O que não vale ter bons amigos.
Portugal já pediu aos colegas europeus que aceitem um diferimento no pagamento dos empréstimos.
Desta forma ganha-se mais algum tempo, e aquilo que poderia ser um default caso o pedido fosse feito aos privados, é tão só uma mãozinha que os colegas europeus nos estão a dar.
Apesar de ser muito pouco, de certa forma agrada-me a solução proposta, porque há já algum tempo que defendo que a reestruturação da dívida portuguesa deve incidir sobretudo nos empréstimos que a troika concedeu.
Nos anos em que estes empréstimos venciam, julgo que em 2014, 2015 e 2016, Portugal não irá pagar tantos juros nem amortizará tanta dívida, dando alguma folga para se tentar atingir o défice de 0,5% do PIB com que nos comprometemos !!
Mas nos anos posteriores teremos que pagar tudo isso, pelo que no longo prazo a coisa vai dar um bocado ao mesmo.
Para os economistas da praça que pediam e pedem mais tempo para nos reestruturarmos, voilá, o governo cedeu às suas pretensões, e só falta ao Eurogrupo dar luz verde.
Mas para quem julga que esta folga no orçamento pode evitar medidas tão desagradáveis como o corte permanente dos 4 mil milhões a que o governo se comprometeu recentemente, desengane-se, porque se as metas do défice forem mesmo para atingir, provavelmente estas medidas não chegarão.
Só um grande default na nossa dívida, tanto nos juros como no capital, é que poderia eventualmente dar um grande empurrão ao cumprimento do défice sem grande austeridade, senão vejamos:
Em 2014/2015, toda a dívida pública portuguesa será detida em aprox 50% pela troika. Se tivermos que pagar anualmente juros totais de 9 mil milhões, significa que um default completo à troika cortaria eventualmente 4,5 mil milhões em juros. Este valor é aproximadamente metade do nosso défice, ou seja, teríamos que cortar mais 5 ou 6 mil milhões no lado da despesa, o que induziria um corte no PIB de 6,7, ou 8 mil milhões, obrigando ainda a mais alguns cortes para que o défice em função do PIB roçasse os 0%
Cortar na dívida, ou seja no capital, baixaria o rácio Dívida em função do PIB para metade, ou seja, de 130% para 65% do PIB, evitando termos que nos financiar com tanta frequência nos mercados ao longo do ano. É que como não temos dinheiro novo para pagar dívidas velhas, temos que estar permanentemente a fazer roll-over, pagando dívida velha com emissão de dívida nova.
É esta permanente repetição de rollover que o Gaspar quer evitar para 2014 e aí em diante, para tentar passar a ideia de que NÃO ESTAMOS assim tão necessitados de dívida privada, estimulando assim a confiança dos investidores. Digo eu !
Tiago Mestre
4 comentários:
Acredito que este pedido estava pensado faz muito tempo.
Vamos ver em quanto nos desce as responsabilidades anuais em juros nestes primeiros anos.
Sou da mesma opinião do Pedro Miguel.
Na Europa sabem que a dívida portuguesa vai ter de ir sendo reestruturada.
A execução orçamental do ano passado parece ter corrido bem.
Se o Eurostat aceitar a inclusão dos 800 milhões da ANA o défice fica nos 4,6% e apesar de não ter visto nada sobre isso, a queda do PIB deve mesmo rondar os 3%.
Os juros a 5 e 10 anos no mercado secundário estão neste momento a afundar.
Parece que o Gaspar deixou as "boas notícias" todas para o mesmo conjunto de dias, no seguimento de ter pedido mais tempo e juros mais baixos para Portugal e Irlanda.
Até ao final da próxima semana devemos estar a emitir dívida a 5 anos, capitalizando estas notícias.
Mas o que os outros queriam era mais tempo para aplicar o programa e nao mais tempo para pagar a divida, a ai alguma confusão
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