quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Quando o tiro nos sai pela culatra

Caros leitores e leitoras, as declarações recentes do FMI a sugerirem um perdão de dívida oficial ao monstro grego começam a ecoar e a fazer as primeiras baixas:

Sugiro a leitura integral do artigo aqui

E o que se está a passar é simplesmente isto:   MEDO

Medo das elites políticas em assumir e defender a sugestão do FMI, que num volte-face incrível pós-Verão, deixou de acreditar na austeridade e só já pensa em crescimento consubstanciado em bancarrotas.

Foi certamente muito difícil para Schauble e Merkel lerem as sugestões do FMI, porque TUDO aquilo que foram dizendo ao longo destes 3 anos dava a entender exatamente o contrário.

Mas efetivamente a realidade veio demonstrar que toda a criação destes instrumentos aldrabices financeiras iria ter um elevado preço mais à frente. Poucos imaginariam que a verdade apareceria tão cedo, mas os factos aí estão para a comprovar.
O 1º resgate à Grécia (com o qual Portugal entrou com 500 milhões), o EFSF, o ESM e o ESM reforçado foram tudo estratagemas para tentar adiar as decisões difíceis e colher os louros políticos das fáceis.

O estratagema era mais ou menos este:

Emprestamos agora com juros razoáveis, aplicamos austeridade, o país entra em crescimento e a dívida é liquidada com as receitas fiscais desse mesmo crescimento. E pronto, missão cumprida.

Esqueceram-se de fazer umas contas e não perceberam, ou não quiseram perceber, que a energia interna da Grécia ou de Portugal não eram suficientes nem sequer para liquidar a dívida velha quanto mais a dívida nova emitida por estes esquemas recém-criados. E porque é não há energia suficiente? Por muitas e variadas razões que já abordei, como o excesso de dívida, a camisa de forças em que o Estado se enfiou, a falta de indústria, etc,etc.
O BCE, obviamente, patrocinou isto tudo, já que adquiriu dívida diretamente dos estados, emprestou e continua a emprestar sem apelo nem agravo a bancos que já esgotaram o seu colateral, e faz parte da troika. Tudo foi feito na tentativa de adiar o inevitável, sempre na esperança de que o crescimento económico regressasse e liquidasse todas as dívidas.

Para quem acompanhou a evolução dos meus textos no Contas, certamente que não lhe passou ao lado a minha insistência em revelar estas enormes aldrabices financeiras que estavam a ser montadas.
Tenho a agradecer ao site ZeroHedge e às dezenas de colaboradores que lá escrevem por me terem elucidado nestas matérias. Sozinho teria sido impossível.

Schauble e Merkel estão agora em maus lençois, porque tudo aquilo que prometeram ao eleitorado alemão, e ao tribunal Constitucional Alemão já agora, foram MENTIRAS baseadas em esperanças vãs.

Se se recordam, o tribunal alemão aprovou o EFSF, o ESM e o ESM reforçado na condição de que nenhum prejuízo recairia nas mãos dos contribuintes alemães, o que é o mesmo que dizer que todos acreditavam que a Grécia e Portugal iriam pagar as suas dívidas. In your dreams.
Mas de certa forma, o esquema financeiro do ESM está montado de uma maneira que sugere que os contribuintes alemães nunca se cheguem à frente, a saber:
O ESM será uma entidade detida pelos vários estados europeus, mas a emissão de dívida será feita a investidores privados/institucionais, e só em caso de delinquência por parte do devedor é que os "donos" do ESM se chegam à frente porque são estes que GARANTEM a totalidade da dívida, quer com capital próprio ou com outro tipo de garantias.
Tudo somado, até fica a ideia de que o contribuinte alemão está muito distante de todo este processo e que dificilmente será atingido. ERRADO.

Como irá agora o tribunal alemão descalçar a bota? De qualquer maneira já é tarde demais. Venderam-se às decisões fáceis e agora terão que pagar o preço.

Segundo o Spiegel, e caso a proposta avance, Schauble terá que "acomodar" no seu orçamento para 2013 um prejuízo (também gosto do eufemismo imparidades) de 17,5 mil milhões de euros.

7,5 mil milhões do 1º pacote de resgate à Grécia
10 mil milhões do EFSF

Poderão sempre pedir ao BCE para orquestrar mais uma operação aldrabice financeira e "adquirir" todas essas imparidades, sendo apenas necessário para o efeito imprimir euros na mesma quantidade para cobrir o buraco provocado por esses prejuízos no capital próprio do banco, que penso que ainda nem chega sequerr aos 100 mil milhões de euros.

Mas curiosamente o artigo do Spiegel não aborda a dívida grega já detida pelo BCE, que também é considerada "pública" e "oficial". Na minha opinião, esta dívida detida pelo BCE também é elegível para default. E aí a Alemanha teria que suportar mais uns milhares de milhões de euros de prejuízo, já que o Bundesbank responde por mais de 20% do que de bem e de mal se faz no BCE.

Como me entristeceu a demissão de Alex Webber e Juergen Stark do Bundesbank e BCE respetivamente, já que sempre se mostraram contra este tipo de operações, tanto por serem ilegais e erradas, como por recearem as consequências indiretas.
E é neste momento que as consequências indiretas não desejadas mas inevitáveis começam a rebentar na cara de todos aqueles que assinaram, concordaram e promoveram este tipo de aldrabices financeiras.

E já agora, com todos estes desenvolvimentos, ouvir Merkel dizer em Portugal que podemos contar com a ajuda dos alemães, é querer enganar jornalistas parolos e cidadãos desolados à espera de palavras de conforto.
É tudo MENTIRA porque não passam de palavras de circunstância.
Muito me chocou toda a cobertura mediática que se deu a este epifenómeno.

Tanta mentira junta revelada de uma só vez ainda irá custar a reeleição à senhora, digo eu.

Tiago Mestre

2 comentários:

Vivendi disse...

A não perder as cenas dos próximos capítulos...

Importa referir que um hipotético default grego será o maior da história. Juntando Portugal, Espanha e Itália... A loucura será total.

Nuno disse...

E não esquecer que quem adquire estas obrigações são os bancos nacionais e a segurança social. Portanto, em caso de default está-se mesmo a ver o que vai acontecer...