitam reduções salariais, e consequentemente empreendedores não reduzem seus preços --, que o desemprego está alto.

Este é o real problema da Grécia: a economia está em deflação monetária e os sindicatos não aceitam reajustes salariais para baixo. Ora, se uma economia está vivenciando uma deflação monetária, então você tem de reduzir preços e salários. Se isso não acontece, então o resultado inevitável é o desemprego. Não tem segredo. Tanto na Grécia quanto na Espanha e em Portugal, os sindicatos fecharam os mercados para si próprios, e quem está de fora não mais consegue entrar no mercado de trabalho. Uma tragédia. Se essa espiral deflação monetária/sindicatos rígidos não for resolvida, não há a mínima chance de solução para o desemprego. Colocar o governo para gastar um dinheiro que ele não tem não irá de modo algum sequer remediar esta situação.

Se há deflação monetária, então preços e salários têm de cair. Se eles não caem, então o volume de gastos será reduzido (menos dinheiro na economia e preços mais altos geram redução de gastos). A consequência inevitável é o aumento do desemprego.

Enquanto este desequilíbrio persistir, não haverá solução.

Grande abraço aí do outro lado do Atlântico.
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IRCR 28/05/2013 03:25:30
Leandro

Na Grécia aparentemente é o unico que está com deflação de preços ao contrario de Espanha, Portugal, Italia e quase o resto que está com inflação de preços mesmo com deflação monetária. A Irlanda está zerada a inflação de preços.
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Gabriel Miranda 27/05/2013 19:32:52
Olá, Luís! Vou me arriscar numa explicação, ok?

No artigo que você apontou, Krugman -- discípulo de Lord Keynes, o bombeiro da economia, o que só pensa em fazer reparos de curto prazo -- defende a emissão de moeda sem lastro e o endividamento público como política anticíclica. O mesmo de sempre.

Na conversa com os seus professores, comece pelo básico: dinheiro criado do nada não gera riqueza e endividamento irresponsável só torna as pessoas mais ricas até chegar a fatura para pagar.

A emissão de moeda sem lastro é como um cheque sem fundo: significa que alguém que nada produziu vai receber algo de alguém que produziu. Eu costumo chamar tal prática de "Monopólio do Estelionato", que é quando o estado toma para si a exclusividade de dar calote no mercado sem ser punido.

Imagine que eu queira comprar um carro, mas esteja sem dinheiro. Então, tomado por uma ideia genial, eu me dirijo a uma concessionária de automóveis e compro um carro com um cheque sem fundo. A concessionária, por sua vez, repassa o meu cheque para a montadora, e esta para o seu fornecedor de metais, e este para a fornecedora de minério, e assim por diante. Enquanto as pessoas tiverem confiança no meu cheque, ele vai movimentar a economia. No entanto, quando alguém resolver ir ao banco fazer o resgate do mesmo, vem o susto: não há dinheiro em minha conta. Eu apliquei um golpe na praça: nada produzi e ganhei um carro.

A única diferença entre o meu cheque sem fundo e o dinheiro sem lastro do governo é que a moeda estatal tem curso forçado (os cidadãos são obrigados a usá-la em suas transações), enquanto o meu cheque terá circulação cessada quando o golpe for descoberto. Se no exemplo do cheque o prejudicado foi aquele que resolveu ir ao banco sacar a quantia pro mim devida, com a moeda sem lastro do governo o prejuízo é rateado entre toda a população, na forma da inflação.

Como os austríacos bem nos ensinaram, políticas inflacionárias só beneficiam um pequeno grupo que está junto ao poder, à custa dos demais, que arcarão com a desvalorização monetária. O dinheiro adicionado pelo governo na economia não entra em todos os setores de maneira igual. Políticos e burocratas estatais escolhem quais serão os setores que receberão a quantia adicional do dinheiro falsificado e, por isso, serão beneficiados por um determinado nível de preços. A partir do momento em que esse dinheiro for se dispersando pela sociedade, o mercado vai sinalizar que a oferta monetária está maior e, assim, os preços subirão. Em alguns casos, tal política inflacionária pode gerar um ciclo econômico (procure ler sobre a TACE).

Lembre-se: Krugman só pensa no curto prazo, por isso é idolatrado por estatólatras populistas que só pensam nas próximas eleições.

Abraços!
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Luis Silva 27/05/2013 21:12:53
Agradeço as respostas, fiquei bem melhor esclarecido.

"dinheiro criado do nada não gera riqueza e endividamento irresponsável só torna as pessoas mais ricas até chegar a fatura para pagar."
Esta frase resume claramente os ultimos 20 anos de Portugal e restantes países do sul da Europa.

"Sendo assim, Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda deveriam estar vivenciando deflação de preços. E é justamente pelo fato de isso não estar acontecendo -- porque sindicatos não aceitam reduções salariais, e consequentemente empreendedores não reduzem seus preços --, que o desemprego está alto."
Só não entendo como não encontro economistas a defender essa redução de salários. O prório governo português chegou a abordar essa questão mas foi atacado por todos os meios da midia. Porque não aparecem austríacos mostrando esta solução ou apresentando outras opções, já que a Europa parece estar a ficar sem ideias?

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