quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma série chamada RTP: novo episódio

via Jornal Público

Não venho falar da recuperação da TV Rural, se acho que é bom ou mau. Não.
Venho falar sobre a posição do Sindicato dos Jornalistas descrita na respetiva notícia.


Posição do Sindicato dos Jornalistas
O Sindicato dos Jornalistas também já classificou de “infeliz”, “chocante, absolutamente inadmissível e inconstitucional” a proposta da bancada dos partidos da coligação. A direção daquela estrutura sindical diz que foi com “enorme perplexidade e profundo repúdio” que se apercebeu do conteúdo da recomendação ao Governo.
Afirmando nada ter contra as “preocupações de natureza cultural e cívica” dos deputados sobre as “lacunas e necessidades” do serviço público, o sindicato diz que é “chocante, absolutamente inadmissível e inconstitucional” que o façam através de uma recomendação ao Governo. Porque isso é uma clara ingerência na orientação da programação da RTP, atitude que viola a Constituição, que consagra a independência da comunicação social em relação ao poder político.
O Sindicato realça que a RTP “não é nem pode ser uma coutada do Governo” e lembra que este “está impedido de interferir na orientação da programação dos seus serviços”. A intervenção do Estado, realça a estrutura sindical, limita-se à nomeação da administração e à celebração do contrato de concessão.

Uma ingerência na orientação da programação? Ah, claro. 
Então porque acham que a maioria dos deputados e políticos são a favor da manutenção da RTP pública? O tal chamado serviço público não passa de uma forma encapotada de decidir politicamente o que vai ou não para a programação.

Como disse o Marcelo, na TVI, já não me lembro bem quando, a propósito da concessão da RTP a privados, ele afirmou mais ou menos isto: primeiro, tem de se definir o que é o serviço publico em concreto e depois garantir o cumprimento desse serviço público pelo privado.

Ora, neste caso, está-se a decidir (ou melhor, a maioria PSD-CDS propõe) que o tal TV Rural passe a fazer parte do tal serviço público. E não foi essa a desculpa usada pelo sindicato contra a privatização da RTP? A do serviço público? Logo, seria de supôr que o sindicato não se mostraria contra esta proposta.

Sendo eu um liberal, e claro, um adepto da privatização da RTP e de qualquer meio de comunicação, não me choca esta suposta "ingerência". Acho que os proprietários dos jornais, revistas e canais têm todo o direito de influenciar a sua programação. 
Aliás, acho que seria mais saudável para toda a sociedade se cada meio de comunicação social revelasse as suas tendências e influências políticas. Sabermos que o jornal x tem tendências socialistas/comunistas e o jornal y tendências liberais. Os leitores sairiam a ganhar pois saberiam de antemão que quem escreve aquele artigo tem essa ou aquela ideia pre-concebida. 

Pedir aos meios de comunicação social ou a qualquer ser humano 100% de imparcialidade além de ridículo, é estúpido. Somos humanos, formamos ideias na nossa cabeça, nunca conseguiremos ser totalmente imparciais. Ver casos de jornalistas que são comentadores ao mesmo tempo, como José Gomes Ferreira ou Constança Cunha e Sá. Ver que a mesma pessoa entrevistada por jornalistas diferentes nunca é igual. Mesmo que o conteúdo das perguntas seja o mesmo, a forma e a agressividade de como elas são proferidas é sempre diferente. 

Penso que seria muito interessante termos jornais a relatar as notícias de formas diferentes. O leitor tinha a oportunidade de ler duas, três, quatro versões da mesma e a possibilidade de escolher com qual delas se revê mais.

Querer um "serviço público" de televisão, pensei eu, seria o parlamento e o governo decidirem alguns dos programas que vão para a programação, com a famosa desculpa que têm o mandato dos portugueses. Afinal ainda há gente que vive na lua... este sindicato só pode ser ingénuo... ele quer a televisão na posse do Estado, mas sem interferências políticas. Então eu pergunto: se é para isso, para que não haja interferências políticas, a melhor maneira não seria privatizar? Pois, mas nós sabemos o que os sindicatos querem: uma televisão pública que continue como está, com dívidas e a gerar défices sucessivos, que mesmo assim não despeça pessoas nem desça salários... É que se fosse uma empresa privada, há muito que já não existiria...

Aproveito para retirar um excerto, em tom de ironia, do 31 da Armada: "Era só mais o que faltava o parlamento obrigar a RTP a fazer serviço público. A televisão de serviço público, paga com o dinheiro dos contribuintes, tem que ser autónoma para decidir entre o TV Rural e o Preço Certo."

Bernardo Botelho Moniz

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