sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Combate de boxe de sexta-feira, 30 Novembro: Capital vs Social

Para quem ouviu a Antena1 ao longo do dia de hoje, certamente que não ficou indiferente aos testemunhos que foram sendo relatados na rádio pública acerca dos problemas de fome e miséria que ocorrem um pouco por todo o país.
Os testemunhos daqueles que gerem instituições que contactam e apoiam diretamente estes casos de miséria é ainda mais impressionante, já que têm muitas histórias para contar, e que histórias!

Felizmente, para uma parte da sociedade, na qual em que eu me insiro, este tipo de situações está, pelo menos para já, relativamente longe. E não é só comigo, porque acredito que o mesmo se passa com 100% dos leitores do Viriatos.

Ainda estamos longe do que já está a acontecer a uma parte significativa da sociedade.
E quem não contacta diariamente com estas realidades, dificilmente as conjetura, e como não as conjetura, tem alguma dificuldade em perceber o que verdadeiramente se está a passar.

Há uns dias, a propósito de um comentário produzido por um dos nossos leitores, fiz aquela analogia da rã que se deixa ir aquecendo dentro da panela até ser tarde demais.

E a ser verdade que temos hoje um problema social grave com gente que até há uns anos vivia bem e agora tem que recorrer a ajuda para comer, o que tal significa é que muitos de nós se deixaram levar pela história da rã, em que baseando-se na fé e na esperança de que amanhã seria melhor do que hoje, características aliás típicas do português, preferiram adiar as decisões difíceis e reforçar as fáceis.
Se todos nós olharmos com humildade para os nossos comportamentos, vemos que numa base quase diária há muita coisa chata que se deveria fazer mas que se adia, quer seja nas relações pessoais, no trabalho e sobretudo nos nossos comportamentos individuais.

Somos mesmo assim, e não considero isso como sendo negativo. O que é negativo é exagerarmos, é termos a consciência do que deveríamos fazer e adiamos persistentemente, sem querer olhar para o que está a acontecer.

E para os leitores do Viriatos, desculpem-me a ousadia, é ainda mais imperdoável que comportamentos desta natureza perdurem, e porquê? Porque já todos sabemos que as coisas não melhorarão antes de piorarem muito mais.
Gente haverá que considera que já batemos no fundo, ou que a recuperação está iminente, e portanto é escusado pensar em cenários mais gravosos da nossa condição económica. Ok, temos que respeitar, e de certa forma, é essa a tendência natural do ser humano, e mais especificamente do português.
Mas para quem os números querem dizer alguma coisa, penso ter sido exaustivo nestes últimos 2 anos a referir os buracos negros que nós, portugueses, temos em mãos daqui prá frente.

Desde já vos digo que tentei preparar-me tanto quanto possível para o que possa aí vir, apesar de que, como também já referi no comentário acima referido, subestimei a capacidade dos políticos em adiar e comprar tempo. Mas infelizmente, é só isso que conseguem fazer, já que os problemas há muito que desapareceram e agora só já temos inevitabilidades, que acabam em desfechos e nunca em soluções.

Sendo eu um apologista do corte da despesa e dos impostos, sinto-me obrigado a defender o governo por este ter tentado cortar despesa. Posso não concordar nem com o método nem com o alcance, mas só a intenção de o fazer já é de louvar, isto porque o que vejo na nossa sociedade é uma brigada de costumes a exigir ao governo que não corte na despesa porque ela é fundamental para manter salários e que não aumente impostos porque irá empobrecer ainda mais os portugueses.
Certamente que com tanta impreparação e intransigência desta gente, no seu íntimo só se podem estar a CAGAR para o défice e para a dívida. Só pode.
Aliás, o que eles querem é que o défice e a dívida se FODAM, perdoem-me a linguagem, já que esse é um assunto que não lhes assiste. Isso é problema do governo e o governo que se amanhe com ele.
São estas vistas curtas que me tiram do sério.

Perante tanto interesse instalado e tanta falta de visão sobre o país como um todo, tenho a obrigação de estar ao lado do governo.
As forças vivas do nosso país estão muito atrás na capacidade de perceber a real condição de Portugal e da total incapacidade do governo em continuar a tirar àqueles que já não têm para dar àqueles que muito precisam.
Os que precisam, precisam, mas os que contribuem já não podem contribuir mais.Temos um dilema.

As contribuições para a SS em 2013 ascenderão, se tudo correr bem, a 32 mil milhões de euros, perspetivando-se que as despesas ascenderão a 39-40 mil milhões euros. Em 2012 tivémos 32 para 37, se a memória não me atraiçoa. Num só ano as contas da SS agravam-se em 2 mil milhões! O buraco negro é de tal forma exagerado (7 mil milhões em 2013) que nem há sequer discussão possível, pelo menos para mim. Pelos vistos, para as forças vivas da sociedade, o governo tem a capacidade de corrigir tudo isto, bastando vontade e capacidade de "amedrontar" os lobbies e as corporações todas poderosas.
Para mim, analisando objetivamente os números, as corporações todas poderosas são exatamente aquelas que dizem o contrário, que são as outras, as do capital, as todas poderosas.

E só afirmo isto porque não há lobbies do capital que abocanhem a quantidade de dinheiro que as corporações do social abocanham. Também abocanham, mas calma, pelo menos produzem qualquer coisa, fazem as coisas pela calada e não andam a encher os ouvidos das pessoas que são as corporações do social as culpadas e que as deles é que são as boazinhas.
As do social são implacáveis, com máquinas de informação e desinformação tão bem calibradas que viram qualquer sociedade do avesso, fazendo com que o que é preto seja olhado como sendo branco.

