domingo, 25 de novembro de 2012

Energia: contexto e dicas para poupar

Caros leitores e leitoras, com este post pretendo dar alguma continuidade ao exercício já começado acerca da importância que a eletricidade, e de forma mais genérica, a ENERGIA, assumem nas nossas vidas.
O post é maior do que o normal para dar algum contexto.

Desde sempre que a energia tem sido o fator principal na evolução da espécie humana. Sendo a Energia um termo muito difícil de descrever, assume-se de forma genérica que Energia = capacidade de realizar trabalho.

O ser humano, com a sua arte e engenho, começou muito cedo a perceber que manipulando certas variáveis presentes na natureza, como a água, o sol, as terras, a madeira e o ferro, era possível obter mais energia (alimento) depositando uma menor quantidade de trabalho manual. Essa evolução, que poderíamos apelidar grosseiramente de produtividade, reforçou a sua trajetória positiva até aos dias de hoje.

À medida que a produtividade ia aumentando, novos hábitos se foram adquirindo:
Cidades de maior dimensão
Aumento da população
Surgimento de novas profissões
Obtenção e acumulação de bens supérfluos, etc, etc

Foram muitas as frentes em que o ser humano se debruçou para melhorar as suas condições de vida, tendo essa tenacidade perdurado até aos dias de hoje.

O surgimento da eletricidade no início do século XX trouxe, mais uma vez, uma mudança de paradigma na civilização humana. Com a eletricidade era possível obter de forma instantânea, sem esforço algum, movimento mecânico, calor e luz artifical.
Bastaram estas 3 aplicações elétricas para que a vida nas cidades mudasse a toda a velocidade ao longo da primeira metade do século XX. Na segunda metade surgiram os frigoríficos e todas as aplicações de lazer, tendo a televisão e mais tarde os computadores assumido o papel principal na captação do tempo livre das populações, ele próprio também fruto das inovações que a eletricidade tinha trazido anteriormente.

As populações adaptaram-se a esta nova forma de viver, e a pouco e pouco a dependência pela energia elétrica foi crescendo.
Os prédios cresceram em altura graças aos elevadores
A água podia agora ser bombeada para alturas muito elevadas de forma fiável e permanente
O aquecimento com recurso a aquecedores elétricos substituiu as convencionais lareiras, e por aí fora.

Tudo isto foi possível porque se descobriram recursos fósseis acumulados no planeta ao longo de milhões de anos que armazenavam dentro de si enormes quantidades de energia. Bastou ao ser humano inventar ferramentas que convertiam a energia contida nos recursos fósseis em energia elétrica. Com a perceção generalizada de que a energia acumulada debaixo da terra era tão abundante, a corrida à invenção de ferramentas que facilitavam a vida do ser humano conheceu décadas de glória.
Os automóveis e mais tarde o transporte aéreo simbolizam uma das maiores conquistas do ser humano em relação a uma das limitações que mais o atormentavam: a dificuldade em se locomover de forma rápida e barata.
A eletricidade não entrou no mundo da locomoção (à exceção do comboio) porque nunca se descobriu algo melhor do que baterias para armazenar energia elétrica. E até hoje, as baterias continuam a ser péssimas na acumulação de energia elétrica:
são muito pesadas
são caríssimas
armazenam pouquíssima energia
apenas armazenam corrente contínua DC
e possuem vida útil muito reduzida...

mas à falta de melhor, é o que temos.

A eletricidade entrou definitivamente na vida das pessoas pela porta de sua casa, ou seja, alimentando equipamentos "estacionados", ou quase.

Outro dos segredos do sucesso da energia elétrica prende-se com as linhas de transporte. Com recurso a potentes transformadores, tornou-se possível transportar quantidades massivas de energia elétrica a longas distâncias. Basicamente o transformador consegue elevar a tensão produzida na central elétrica de 13 000 volt para 400 000 volt, por exemplo, permitindo baixar em muito a corrente elétrica, e assim transportar enormes quantidades de energia elétrica em cabos com uma secção muito reduzida. À medida que essas linhas chegam aos pontos de consumo, outros transformadores executam a operação inversa, ou seja, transformam os 400 000 volt em 230 volt, sendo esta a tensão que entra pelas nossas casas e que só está disponível nas zonas onde há consumo. Se tivéssemos que transportar toda a energia elétrica com tensão de 230 volt, as linhas teriam que possuir secções gigantescas e certamente que não seria possível usufruir de tanta energia elétrica e de forma tão barata.

Depois desta explicação inicial já podemos entrar em nossa casa e compreender melhor que aparelhos temos e como podemos poupar qualquer coisa na fatura da eletricidade.

Em nossa casa, o que verdadeiramente consome energia elétrica a SÉRIO são os aparelhos que, ou produzem calor ou produzem frio.

Os que produzem calor são essencialmente os aquecedores, as máquinas de lavar roupa, louça e os cilindros para aquecimento de águas sanitárias.
Caracterizam-se por trabalharem durante pouco tempo consumindo instantaneamente muita eletricidade.

Os que produzem frio são essencialmente frigoríficos e congeladores.
Caracterizam-se por trabalharem durante muito tempo consumindo instantaneamente pouca eletricidade.

