quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

As coisas estão novamente a aquecer por baixo do Mediterrâneo

Há 10 anos consideraríamos pouco provável que países como a Argélia, Tunísia e Líbia se desestabilizassem ao ponto de hoje termos autênticas regiões independentes dentro de um mesmo país, em que cada líder regional assegura que aquele bocado de terra é comandado pelo seu grupo militar e o resto que se lixe.

Desde que o Egipto se rebelou há 2 anos, espalhando uma semente que já vigorava por todo o Norte de África e Médio Oriente, todas estas regiões têm sido palco de confrontos e lutas armadas, certmante muitas delas bárbaras.

Eu acredito que quando os EUA mataram Osama Bin Laden, a ideia geral no Ocidente foi que a Al-Qaeda ficaria mais pobre e mais paralisada: Matando o líder, o exército render-se-ia.

Pelos vistos as coisas não se estão a passar dessa forma. Novos líderes emergem com a saída de Osama, e havendo uma oportunidade aqui ou acolá de conquista de terra e afronto ao poder instalado, não hesitam.

Na Líbia já se sabe que os EUA e certamente outros países do Ocidente armaram os rebeldes em Benghazi, quando as tropas de Kaddafi já se encontrava praticamente às portas da cidade.
Com esta mudança, as coisas pioraram para Kadafi, com as consequências que já todos sabemos.

Não tenho interesse nenhum em defender gente daquela, mas não deixo de colocar a questão:

O Ocidente ao armar rebeldes que não dizem exatamente as suas reais pretensões (e é legítimo que não o façam) estaremos a ajudar ou a piorar aquele mesmo país a médio longo prazo?

Temos visto que a Líbia passou a ser uma região cogumelo para a infiltração da Al-Qaeda, fenómeno que Kadafi já referia naqueles discursos manhosos enquanto os combates se travavam a céu aberto.

Não sei porque razão (talvez em nome da democracia?), mas a apologia dos media no Ocidente incidia nos massacres que eram perpetrados pelo poder central a civis inocentes, que entretanto tinham que se armar para se defenderem, mas como não tinham meios, precisavam de ajuda externa!

Nunca ninguém é inocente, mas o modo excessivamente maniqueísta com que o assunto era tratado nas televisões já devia dar para desconfiar. A realidade pelos vistos veio confirmar que estes supostos inocentes era gente que sabia muito bem o que estava ali a fazer, usando eventualmente habitantes dessas cidades como escudo humano e fonte de recrutamento.

Há já investigações de que a CIA (vejam lá o disparate) andava a traficar armas para Benghazi antes dos confrontos oficialmente começarem.
Hillary Clinton deve andar a sentar-se em cadeiras muito desconfortáveis neste momento.

E se a moda pega?
Na Síria, o Ocidente voltou a mostrar-se maniqueísta e pôs-se novamente do lado dos civis inocentes. É de desconfiar.
Eu diria que é quase humilhante para o Ocidente ser a Rússia, esse xamã pacifista, a alertar para os disparates que o Ocidente está a fazer ao apoiar incondicionalmente os rebeldes sem perceber as reais intenções que estão por trás desta gente.

E ainda voltando à Líbia, parece que o novo país cogumelo da Al-Qaeda já conseguiu espalhar e apoiar gente no Norte do Mali, que por sua vez invadiu e sequestrou uma refinaria de Gás inteira na Argélia como retaliação à ofensiva francesa.

Enfim, olho por olho, dente por dente, e tudo aqui tão perto.

O Ocidente, com estas incursões e tentativas parciais de apoio militar e diplomático aqui e acolá, parece-me que corre grandes riscos, porque na esperança de derrubar um ditador e criar um país "democrático" e livre, acaba por deixar o terreno livre para quem tem outro tipo de pretensões, que comparando com as de Kadafi e filhos, faz destes uns meninos de coro.

Não me consigo esquecer do que a Rússia e os EUA fizeram a Portugal quando decidiram apoiar os braços armados dos políticos africanos que guerrilhavam contra Portugal pela independência das colónias portuguesas. Os mísseis Strela Terra-Ar que os russos forneceram aos guerrilheiros guineenses no início da década de 70 para derrubar os aviões portugueses é um exemplo prático disso mesmo.

São assuntos muito complexos, mas com países "oficiais" a financiarem ações subversivas de rebeldes para derrubar regimes, mais ou menos legítimos, a coisa complica-se ainda mais.

Oxalá que o Iraque seja uma exceção e que consiga prosperar em paz, apesar de que o que se passou depois da invasão em 2014 pelos EUA foi mau demais (em que o país ficou sem polícias e sem meios para controlar as hordas de pilhagens e justiças populares que se faziam na rua).

Tiago Mestre

1 comentário:

Vivendi disse...

Quiseram impor uma democracia nos países árabes como se a democracia nos países ocidentais fosse uma grande coisa. Enfim. Os povos sempre a sofrer.