domingo, 7 de abril de 2013
Bater o Punho (Parte 2)
Resposta ao ilustre anónimo
Caro anónimo, já todos sabemos que a culpa está distribuída por muita gente, e no meio de mortos e feridos, a história conta-se normalmente por aqueles que a venceram e/ou que a manipularam muito bem.
Mas olhar para trás e encontrar culpados, quanto muito, servirá para tentarmos aprender com os erros e evitar repeti-los. Fora isso, é exercício inútil. Mas como tenho a noção que a grande maioria dos portugueses olha para trás só para encontrar culpados e não para aprender com os erros destes, então mais vale estarem quietos e ver a telenovela.
O que interessa agora é que o défice do Estado é de 10 mil milhões, e enquanto não o reduzirmos para zero, o endividamento não irá parar de crescer. É aritmética simples.
E para chegar a zero, a economia terá que ficar em cacos, porque baseou-se ao longo de décadas em empregos que não eram produtivos o suficiente para se pagarem a eles mesmos. Era preciso recorrer a crédito para continuar a andar.
Foi assim no Estado, nas famílias e nas empresas.
Em 1996:
PIB: 96 mil milhões
Dívida Estado: 54 mil milhões
Dívida Total: 90-100 mil milhões (aprox)
Em 2012:
PIB: 166 mil milhões
Dívida Estado: 200 mil milhões
Dívida Total: 700 mil milhões (é mais ainda mas não sei de cor)
Mas ainda há dúvidas de que gastámos mais do que podíamos?
É CLARO QUE VIVEMOS ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES. MAS NÃO FOI MUITO NEM POUCO, FOI UMA BARBARIDADE!
Então o PIB cresceu pouco mais de metade e a dívida aumentou sete vezes. Mas está tudo maluco?
E o que é que fazíamos com todo esse crédito?
Comprávamos sobretudo coisas ao exterior, "que por azar", entra na fórmula do PIB com um sinal menos. O que ganhávamos nos consumos públicos e privados perdíamos nas importações, e pelo meio julgávamos que estávamos a enriquecer.
PIB = Consumo Privado + Consumo público + Investimento + Exportações - Importações
Era ver só carros novos, estradas, casas, prédios, centros comerciais cheios. Enfim, só podíamos estar a enriquecer certo? ERRADO.
Porque a dívida, essa sacana, ia crescendo pela calada, sem se mostrar.
E não foram só as PPP's, os submarinos, o BPN, e por aí fora que nos deixaram assim.
Esses epifenómenos foram um reflexo, uma consequência do modus vivendi instalado. E o modus vivendi era este:
Com crédito barato
se não usufruis
ou és tolo
ou és atrasado
A agricultura, o agro-florestal, a pecuária e a indústria de apoio ao setor primário, por muito que nos façam empobrecer (e farão, como referes), será a bitola que nos permitirá perceber que o que a terra nos dá é que definirá o grau de riqueza a que poderemos almejar.
E se quisermos mais, teremos que ser novamente navegadores, descobrir o que outros ainda não descobriram, sair daqui e procurar novos mundos. Mas tudo isto demora muito tempo.
Recorrer ao crédito para enriquecer não é ser navegador, é ser parolo.
Tiago Mestre
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2 comentários:
Perfeito! Concordo mesmo em tudo Tiago.
Acrescento... vê-se muitas vezes na televisão os anti austeridade e pró despesa referir que se queixam e manifestam porque estão a pensar nos filhos. Tenho a dizer... Egoístas! A única coisa que vocês estão a pedir é despesa para viverem melhor no presente e que paguem os vossos filhos a vossa boa vida!
Culpados? Só vamos avançar quando percebermos a culpa que cada um de nós tem no processo.
Excelente, muito bom mesmo.
As contas essas, quem costuma ler este blog já percebeu que até não são difíceis de fazer, o que me faz acreditar que os políticos por muito burros que sejam também as fazem e simplesmente as ignoram e tentam fazer-nos acreditar que com algum passe de mágica tudo se vá resolver.
Quanto a culpados o Tiago tem razão, é muito fácil querer torcer o pescoço ao Sócrates (eu incluído) mas a questão é: ele seguiu essas politicas com o nosso voto (nosso=colectivo geral) portanto ele representou-nos como um todo e basta ver as manifs para perceber que querem que volte a ser assim. Aprender com os erros do passado? Não me parece.
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