sábado, 12 de janeiro de 2013

Serão os estivadores os culpados pelo mau desempenho das nossas exportações ? (Parte2)

O INE lançou esta semana cá para fora os dados das exportações de Novembro. Quadro abaixo:



Em Novembro escrevi sobre este tema, antecipando desde logo que o que tinha acontecido em Setembro com as nossas exportações não era só culpa dos estivadores, bem antes pelo contrário.A culpa era sobretudo do arrefecimento inexorável das economias europeias.
2 meses volvidos, e com os dados de Outubro e Novembro em cima da mesa, penso que as conclusões que tirei a 9 de Novembro começam agora a ser mais evidentes:

Dentro da Europa, as exportações em Outubro até pareciam querer arrebitar, já que vinham de um Setembro relativamente mau.
Mas em Novembro os valores voltam a cair, de 2800 milhões em Outubro passamos para 2764 milhões. Em "condições normais", esta queda não deveria estar a acontecer, mas aconteceu. Para quem julgava que Setembro era só uma pedra no sapato, como acredito que muitas economistas da praça o julgaram, o que está a acontecer em Novembro não bate certo, já não havia razões evidentes para Novembro ser pior do que Outubro... Mas a realidade está permanentemente em transformação, e lá porque tivemos 2-3 anos de crescimento significativo nas exportações, tal não quer dizer que isso se perpetue.

Fora da Europa as coisas parecem-me ser diferentes. Outubro foi um mês espetacular, certamente um recorde dos últimos 3-4 anos. Neste mês a greve dos estivadores continuou em força, e muito anátema a comunicação social lançou contra esta gente por causa dos danos que estavam a fazer às exportações. Devem um pedido de desculpas formal a esta classe de trabalhadores.
Novembro caiu um bocadinho face a Outubro mas continua a ser muito interessante, sobretudo se compararmos com 2011.

O problema das exportações para fora da UE é que são pouco mais de um 1/3 das exportações para dentro da UE, ou seja, se na UE as exportações descem 2%, fora da UE temos que crescer 5% para compensar, e isso não acontece assim sem mais nem menos.

Em Dezembro antevejo uma quebra ainda mais significativa do que já é o normal para Dezembro. Porquê?
Porque a Auto-Europa e muitas empresas satélite do Complexo industrial adjacente estiveram quase paradas. A Auto-Europa fechou mesmo um mês inteiro, não sei se correspondeu só a Dezembro ou se ainda passaram uns dias para Janeiro.
E se tal aconteceu com este grupo de empresas, certamente que muitas outras no setor automóvel, como o grupo PSA em Mangualde, não escaparam a esta realidade.

Empresas desta dimensão quando espirram provocam constipação nos nossos indicadores, daí a minha antevisão. Aguardemos pelos dados de Dezembro.

Tiago Mestre

3 comentários:

Pedro Miguel disse...

Penso que possas ter razão quanto a Dezembro, mas quero deixar apenas algumas anotações.

Vale o que vale, mas foram muitos os empresários que apareceram na televisão a dizer que tiveram que recusar negócios, principalmente para Angola por causa da greve dos estivadores.
O caso das empresas de cerveja que dizem ter registado alguns milhares de euros de prejuízos.
Conheço casos de alguns empresários de restauração conseguiram neste período cerveja a preços bastante mais acessíveis, posso especular que houve cerveja que ficou por expedir e entrou no mercado nacional (suposições).

Mas volto a relembrar o que disse na altura do primeiro artigo sobre o tema, Setembro baixou imenso porque houve muitos negócios antecipados para Agosto. Agosto foi um mês anormal em termos de crescimento de exportações, costuma ser o mês mais calmo e foi o de maior crescimento.

Ainda assim, tal como dizes, ainda bem que o extra comunitário cresce, dou particular destaque a que esse crescimento é até cada vez mais diversificado.
É muito importante que o país venda muito mais para fora da Europa, mas para todos os mercados possíveis, China inclusive:

"As exportações portuguesas para a China aumentaram 34,39% nos primeiros onze meses de 2012, excedendo pela primeira vez os mil milhões de euros, indicam estatísticas chinesas divulgadas hoje." 7 de Janeiro, 2013 in Sol

Em Novembro disse-te que precisávamos dos dados de Outubro e Novembro para analisar Setembro.
As conclusões são: antecipação de negócios de Setembro para Agosto; quebra/estagnação intra comunitário em Outubro e Novembro; forte crescimento, embora mais baixo em Outubro e Novembro.
Esse crescimento menor pode ter a ver com a greve, embora desta vez seja preciso esperar por mais dados, Janeiro, Fevereiro, pois tal como dizes, com a Auto-Europa, os números das exportações vão sofrer.
Espero que o espirro da Auto-Europa seja balanceado com o espirro da Galp, da qual se espera um crescimento das exportações, não esquecendo que a Galp é agora o maior exportador nacional.

Carlos Rebelo disse...

Caro Tiago, os dados não são de confiar! :)
O PIB da Madeira esteve sempre inflacionado desde 2001 até 2011 altura em que terminaram os benefícios fiscais da Zona Franca, o que obviamente influênciou o do país.
As exportações eram feitas artificialmente pelas grandes multinacionais e facturadas a partir de lá, para "lavar" dinheiro - as mercadorias não passavam por lá! - e os respectivos lucros que obtinham pagavam 0% de impostos...
Estima-se que em 2009 todas as empresas instaladas na ZFM facturavam artificialmente 5,6 mil milhões de Euros. Empresas como a ArcelorMittal, Pepsico, Swatch, Galp, entre muitas outras...
Espero ter ajudado.

Trabalho na área de contabilidade, "trader" em acções e CFD´s e interesso-me particularmente por paraísos fiscais, na área fiscal.
Ah e sou leitor assíduo do blog! :)
Abraço

karlosreb@gmail.com

vazelios disse...

Concordo parcialmente.

Dados são dados mas E SE os estivadores não tivessem estado de greve? Que números teriamos?

De resto as evidências são claras e não são novas: Economias da UE e outras desenvolvidas a arrefecer e os emergentes a aumentarem exponencialmente.

O que nos vale é estes mercados e é pela diversificação que temos de ir.

Agora se os estivadores têm culpa ou não em quebras de exportações, também os têm na quebra de importações, por isso em condições normais o saldo final é o mesmo.

A unica coisa que contribuiram, não sei se 10%, 50% ou 90%, foi para alguma queda de trafego em alguns portos.