segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Esquema financeiro provoca buraco de 3000 milhões em empresas públicas

Surgiu uma notícia no Expresso online com o seguinte título:

Esquema financeiro provoca buraco de 3000 milhões em empresas públicas




Perdas nos swaps de taxas de juro da dívida agravaram-se em 500 milhõesde euros. O IGCP está a tentar renegociar os contratos, cujas prejuízos estão principalmente nas empresas do metropolitano de Lisboa e Porto.
Pelo modo como a notícia está escrita, fico com a perceção que os gestores das empresas públicas entraram em esquemas complicados/fraudulentos de derivados, swaps, e o diabo a sete.
Fui confrontado em 2007 com um "esquema" destes na minha empresa, proposto pelo banco com quem trabalhávamos na altura, e passo a explicar:

A Euribor em 2007 e até meados de 2008 estava com uma trajetória ascendente, dos 2% para 3, 4 e 5%. Tal subida estava a fazer tremer muitos gestores, que ao se verem obrigados a fazer o roll over da dívida que tinham, confrontavam-se com custos acrescidos nos juros.

Do que é que os bancos se lembraram? dos Swaps para empresas, a saber:

Se a Euribor estava a 3% naquele mês, caso esta subisse nos próximos tempos para valores até 4%, esse acréscimo nos juros seria suportado pelo banco e não pelo devedor. Acima dos 4%, o Swap deixaria de ter efeito e o devedor voltava a suportar o acréscimo do custo nos juros. Esta era uma forma do devedor não sofrer em demasia com o aumento da euribor.

Mas caso a Euribor descesse de 3% para 2%, ficava o devedor com a responsabilidade de pagar alguma coisa ao Banco (dependia dos contratos assinados), como forma de ressarcir o risco ao banco caso a Euribor tivesse subido. Abaixo dos 2%, a Swap desapareceria e a redução de custos nos juros entrava em força.

O que realmente aconteceu desde inícios de 2009 é que a taxa Euribor a 6 meses, por exemplo, que acompanha mais ou menos a taxa de juro do BCE, desceu em força dos 5,5% para ... 0,2%:



Consoante os contratos assinados, certamente houve muita gente que decidiu proteger-se contra a subida dos juros, mas com a contrapartida de eliminar a possibilidade de reduzir os custos caso a Euribor descesse.

É exatamente aquilo que está a acontecer agora.
Fica aqui a explicação genérica.

Mas tal explicação não iliba os gestores das empresas públicas que os assinaram. E porquê?

Porque o problema não são os Swaps, mas sim as DÍVIDAS MONSTRUOSAS que se criaram nas empresas Metro Lisboa, Metro Porto, CP, Carris, REFER, EP, etc, etc, etc.

Cheguei a escrever vários posts no Contas a propósito das contas deploráveis destas empresas, tanto em resultados anuais como patrimoniais. Podem voltar a consultar aqui se quiserem.

Se eu fosse um blogger com má fé e/ou negligente, mas sobretudo impulsionado pelos títulos jornalísticos do momento, podia muito bem fazer comentários deste género:

1. Bancos aproveitam-se de empresas endividadas com esquema de swaps

2. Gestores públicos deixam-se arrastar para um esquema bancário de swaps, trazendo prejuízos para as empresas e beneficiando os banqueiros, que devem ser todos amiguinhos

3. Contribuintes suportam esquemas ruinosos de empresas públicas que beneficiaram banqueiros com assinaturas de contratos de swaps

é melhor não dar mais ideias

Tiago Mestre

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