Por Daniel Deusdado,
Não gostaria de ser desmancha-prazeres mas, pelo sim pelo não, acho que seria melhor alguém perguntar aos empresários se acham que a saída do euro é a melhor maneira de recuperar a economia... Eles são as pessoas que vivem do mercado internacional e seriam os primeiros a querer ganhar dinheiro com a desvalorização dos nossos produtos... Mas não pedem o regresso do escudo. Por que será?
Arrepiante o "Prós e Contras" de segunda-feira, na RTP, sem
um único empresário. Que João Ferreira do Amaral insista na tese, teórica, de
que a saída é a solução, é democrático. Mas a partir daí é o delírio. Jorge
Bateira, economista da esquerda ortodoxa, aproveitou o programa para
propagandear uma nova economia planificada pelo Estado, assente no milagre da
produção de notas ilimitadas pelo Banco de Portugal e na qual pagar as
dívidas do país é a utopia mesmo à mão. É barato e dá milhões. A Albânia, a
Bulgária ou a Ucrânia emitem moeda. São ricos? Competitivos?
Uma ruptura com a Europa, em nome dos pobres... Os pobres, que com o
fim da moeda europeia comprarão ao dobro do preço os importados medicamentos,
cereais que fazem o pão e tantos outros alimentos. Claro, ressurge então o
mito do Portugal autossustentável, o regresso à agricultura: sim, é uma boa
ideia. Mas vai demorar anos. E muitos problemas para concretizar - o
salazarista Alentejo 'celeiro' do país, irrigado pelo Alqueva para produzir
desastrosamente 'pão' de regadio em terras de sequeiro. Ou os férteis
terrenos litorais onde agora não há couves nem tomates mas sim urbanizações.
E agora, as cidades comem o quê?
E depois, os mitos do novo escudo. Mito 1: 'dinamizar o investimento'.
Questão: como se reindustrializa Portugal com máquinas industriais a custarem
o dobro do preço? Mito 2: a desvalorização competitiva para exportar... Só
uma pergunta (sem querer atrapalhar os académicos): quantos meses dura? E a
inflação galopante a destruir rapidamente a desvalorização e os saláros? E as
taxas de juro (impossíveis de calcular neste momento)?
Enfim, sem o euro, os amanhãs cantarão... Fome, mais desemprego,
dívidas em euros apesar de salários em escudos, depósitos bancários
desvalorizados para todos ('Chipre' é uma brincadeira comparando com isto),
fronteiras bloqueadas para evitar a fuga de milhares de portugueses...
Obviamente Portugal tem de se preparar para este cenário de saída do
euro caso não consiga encontrar uma liderança que mobilize trabalhadores e
empresários - além de precisar de contas mais direitas no Estado. Mas daí até
sermos nós a atirarmo-nos de cabeça para o abismo a fim de sentirmos a
suprema liberdade do nosso destino (o prazer do voo!), ignorando a terrível
queda, é demencial.
Até porque não é verdade que a alternativa seja apenas a de nos
rendermos à fórmula recessiva, falhada, da troika. Há outra hipótese. Está
dita e escrita em muitos lados, discutida até à exaustão: a Europa criou uma
moeda única, estabeleceu limites para o défice mas não estabeleceu um
mecanismo que permitisse aos países sobreviver num momento de hecatombe
económica. Esse mecanismo chama-se 'eurobonds'. Ou seja, dar a possibilidade
de obter financiamento nos mercados mundiais a taxas de juro decentes
(usufruindo da solidez, em bloco, da economia europeia). Nem sequer
precisamos do dinheiro alemão: precisamos é de continuar a aceder ao dinheiro
mundial que comprará eurobonds europeias. Isto, obviamente, com rigor nas
contas, menos défice, mas também mais tempo para endireitar a economia.
Infelizmente Merkel não quer e Gaspar, Rajoy, Hollande e os italianos não
ousam.
E é nas eurobonds que o nosso futuro se vai decidir. Porque ou a
Europa se salva a si mesma ou é o caos. Era útil, no entanto, que neste
compasso de espera os portugueses não optassem pelo suicídio político,
coletivo, indo atrás do canto da sereia das 'facilidades' do escudo. Por mim
prefiro Portugal na primeira divisão do Mundo, ainda que com dificuldades
durante uns anos, que ser campeão do campeonato de amadores.
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sexta-feira, 19 de abril de 2013
Suicidarmo-nos não é boa ideia
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1 comentário:
Mesmo no campeonato do mundo de amadores estivemos sempre em baixo. Basta ver como é que o país andou nos tempos da I República e entre 1974 e 1986. Uns tempos gloriosos sem dúvida...
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