quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Quotas para uniformizar os "sexos"

notícia aqui

"PSD e PS aprovam quota de 40% para mulheres
As mulheres devem preencher 40% dos lugares não-executivos da administração de empresas cotadas em bolsa até ao ano de 2020. A diretiva europeia foi aprovada esta semana na Comissão de Assuntos Europeus com os votos do PSD e do PS. Os restantes partidos votaram contra."

Em primeiro lugar, e para clarificar a minha opinião em relação a estas diretivas e às chamadas leis da paridade, não sou contra o acesso por parte das mulheres a lugares de topo e a lugares políticos, muito pelo contrário.

Depois da vergonhosa lei da paridade legislada em 2006, para que 1/3 dos cargos políticos fossem ocupado por sexos diferentes, ou seja, um terço necessariamente por mulheres e outro terço necessariamente por homens, chegam agora diretivas de Bruxelas para que 40% dos seus cargos dirigentes sejam ocupados necessariamente por mulheres.



1. Na lei da paridade de 2006 muito vangloriada pelo PS, que obrigava as listas eleitorais a terem 2 candidatos de sexo diferente por cada 3 candidatos, o Estado estava a obrigar estes procedimentos a instituições que estavam na sua esfera: Assembleia da República e Autarquias, nomeadamente. No entanto, neste caso é ainda mais intolerável: o Estado está a interferir nas decisões de empresas privadas, o que para um liberal como eu é inaceitável!

2. E porquê inaceitável? Porque o Estado está a aplicar uma regra que na generalidade tem um bom propósito, mas que em situações específicas pode ser contraproducente. Como por exemplo? Por exemplo, uma empresa tem de escolher 10 pessoas para a sua administração não-executiva. Logo 4 delas têm de ser mulheres. Imaginemos que essa empresa já escolheu 9 pessoas (6 homens e 3 mulheres) e falta-lhe escolher a última (que tem de ser mulher), tendo duas candidaturas/opções: ou o "Pedro Emanuel" (com licenciatura em Lisboa, mestrado em Harvard e doutoramento em Oxford) ou a "Cátia Manuela" (apenas com licenciatura no Porto). Quem deveria a empresa escolher? O "Pedro Emanuel" obviamente. Mas não, o Estado chega lá e diz que tem de escolher a "Cátia Manuela" porque sim. E eu pergunto será justo? Um candidato com melhor curriculum ser reprovado por uma norma estatal que não vê meios para atingir fins?

3. Volto a destacar que não sou contra a entrada de mulheres na política ou nos altos cargos das empresas. Não me fazia confusão nenhuma que a administração de uma empresa fosse totalmente composta por mulheres. Já vi empresas só com trabalhadoras do sexo feminino e convivi bem com isso. O caso do "Pedro Emanuel" e da "Cátia Manuela" podia ser invertido: a empresa já tinha escolhido 9 pessoas (6 mulheres e 3 homens) e faltava-lhe escolher o último (que tinha de ser homem): ou o "Pedro Emanuel" (que tem apenas licenciatura no Porto) ou a "Cátia Manuela" (com licenciatura em Lisboa, mestrado em Harvard e doutoramento em Oxford). Quem deveria a empresa escolher? A "Cátia Manuela" neste caso, porque agora é ela quem tem melhor curriculum. 

4. Sou a favor que devem progredir os melhores, pelo mérito, independentemente da cor, etnia ou religião. O parlamento podia ser todo composto por mulheres, ou totalmente composto por homens. O que me interessa, enquanto cidadão, é que trabalhem e sejam produtivos. Neste momento, à custa da lei da paridade do parlamento, temos dois tipos de mulheres na Assembleia da República: as que merecem estar lá por mérito - caso da Ana Drago (BE), Francisca Almeida (PSD) ou Teresa Caeiro (CDS) [mesmo não concordando e divergindo muito até da Ana Drago, tenho de concordar que defende convictamente lá o que ela defende e está sempre a intervir - faz o seu trabalho] e depois as deputadas que estão lá porque os partidos não podiam pôr mais ninguém - caso da Helena André e da Gabriela Canavilhas (PS), por exemplo, que já as vi a lerem revistas no plenário ou de uma outra deputada do PS, não me lembro o nome, que estava a marcar as férias no computador.

