Caros leitores e leitoras, a impressão de dinheiro está para ficar e recomenda-se. Porquê?
Porque no curto-médio prazo está a resultar, e todos os receios que subjazem a este tipo de políticas, como o aumento vertiginoso de preços e queda do valor da moeda não estão a acontecer a uma velocidade que seja indicativa de receio.
Casos há, como no Japão, em que o receio daquela malta nem é a inflação, é exatamente o oposto, a deflação, ou seja, a valorização da sua moeda e queda nos preços.
Bastam este tipo de evidências para que qualquer governante apertado nas suas contas e que sucumba à tentação de imprimir justifique a sua opção de expandir a massa monetária.
Mas ainda há mais:
Imprimir dinheiro e canalizá-lo para os múltiplos veículos de financiamento que a engenharia financeira criou nos últimos séculos, e que aperfeiçoou brutalmente na década anterior, é o harakiri de qualquer político de vistas curtas.
Basta algum marketing político, conjugado com uma boa reflexão acerca do como é que os investidores se comportam, para se criarem condições brutais de atração de dinheiro "quente".
No Japão é isso mesmo que está a acontecer.
A Bolsa de Tóquio, o Nikkei 225, valorizou em 6 meses de 9000 pontos para 13300 pontos. Se a tendência continuar nos próximos 6 meses, a valorização anual será de 203%. E claro, recentemente obteve um recorde de captação de dinheiro estrangeiro.
E como tudo isto começou?
Com as promessas dos políticos de que brevemente começariam a imprimir para comprar tudo o que seja produto financeiro. Não sei se compraram ações de empresas cotadas no Nikkei225, mas isso também não interessa. O que interessa é que deram a conhecer ao mundo que estão a fazer qualquer coisa, e como anda muita gente desesperada em obter yield no seu portfolio, também eles não resistem a este magnetismo que os políticos um pouco por tudo o mundo andam a exercer.
Pondo-me na mente do investidor que é rico, poupou e quer investir para obter retorno, o plano dos políticos parece muito interessante:
1. Os produtos financeiros daquele país começam a valorizar porque o Estado começou a comprar aqui e acolá, tornando-se objeto de desejo para quem quer investir.
2. Qualquer produto financeiro que o mercado queira despejar porque está com medo de perder valor, o governo diz: "Alto e para o baile" que compro isso tudo com dinheiro impresso há 2 segundos. Só esta promessa política faz com que todos os produtos financeiros desse país deixem de ter risco de quebra no seu preço. Nos EUA isto já existe desde 2009. Na Europa só desde 2012.
3. Todas as empresas cotadas em bolsa vêem os seus balanços melhorados, colocando-as numa melhor posição para pedir mais dinheiro emprestado e investir, puxando pela economia e dando a sensação aos potenciais investidores que vale a pena comprarem mais ações, puxando ainda mais pelo preço das mesmas.
4. E como a atração de investidores gera maior liquidez nos mercados, ninguém quer pensar que o azar possa aparecer ai ao virar da esquina. A ideia é: caso haja um qualquer azar, como o mercado tem muita liquidez, em princípio conseguirei desfazer-me delas a tempo. E quem sabe, até contratualizo um CDS deste ou daquele produto para fazer um hedgezito no meu portfolio, protegendo assim a minha riqueza em caso de colapso.
Ninguém quer pensar no pior e todos querem esquecer o que aconteceu em 2008.
O MAU no meio disto tudo é que a massa monetária continua a expandir-se, a dívida e respetivas relações de dependência crescem, e no fundo a fragilidade global do sistema aumenta, mas até chegar o dia D, a coisa aguenta-se e vamos pensar no melhor, e não no pior.
O mundo e em concreto a civilização ocidental será um local difícil e complicado quando as portas do inferno se abrirem.
O que está a acontecer no mundo já aconteceu de certa maneira em Portugal:
Montes de dívida alocada em setores não produtivos, que depois acabam por torcer a economia. E quebrando as receitas, o sistema colapsa por falta de combustível.
Independentemente de estarmos ou não de acordo com a impressão monetária, o que a realidade nos está a tentar transmitir é que:
1. O ser humano embala naquilo em que acredita ser benéfico para si no curto-médio prazo. É uma "limitação" neuronal que temos e que não há solução para isso.
2. Fruto deste nosso modo de pensar, é possível criar e manter por muito tempo desequilíbrios na sociedade, nomeadamente desequilíbrios financeiros, sem nos apercebermos (enquanto sociedade) de que algo muito mau está a crescer por trás, pela calada.
3. Quando as coisas finalmente rebentam, então aí ocorrem um conjunto de ações que já são quase impossíveis de prever, porque estamos a pedir a muitos seres humanos para serem testados até ao seu limite, gerando toda a espécie de reações esquisitas e improváveis. Já não há soluções para problemas, só desfechos de situações inevitáveis.
A coisa até pode rebentar já amanhã, mas até lá ainda falta muito.
Tiago Mestre
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