«Se estamos a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então também podemos admitir, pelo mesmo princípio, casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos», defendeu.
Ao admitir-se «este tipo de nova ligação, chegamos ao ponto quase surrealista de admitirmos soluções muito mais vanguardistas e perigosas até do ponto de vista da procriação», justificou Carlos Peixoto.
É claro que declarações polémicas como estas são um xamã para todos aqueles que "concordam" com o casamento entre homossexuais e desaprovam tudo o resto, como relações incestuosas, pedofilia, poligamia assumida e outras coisas que tais.
Sendo eu um apologista da liberdade humana, estou-me nas tintas para o que cada pessoa faz ou deixa de fazer na sua vida privada, e portanto, CONCORDO com o casamento entre homossexuais, entre outro tipo de coisas que posso considerar como pouco ou nada "naturais".
Mas também reconheço que durante séculos criámos um conjunto de costumes, hábitos e tradições baseados numa constante aprendizagem dos comportamentos do ser humano, naquilo que dava certo e naquilo que dava errado. Estabeleceram-se convenções sociais, nasceu a moral, a cultura dos povos, a ética. etc, etc.
As sociedades construíram-se criando regras e estabelecendo limites que moderavam o instinto animal que todos temos guardado dentro de nós. Só assim foi possível evoluir em conceitos como liberdade entre pares, respeito pelo próximo, educação moral, justiça, igualdade, fraternidade e muito mais.
E quer queiramos quer não, reconhecer o direito à liberdade do homem e da mulher em escolher o parceiro do sexo que mais lhe cativa é em certa medida uma violação das regras e dos costumes que os nosso antepassados criaram e solidificaram até aos dias de hoje.
Comportamentos considerados pela moral vigente como depravados ou sexualmente perversos sempre existiram na humanidade, mas a questão aqui é o modo como a sociedade os vê e aceita.
Da mesma forma que cai uma convenção moral respeitante à união sexual entre pessoas do mesmo sexo, nada nos diz que daqui a uns tempos não caia outra convenção moral, como aquela que o deputado do PSD referiu. Poderá ser essa ou outra qualquer, ou nenhuma. O que importa reconhecer é que a evolução do ser humano é imparável, e se hoje se fala na união entre pessoas do mesmo sexo, amanhã falar-se-á em adoção de crianças, depois de amanhã em relações incestuosas e poligamia, e talvez num futuro distante em relações de pedofilia, quem sabe...
Será a força da desconstrução das convenções morais numa sociedade que ditará o avanço ou o recuo na legitimação deste tipo de comportamentos. Até poderemos nós, ocidentais laicos, estar à beira de um regresso a convenções morais muito mais restritas, aproximando-nos, por exemplo, da doutrina religiosa muçulmana. Sinceramente não sei para onde poderemos ir, mas deixo todas as possibilidades em aberto.
A mesma ideologia que legitima a união entre pessoas do mesmo sexo não refuta a união de pais com filhos nem de irmãos com irmãs, nem de gente velha com gente muito novinha.
Quem aprova casamento entre homosexuais e deplora casamento entre irmãos e irmãs significa que não está a pôr bem as coisas em perspetiva, e pior do que isso, esquecem-se que o edifício moral que foi construído tem muitos pisos que podem ser deitados abaixo, sem que haja pisos "moralmente" mais fortes do que outros. Se cai um pode perfeitamente cair o outro.
A liberdade de movimentos que colide com convenções morais abre muito os horizontes, e não se cinge apenas à união entre pessoas do mesmo sexo. Nenhum de nós tem o poder de manipular o nascimento e a educação de cada indivíduo no que respeita às suas tendências sexuais e amorosas, e apelidá-los de "doentes" como há uns anos se dizia também já não serve, porque entretanto a ciência desmistificou, e bem, esse tipo de ideias pré-concebidas.
Tiago Mestre
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