sexta-feira, 5 de abril de 2013

Humilde ajuda ao manifesto dos 72 economistas

O manifesto de 72 economistas a pedir cortes na despesa para que esta desça para 40% do PIB significa baixá-la de 80 mil milhões (dados Eurostat 2011) para 64 mil milhões. Tudo isto considerando que o PIB se manterá na casa dos 160 mil milhões (o que não será fácil).

Resumindo, o corte proposto rondará os 15 mil milhões de euros.

Ora, cortar 15 mil milhões de euros não é assunto que se "trate" em manifestos, vindos de economistas que alguns deles serão até políticos influentes ou muito próximo disso.

Se acham que têm que cortar 15 mil milhões, então que apresentem uma candidatura às próximas eleições legislativas e expliquem muito bem explicadinho onde irão cortar 15 mil milhões.

É que para o governo atual cortar mil milhões em pensões e mais algumas tretas já é um berbicacho do caraças porque:
ou é inconstitucional
ou ilegítimo
ou anti-social
ou anti-democrático
enfim, é só escolher..

E vem agora um manifesto de 72 economistas tentar passar a ideia de que cortar 15 mil milhões é meramente uma questão de vontade, em que basta cortar uns gastos nos ministérios, renegociar as PPP's e mais umas tretas e a coisa vai. É claro que não vai...

As ações valem mais do que as palavras, e se têm poder para mover influências, então que lutem pelas suas ideologias é submetam as suas propostas aos votos dos portugueses.

No manifesto ressalta outra ideia que me parece algo falaciosa:
É que o dinheiro que deveria estar a ser injetado na economia está a ser consumido pelo Estado, e por isso pouco sobra para esta se dinamizar e crescer...

Quem lê o manifesto e pouco percebe de economia e finanças pode ficar com a sensação que bastará cortar na despesa do Estado e a economia privada começará logo a crescer desalmadamente, já que as injeções de combustível começam a ser maiores neste setor da sociedade.

Sabendo nós como sabemos o endividamento das empresas, das famílias e do Estado em função do PIB (105%, 300 e tal% e 123% respetivamente) o que me parece é que combustível não faltou, aliás, até houve em abundância, e não foi isso que fez a economia crescer

Moral da História:
É preciso também dizer que cortar na despesa do Estado significa DEPRESSÃO ECONÓMICA.
As oportunidades para novos investimentos, recorrendo a bons meios técnicos e gente qualificada não estão ali "parados e à espera" ao virar da esquina, caso o governo decida hoje cortar despesa.

Se o governo decide cortar despesa hoje cria no dia seguinte um buraco económico, e que não será preenchido nem no dia a seguir nem no mês que vem. Demora tempo e não se tem a certeza se será efetivamente preenchido.

Desculpem-me fazer papel de advogado do diabo, sabendo eu que é muito melhor haver manifestos destes do que não haver nada, mas temos que ser sérios, e para sermos sérios temos que explicar, tanto quanto nos for possível, todas as consequências que advêm das nossas ações/propostas.

Se assim não for as pessoas deixarão de confiar em nós quando os resultados forem diferentes daquilo que tínhamos prometido. E pior ainda será não querer assumir os erros das nossas opções.
Não seremos muito diferentes de Passos Coelho ou de Sócrates, que tudo prometeram sem saberem se poderiam minimamente cumprir ou não.

Mandaram o barro à parede e depois logo se vê.
Já todos percebemos os resultados deste tipo de opções políticas.

Tiago Mestre

1 comentário:

Unknown disse...

Nos últimos 20 anos assistimos a um brutal aumento da produtividade das empresas motivado pela introdução das novas tecnologias nos processos produtivos das atividades que contribuem diretamente para a sobrevivência das famílias (alimentação, habitação, saúde, educação, transportes, comunicações).
Centenas de milhares de pessoas foram afastadas desses processos produtivos por esse motivo. Essas pessoas só podem sobreviver se arranjarem emprego em empresas exportadoras ou se emigrarem. Não sendo isso possível, ou morrem à fome ou são apoiadas monetariamente pelo Estado (RSI, Sub. Desemprego, pensões).
Como não sou economista posso estar a dizer um grande disparate, mas penso que esta forma de abordar o problema faz sentido.