quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Não plante, o Gaspar não garante!

Nicolau Santos do Expresso escreveu isto numa espécie de blog do Expresso online:


O ministro das Finanças admitiu terça-feira no Parlamento que o ajustamento português "vai demorar anos até se assegurar uma posição orçamental prudente". "Serão necessárias algumas décadas para atingir níveis de endividamento público abaixo 60% do PIB previstos no Tratado de Lisboa", disse.
Quanto ao objetivo de atingir um défice estrutural de 0,5% do PIB "não será atingido antes de 2015". Finalmente, frisou a importância da redução permanente da despesa do Estado em quatro mil milhões de euros, mostrando-se convencido de que tal não implica uma revisão da Constituição.Duma penada, Vítor Gaspar destrói quatro mitos alimentados pelo Governo.
O primeiro é que o caso português se resolvia facilmente cortando as famosas gorduras do Estado. Não resolvia.
Segundo mito: que o ajustamento duraria no máximo até meados de 2014. O que Gaspar agora que nos diz é para nos desenganarmos. Isto vai demorar não anos mas décadas até conseguirmos uma dívida pública inferior a 60% do PIB.
Terceiro mito: a redução do défice estrutural também já não é para 2014. Para já, passa para 2015. E isto, claro, ficando dependente de inúmeros fatores, já que, como disse, em tempos conturbados, os resultados das políticas macroeconómicas são muito incertos...
Quarto e último mito: é possível cortar 4000 milhões na despesa pública sem alterar a Constituição. Esta conversa resulta da evidencia de que o PS não apoiará uma revisão constitucional. Vai daí, passa-se para o plano B - fazer o mesmo, ignorando a lei, neste caso a lei fundamental da República.
Ou seja, tudo o que nos prometeram - um ajustamento rápido até meados de 2014, regresso aos mercados em setembro de 2013, diminuição da dívida pública em percentagem do PIB, redução do peso do Estado na economia com corte nas gorduras - está posto em causa.


Eu até compreendo que o Nicolau Santos "tenha" que acreditar naquilo que os políticos dizem, mas já não compreendo a falta de escrutínio que a classe jornalística tem para com a classe política.
Escrutinar significa investigar, procurar informação que corrobore ou refute a sintetização que a classe política nos faz da realidade em 5 ou 10 minutos.
No escrutínio a Gaspar e a Coelho, é preciso ler os relatórios da DGO, do Eurostat, do BdP, e INTERPRETÁ-LOS.
Se o fizesse, hoje não se sentiria enganado ao ver que TUDO o que foi transmitido desde a campanha eleitoral até agora às populações a propósito das contas públicas e da economia foram cenários totalmente irrealistas
Felizmente para os leitores do Viriatos, do Contas, do Espuma, e de outros blogues parecidos, tal "descoberta da verdade" já se deu há uns meses valentes. Ainda bem.

Com este tipo de jornalistas, o jornalismo oficial parece estar a andar para trás.
Porquê? Não sei. Só sei que assim perdem leitores e deixam de ter o papel decisivo em informar as populações do que realmente se passa nos bastidores.

Tiago Mestre

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