5. Segundo os socialistas estas normas servem para "formatar" os defeitos da liberdade plena de escolha, pondo mulheres à força onde elas não estão presentes. No entanto, tínhamos de também de ver outros casos. É que para manter a coerência, quem defende este tipo de normas, tinha de as defender noutras profissões, por exemplo: trolhas - é só homens, logo uma quota de 40% de mulheres ou empregadas de limpeza - é quase só mulheres, logo uma quota de 40% de homens naquela profissão. Mais ainda, podemos observar que nos cursos de medicina é quase 70% de raparigas, logo aqui também se deveria impôr uma quota de 40% de rapazes, o que faria diminuir o número das nossas médicas. Ou engenharias onde há maioritariamente homens, devia-se impor 50-50 para homens e mulheres. Claro que já estou a divagar, mas quem quer obter justiça "à bruta" na melhor das hipóteses só piora todo o cenário: acaba por olhar apenas para uma parte da realidade.

6. Pela mesma ordem de princípios, se 10% são ciganos, então 10% dos deputados teriam de ser ciganos. Se 30% são islâmicos, 30% dos deputados deveriam ser islâmicos. Se 20% tem olhos azuis, 20% dos deputados deveriam ter olhos azuis. (nota: os valores que mencionei neste tópicos foram ao calhas).

Sou frontalmente contra este tipo de regulamentos arbitrários por parte do Estado que interferem nas livres escolhas dos indivíduos/empresas. Sou a favor que cada um de nós suba pelo mérito próprio e não por decretos legislativos, pois caso eles me beneficiem, eles na realidade estão a prejudicar alguém. 

Não sou contra o acesso das mulheres na política ou nos cargos dirigentes, sou é contra os métodos que estão a ser usados para atingir tal fim.

Desculpem-me Vivendi e Tiago por falar neste assunto que não está relacionado diretamente com economia, mas não podia ficar calado com um assunto em que todo o tipo de demagogia é usado e que pode levar a algumas injustiças na sociedade.

5 comentários:

Vivendi disse...

Claro que está relacionado com economia Bernardo. E é bastante pertinente este artigo.

Meritocracia é a única chave de sucesso, tudo resto é trapalhadas de socialistas que irão obter resultados desastrosos no futuro.


Abraço.

Sérgio disse...

Isto deixa-me perplexo, já não concordava com a regra nas listas eleitorais, mas ainda se podia argumentar que sendo a lista uma forma de representatividade então teria ser garantida também em termos de sexos, agora em empresas privadas!? Até nisto o estado mete o bedelho! Espanta-me como está tudo tão calado com esta aberração de controlo socialista. Daqui a nada temos uma directiva que nos obriga a dormir 50% das noites para o lado esquerdo e outros 50% para o lado direito, isto devidamente fiscalizado, de preferência por uma inspectora recém licenciada...

Tiago Mestre disse...

Parece-me uma ofensa às próprias mulheres e à sua livre iniciativa de escolha.
E é uma ofensa às próprias instituições públicas, que sendo organizações em si mesmas, devem viver de forma... organizada.
Se é com homens, mulheres, robots, hermafroditas, cães, gatos, isso não interessa nada.

Ricardo Anjos disse...

Apenas mais um disparate, vindo dos eurocratas e repetido pelos nossos obedientes incompetentes do costume.
com estas cotas, vamos assistir a muitas mudanças de sexo.

Bernardo Botelho Moniz disse...

Vivendi, exatamente meritocracia devia substituir-se à "subsídio-dependência".

Sérgio, o Estado acha-se aquele menino comportado que pensa que sabe o que os outros devem ou não fazer. E dá sempre asneira.

Concordo exatamente contigo, Tiago. Quem defende este tipo de normas, implicitamente está a dizer que não acredita nas capacidades e no mérito das mulheres e que só por quotas elas lá chegam.

deathandtaxes, de facto, penso que este problema advém do excesso de instituições da UE. A UE está "sobredimensionada" para aquilo que são as funções. Depois inventam este tipo de diretivas para justificar a sua existência.