segunda-feira, 22 de abril de 2013

A história dos SWAPS

Aparentemente há 2 sacrificados que foram demitidos de funções governamentais.
Exerceram cargos de gestão em empresas públicas na década anterior e recorreram a este tipo de produto financeiro para minimizar eventuais estragos caso a taxa de juro subisse.

Este tipo de operações foi realizado sobretudo ali por volta de 2008, quando as taxas de juro subiam vertiginosamente. O pessoal andava apavorado e tinha receio de que os custos com as suas dívidas e respetivos juros explodisse.

Os contratos SWAPS vinham dar esse conforto, sendo certo que caso a taxa de juro descesse, pelo menos até um nível mínimo, os custos com o financiamento até se agravavam.

No meio desta confusão aparece Outubro de 2008, e num ato de desespero da Reserva Federal, as taxas de juros vêem por aí abaixo. De 6, 7 % descem para 4, 3, 2, 1 até 0,25%. O BCE, com um ano de atraso começou também a baixar até chegarmos aos valores que hoje temos: 0,75% ou 0,%, já não me recordo bem.

Pelo meio tivemos o escândalo LIBOR, em que gestores de bancos concertavam a queda das taxas de juros, não refletindo a tal lógica de mercado que se exigia para o preço do dinheiro.

Tudo isto provocou uma queda dos juros desde 2009, voltando a subir, apenas para Portugal, a partir de meados de 2010. Só a meio de 2012 é que as taxas de juro voltaram a cair para valores em que os SWAPS são altamente prejudiciais, e parace-me que foi a partir daqui que as coisas começaram a correr mal.

Pergunta:
Considera-se como prática de boa gestão a contratualização de SWAPS?

Resposta:
Na minha opinião é um veículo financeiro como outro qualquer, com prós e contras. Se o gestor acredita, com a informação que tem na altura, que vale a pena correr o risco, então não vejo grandes problemas. Seria de esperar que fizesse também umas continhas e simulasse o que lhe calharia na rifa caso as taxas de juros viessem para valores tão baixos como realmente veio a acontecer. Talvez aí abrisse os olhos, mas a contratualização dos SWAPS é uma reação de MEDO perante a subida dos juros. Ninguém se vai lembrar de quão prejudicial é este produto caso os juros baixem muito.

Tudo isto para dizer que o problema destes gestores e destas empresas não são os SWAPS, mas sim a dívida acumulada. Os SWAPS são um mecanismo para tentar travar a subida da dívida e do juro ainda mais depressa do que aquilo que elas já sobem.

E porque é que sobem?
Porque estas empresas dão prejuízo ano após ano.
Comem o capital próprio
O Estado / Acionista não repõe esse capital
E só resta aos gestores emitirem dívida para financiar défices correntes
Quando a dívida acumulada se torna monstruosa, também os SWAPS serão monstruosos, já que são contratos que incidem sobre dívida já emitida ou a emitir

E estará alguém preocupado em reduzir os défices e posteriormente as dívidas destas empresas?
Tanto quanto julgo saber,  Não.

Os prejuízos em 2012 das empresas mais sufocadas com dívida (Metro Lisboa, Metro Porto e CP) estarão em linha com 2011, senão pior.

Todas estas empresas há muito que aniquilaram o seu capital próprio. Os seus balanços revelam que as instituições são insolvente há muitos anos.
E são insolventes porquê?
Não é porque dão prejuízo, mas sim porque o prejuízo que dão não é compensado com aumentos de capital/suprimentos do acionista (Estado).

Os gestores, como estes que acabaram de ser demitidos, são uns fantoches que andam de mão estendida, ora a pedir dinheiro ao Estado, ora a pedir mais financiamento aos bancos, e pelo meio recebem a visita de um administrador do BES ou do BCP a propor-lhes um produto espetacular que anula minimiza custos adicionais caso as taxas de juros subam: os SWAPS..

Outro produto que é legal e que também mete alguma confusão são os créditos Bullet. Já ouviram falar?
Basicamente, o Bullet obriga apenas a pagar o capital durante o período de amortização, sendo os juros pagos de uma só vez na última tranche da amortização.
Escusado será dizer que esta última tranche era já financiada com um novo Bullet ou produto semelhante, e por aí sucessivamente. Aldrabices financeiras é o que não falta por aí.

Para concluir:
Este escândalo das demissões por causa dos SWAPS é tão só um leve sintoma do que está para trás, que são os prejuízos acumulados sucessivamente, a não assunção de responsabilidades por parte do acionista e o recurso massivo ao crédito para sustentar operações do dia-a-dia.

Se estas empresas tivessem lucro e não se financiassem à bruta na banca, os eventuais custos dos SWAPS contratualizados seriam residuais e os Bullets nem sequer seriam precisos. Mas como a dívida é gigantesca, basta ao SWAP bater as asas para que apareça uma tempestade nos Balanços..

Tiago Mestre

4 comentários:

Carlos Rebelo disse...

muito bom!

Ricardo Anjos disse...

Caro Tiago:

neste caso, sou forçado a discordar contigo...

os gestores de empresas públicas (assim como os outros) não devem andar a fazer apostas (muito menos futurologia de taxas de juro)
se querem jogar, peguem no dinheirinho deles, e preencham o boletim do euromilhoes.

Gerir empresas não é o mesmo que gerir dívidas. e as empresas públicas não são casas de bonecas!
quanto às consequências, embora proporcionais à própria dívida, são curtas. A demissão de secretarias de Estado é uma anedota... até porque devem existir regras para a reintegração noutra coisa pública qualquer (como a do Silva Carvalho) . A prisão(encarceramento, literalmente) era mais adequada!

as crises vão e vêm... as únicas constantes neste sistema, são a incompetência, a negligência e a impunidade!

doorstep disse...

Estarão desculpados e deverão ser mandados em paz se se demonstrar que também eles apostaram nas mesmas oportunidades, e que também eles perderam tudo o que apostaram.

Se assim não foi, espera-se que alguma das jotas apresente queixa crime por delapidação de dinheiros públicos, e que o principio de responsabilização dos titulares de cargos politicos - em tempos preconizada pelo agora Sr. Primeiro Ministro Dr. Pedro Passos Coelho se lhes aplique sem delonga nem tergiversação.

Tiago Mestre disse...

Caro deathandtaxes

Não discordo de ti, sinceramente.

Teria que estar no lugar destes gestores para perceber como atuaria.

A decisão de ficar quieto e nada fazer é das mais difíceis de tomar, sobretudo quando estamos com MEDO de que as taxas possam aumentar