Para perceberem melhor:
- Um aquecedor de 2000W de potência, se trabalhar 4 horas por dia, significa que consumiu uma energia diária de 2000 x 4 = 8000 Wh

- Um frigorífico de 200W de potência, trabalhando 12 horas por dia, consome 2400Wh

Numa base anual, o frigorífico consome mais energia do que o aquecedor porque trabalha 365 dias por ano.

O cilindro elétrico ganha a estes dois porque consome instantaneamente bastante eletricidade, é usado 365 dias por ano e várias vezes ao dia, caso se tomem muitos banhos e se use muita água quente.

Se no caso da produção de frio não há alternativa viável à eletricidade, já em relação à produção de calor temos o GÁS NATURAL como um grande concorrente. Não é por acaso que o uso do esquentador/caldeira se massificou, tanto para aquecimento de águas como para aquecimento da própria casa.
Recorrendo ao gás como fonte de energia, foi possível adotar o esquentador como aparelho de eleição para aquecimento instantâneo de águas, mas para consiga tal proeza, a sua potência mínima é de 21 000W.
Se houvesse um esquentador elétrico de potência semelhante, suponhamos, o seu consumo de energia seria inviável, já que em média a potência contratada com a EDP em nossas casas ronda os 5 000 - 10 000W. Só o esquentador consumiria entre o dobro e o quádruplo, daí se ter recorrido ao cilindro elétrico doméstico (termoacumulador) como alternativa elétrica caso não haja gás naquela zona. Com um depósito no seu interior, aquece água antecipadamente com uma resistência elétrica que não excede os 3 000W  e armazena-a, estando disponível quando houver consumo. A desvantagem é que caso o consumo de água exceda a capacidade do depósito, a água arrefece, sendo necessário esperar que esta aqueça novamente, ou seja, não possui a vantagem do aquecimento instantâneo típico do esquentador.

Em termos de preços, o custo do kWh ronda os seguintes valores:

Gás Natural:                                                   7 cêntimos

Gás Butano (garrafa):                                     16 cêntimos

Eletricidade (tarifa normal):                             13 cêntimos

Eletricidade (tarifa bi-horária, ciclo diário):
Hora da Cheia:  (das 8 da manhã às 22.00)    15 cêntimos
Hora do Vazio:  (das 22.00 às 08.00)             8 cêntimos

Com esta explicação percebe-se que para produzir energia térmica (calor), é sempre preferível recorrer ao gás natural, e caso não haja na zona, optar por equipamentos elétricos que permitam empurrar o seu consumo para as horas do vazio na tarifa bi-horária.

Para "tentar" por o cilindro elétrico a consumir sobretudo nas horas do vazio, sugiro a compra de um interruptor horário, e programá-lo para que o cilindro não trabalhe entre as 17.00 e as 22.00 por exemplo, obrigando assim que a resistência só trabalhe já nas horas do vazio. Essa afinação do interruptor horário deve ser feita em função dos hábitos de cada casa, mas a minha sugestão é que se consuma água quente durante o dia e energia elétrica durante a noite, nas horas do vazio.
Estão à venda interruptores horários no Leroy Merlin, por exemplo, por 4€ (2 unidades)

O mesmo raciocínio se aplica para as arcas congeladoras. Desligar por volta das 5-6 da tarde e repor o seu funcionamento a partir das 22.00. Por experiência própria vos digo que os produtos se mantêm completamente congelados, mas nada como experimentarem e calibrarem.

Para os frigoríficos, não sugiro que fiquem desligados mais do que 2 horas, pelo que só se devem desligar entre as 20.00 e as 22.00.

Máquinas de Lavar Roupa e Louça: as mais recentes já possuem um temporizador que permite atrasar o seu arranque 3, 6 ou 9 horas. Neste caso, é possível preparar tudo comodamente a horas "decentes", e quando o temporizador der o arranque da máquina, só já irá consumir nas horas do vazio.

Em relação à iluminação, à medida que as lâmpadas fluorescentes compactas se forem fundindo, podem ir substituindo pelas de LED, mas o custo destas ainda é exagerado. Uma fluorescente de 15 W equivale a uma de LED de 6 ou 7 W. Talvez valha a pena substituir aquelas que trabalham muito tempo, como a luz da sala ou da cozinha. Trocar só porque consome menos energia parece-me financeiramente (ainda) pouco vantajoso. É esperar mais uns meses!

Tiago Mestre

2 comentários:

Sérgio disse...

Boas dicas, sem dúvida!
O interruptor horário penso ser das melhores opções até mesmo para quem não tem tarifário bi-horário como no meu caso. Passo a explicar, tenho uma potência contratada bastante baixa, 3,45 kVA, quando instalei um termoacumulador (cerca de 2 kW) teria de aumentar a potência pois também já tinha placa de indução +restantes electrodomésticos a coisa de certeza não ia aguentar, em vez disso usei um interruptor horário para que o termoacumulador funcione apenas de madrugada durante cerca de 2 horas e meia a tenho agua quente durante todo o dia desta forma poupo na taxa de potência e também evito que ele se ligue frequentemente após pequenos consumos.
A tarifa bi-horária deixa-me com o "pé atrás" pois no horário normal o preço é muito superior à tarifa simples... o que se ganha à noite, perde-se durante o dia onde também tenho bastantes consumos.

Lura do Grilo disse...

Já há LEDs equivalentes a 60 W com 10 000 horas de vida por cerca 20 Euros. Começa a valer a pena