Hoje tivemos, em simultâneo com o programa da Antena1 mais um congresso do PCP, em que a palavra de ordem foi abaixo o capital todo-poderoso e este governo por causa das políticas, imagine-se, de direita.
Quando somos muito inteligentes, que não é o meu caso, conseguimos criar ilusões de semântica, em que damos a entender que certas distinções entre a esquerda e a direita fazem uma grande diferença, mas que na verdade, não passam de distinções sem diferença quase nenhuma.

E o grave disto tudo é que o pessoal continua a acreditar que esta política de "direita" pode ser substituída por outra qualquer (que ninguém sabe qual) e que reduzirá a pobreza, o emprego e num ápice voltará a pôr o país a crescer.
Não há palavras para descrever a lavagem ao cérebro a que as pessoas estão hoje sujeitas.

Li também ontem a carta que ilustres cidadãos portugueses escreveram a Passos Coelho, e numa coisa têm toda a razão: o que Passos Coelho prometeu na campanha eleitoral e aquilo que depois veio fazer lançou-lhe um anátema de descrédito que da cruz já não se livra. Mas na minha opinião, esta falha imperdoável de Passos é meramente uma rampa de lançamento dos ilustres para criticarem aquilo que verdadeiramente querem atacar: a não concordância com a política de austeridadezinha que está em marcha.

Se a Segurança Social equilibrasse hoje as suas contas, que é o mínimo que deveria fazer para que os que contribuem hoje tenham reforma amanhã, as reformas abaixo dos 600€ teriam que sofrer cortes de 50% ou mais, já que 90% dos pensionistas aufere pensões inferiores a este montante.
Esqueçam lá as reformas milionárias. Podiam reduzi-las todas para 500€ que NÃO MUDAVA UMA VÍRGULA, já que representam pouca despesa no bolo total.
Matematicamente é isto mesmo, e como o dinheiro se quantifica em linguagem matemática, e não noutra linguagem qualquer, ou pegamos o touro pelos cornos ou então fugimos ao impacto e assobiamos para o lado com semântica e paleio estragado.
Se tivéssemos consciência do impacto no aumento da pobreza dos portugueses de tais decisões, teríamos nós coragem de vir dizer à televisão que TODAS as pensões seriam para cortar 50%, caso fôssemos nós os governantes?
Não é qualquer pessoa que anuncia e se propõe a decisões destas.. Ter coragem para ser homenzinho, como costumo dizer, não é pêra doce nem é tarefa para qualquer um.

Nos dias que correm, grosso modo, 50% da população contribui e 50% da população usufrui. Conhecem sistema social e económico mais desequilibrado?
Talvez consigamos chegar a 40-60 ou até 20-80, já que não sei quando é que isto rompe.

Amanhem-se, porque o que eu quero é o meu e o dos meus, e os outros, os "inimigos", que se fodam. E já agora, sejam otimistas, tenham uma palavra de esperança, mesmo que não se consubstancie em nada de palpável e nada façam no plano individual para corrigirem os desvios, porque, nunca se esqueçam, o amanhã que há-de vir será sempre melhor, independentemente de se prepararem ou não para ele.
Mas qa ganda ideologia

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

Post corajoso Tiago.

Uma boa parte da população alienou-se e não quer cair na real.

Mas eu tenho um conselho para essa gente:

Querem saúde boa e gratuita?

Emigrem para Cuba.

Querem educação gratuita para todos o tempo todo?

Emigrem para a Coreia do Norte e até aprendem de extra uns cânticos afinandos ao querido líder.

Para os mentores e senhores do regime, donos e senhores da constituição, de fundações, de pensões e direitos adquiridos podem ir todos para a PQP, que os pariu mesmo.

vazelios disse...

Bom post Tiago.

Eu já estou como tu, apesar de não explicar tão bem. Já explico as coisas irritado.

A falta de compreensão da situação, por pessoas instruidas, é gritante.

Isso juntando aos ilustres senhores que aparecem na TV, mais à pobreza instalada dos mais carenciados que, coitados, muitos não têm culpa, é de meter pena.

No fundo todos pedem cortes na despesa em vez de aumentos de impostos, mas na verdade ninguém quer cortes na despesa.

Cortem em qualquer coisa, que não sabemos bem o que é, mas façam tipo um milagre qualquer! Desde que não seja no meu salario!

Já começo a dizer que o melhor é ir o Inseguro para lá, para ver se esta grande parte da população de parolos que acham que este problema se resolve dum dia para o outro, fica de vez desiludida, conformada e acorde para a vida. Porque isto vai doer, e vai doer pelo menos uma década.

Há muita injustiça, muita corrupção, é verdade, mas nós também temos de fazer a nossa parte.

Refilar e mandar vir contra os "poderosos" e corruptos deviamos nós ter feito no tempo das vacas gordas quando havia derrapagens de 300% nos euros e pontes e casas de música. Mas não, nessa altura era noticia para um dia que passava logo!

Anónimo disse...

CONTINUA O EXCELENTE TRABALHO, E PENA ESTES TEXTOS NAO CHEGUEM A MAIS GENTE, PARABENS

CUMPRIMENTOS