sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Abu Dhabi avança na compra de dívida portuguesa

Abu Dhabi pretende investir em dívida pública portuguesa, segundo noticia o Económico.

É sempre bom sabermos que há outros países que acreditam em nós, e que mesmo com uma austeridadezinha que não produz os resultados desejados, nomeadamente a diminuição da despesa pública, sempre lá vai havendo alguém que acredita naquilo que estamos a fazer.

Infelizmente, a minha opinião é que no contexto em que estamos e com a dificuldade em cortar na despesa pública, esta continuará a aumentar e a receita a diminuir.
Ou seja, objetivamente, o buraco entre despesas e receitas ordinárias é, desde 2008/2009, aproximadamente entre 10 e 16 mil milhões de euros ao ano. E é mais ou menos isto que se acrescenta à dívida pública, dependendo se há privatizações ou a incorporação de outro tipo de receitas extraordinárias.

Por este caminho, teremos lá para 2015/2016 uma dívida que rondará os 220 a 230 mil milhões de euros, e um PIB entre 150 e 155 mil milhões de euros. O rácio da dívida andará pelos 150% do PIB.

O que isto sugere é que, quer queiramos quer não, a dívida portuguesa, mais cedo ou mais tarde, irá passar por uma tempestade que se chama default. Eu não me importo nada que tal aconteça, inclusivamente a minha opinião é que quanto mais depressa cair para 40 ou 50% do PIB, melhor.

Mas também sabemos que em 2014, 50% da dívida será detida pela troika, e esta, relutante em assumir prejuízos, tentará, ou adiar prazos e juros lá mais para o futuro, como fez agora com a Grécia, comprando apenas tempo, ou então espetar as bandarilhas aos credores privados, como fez em Março também com a Grécia.

E é aqui que talvez os monarcas de Abu Dhabi estejam a subestimar toda esta questão:

- Ou porque irão investir pouco dinheiro, valendo a pena correr o risco já que a yield a 10 anos anda pelos 7,5 a 8%.
- Ou porque têm a "garantia" de que o BCE estará a postos para cobrir as más apostas efetuadas pelos bancos
- Ou porque acreditam genuinamente que em 2 - 3 anos Portugal terá energias suficientes para voltar a crescer, tendo que servir mesmo assim uma dívida muito superior ao seu PIB, com uns juros que já somam 8-9 mil milhões de euros, desemprego acima de 15%, poucos trabalhadores ativos no privado a contribuir e muitos reformados/funcionários públicos a usufruir

- Ou então um bocadinho das três

Tiago Mestre

3 comentários:

Carlos Rebelo disse...

Tudo muitíssimo correcto!
Tão só acrescento,em jeito de pormenor, a aquisição por via desses fundos de parte ou da totalidade de uma ou mais "marcas futebolísticas" aqui da praça, à semelhança do que já aconteceu no reino de sua majestade...
:)

Vivendi disse...

Para os árabes investirem na dívida há algo em Portugal que lhes interessam.

Anónimo disse...

Como uma boa noticia se torna numa ma noticia no reino dos pessimistas