Não faço ideia do que irá o Tribunal Constitucional decidir, até porque como sabemos, a Constituição tem margem de manobra suficiente para que uma pessoa interprete X e outra interprete Y, estando ambas a olhar para o mesmo documento.
Caso haja chumbos nas 3 leis do OE2013 em que Cavaco Silva tem dúvidas, aparentemente será por razões de desigualdade na distribuição desses mesmo sacrifícios.
Os sacrifícios serão estes:
A suspensão do pagamento do subsídio de férias ou equivalente (artigo 29 da Lei do Orçamento do Estado para 2013), a suspensão do pagamento do subsídio de férias a aposentados e reformados (artigo 77) e a contribuição extraordinária de solidariedade (artigo 78)
Talvez seja o último artigo o mais "desigual" aos olhos dos juízes, e portanto mais suscetivel de não passar. Os outros também são desiguais, mas se são muito ou pouco e portanto elegíveis ou não para serem chumbados, para já só a malta do Palácio Ratton é que sabe.
O que eu sei é que o mundo e a vida dos seres humanos é profundamente desigual.
Depende de tanta coisa e de tantas circunstâncias diferentes que almejar que uma sociedade seja igualitária é ter pouca experiência de vida e pouco conhecimento da história. É querer que tudo seja igual e perfeito.
Isso não acontece nem em momentos de prosperidade, e muito menos em momentos de declínio.
A intenção, mais uma vez, é boa: proteger os mais fracos e incidir nos mais fortes. Redistribuir de forma coerciva para aproximar populações e níveis de vida e de rendimentos.
Como ideal, é um conceito interessante e sedutor, mas aplicado na prática precisa de muitos ajustes.
Se o TC considerar que a medida "contribuição extraordinária de solidariedade" é inconstitucional, e esta valer 1000 milhões ao ano por exemplo, a minha sugestão para o PSD/CDS é que corte em TODAS as pensões, desde os 150€ até aos 50000€, sempre com a mesma percentagem. (10% por exemplo)
10% de 150 são 15€
10% de 50 000 são 5000€
Pronto, já é equitativo e progressivo.
E se o corte nos subsídios dos trabalhadores públicos e dos reformados for também inconstitucional, então que se aplique o corte nas 14 remunerações, equivalendo em valor à medida previamente chumbada.
Se não vai por um lado, então vai pelo outro.
E se mesmo assim continuar a ser inconstitucional e ninguém quiser mudar a Constituição (2/3 do Parlamento), a minha opinião é que o PSD/CDS DEVE CONTINUAR A PROPOR MEDIDAS INCONSTITUCIONAIS, porque essa será a única forma de TENTAR reduzir despesa e reduzir défice.
Não é possível cortar 10 mil milhões de euros sem ir a rúbricas consideradas "sagradas" pela Constituição.
E se não conseguirem, atirem as culpas para a Assembleia e para o TC, e lavem daí as suas mãos, não assumam o fracasso das políticas.
E no ano seguinte voltem a propor as mesmas medidas, ou ainda mais gravosas, já que por cada ano que passa há mais despesa que é preciso corrigir. A troika já anda a pedir cortes de 5,6 mil milhões...
INSISTIR, INSISTIR, INSISTIR até que o poder judicial e legislativo perceba que vai nú e que tem que se afastar da condução do Executivo.
Aumentar receita como fizeram em 2011 e 2012 como alternativa ao corte de despesa é medida de curto prazo. Os grandes contribuintes começam a fugir, o PIB cai e as receitas fiscais ficam muito aquém.
Só resta ir à despesa, mais nada.
Correções financeiras como aquelas que Portugal precisa exigem recessões de 10, 15%, 20% ao ano durante algum tempo, até que as receitas ordinárias equilibrem com as despesas ordinárias.
O resto é conversa mole e discussão que não leva a lado nenhum.
Mas porque é que Passos Coelho e Gaspar não viram isto em 2011 e não informaram a população?? PORQUÊ?
Tiago Mestre
3 comentários:
Eu penso que Portugal a continuar assim nunca mais se vai levantar, se calhar seria melhor sermos um pais mais pobre, mais rural menos dependente do exterior, mais fechado, "mais Salazarento".
Obviamente com liberdade!.
Excelente post tiago
As pensões já não vão lá com impostos e com contribuições de solidariedade. Tiago, a melhor maneira de evitar a inconstitucionalidade é recalcular todas as pensões novamente e introduzir progressivamente um teto (plafonamento) às pensões, sucessivamente mais baixo até chegar a 1700-2000€. Caso contrário, estará sempre condenada ao fracasso.
Assino por baixo!
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