quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

There is no more dangerous





6 comentários:

Unknown disse...

True... mas como assegurar isso sem uma comunicação Social decente?

http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/02/enquanto-o-jornalismo-dormia.html

Tiago Mestre disse...

Vivendi, estive a ler umas coisas no Portugal Contemporâneo e achei muito curioso o afastamento do Pedro Arroja dos ideais libertários, fruto de um "descobrimento" da cultura portuguesa e seus méritos, que em certa medida se incompatibilizam com a ideologia libertária.

Já pensaste sobre isso?

Vivendi disse...

Já sim! O Portugal Contemporâneo é sem dúvida o melhor laboratório de ciência política que se faz em Portugal. E tenho aprofundado os meus estudos na via conservadora também.

A ideologia libertária para mim é incompleta se não a encaixarmos e a conseguirmos integrar de forma simples na sociedade onde estamos inseridos.

Por exemplo, como podemos rejeitar o acesso ao serviço de saúde pública numa nação que criou a santa casa da misericórdia há mais de 500 anos? E como este exemplo encontramos bastante mais e a lição que fica é que uma ideologia não pode ir contra a tradição de uma comunidade.

Por outro lado podemos olhar para a forma como Salazar geriu a economia e aí já encontramos a aplicação de muitos ensinamentos austríacos com um sucesso incontestável. Basta olhar para os gráficos da época.

Num dos comentários lá no PC surgiu esta interessante visão na forma de estar na ideologia e eu concordo e assumo inteiramente esta triologia.

Liberal, conservador, realista

Liberal no sentido de que a cada indivíduo seja a máxima liberdade (e responsabilidade) para poder prosseguir os seus próprios objetivos (em linguagem mais poética, para ir ao encontro da sua felicidade).

Conservador no sentido de entender que a sociedade evolui naturalmente, ao longo de séculos e lentamente, e não por formas mais ou menos elaboradas de engenharia social que tendem a ser modas a reboque de agendas políticas de facções.

Realista porque vivemos no Mundo em que vivemos e não dentro de um aquário ou de uma tese, por muito bem elaborada que ela seja. E os problemas com que nos deparamos são aqueles que têm que ser atendidos no imediato.

Outra vertente preocupante tem a ver com a imposição do Socialismo e do jacobinismo à sociedade aí sim bastante mais perigoso que a filosofia libertária.

Portugal entrou em processo de decadência após a invasão napoleónica e depois com a revolução liberal (que deveria chamar-se de revolução maçónica) e só conseguiu-se encontrar novamente a verdade tradicional no Estado Novo.

Do Estado Novo para cá é a tristeza que se conhece... Portugal encontra-se num estágio muito socialista. E os pequenos apontamentos liberais que vão havendo trazem pouco retorno à sociedade.

E tu o que pensas?

Abraço

Tiago Mestre disse...

Dos exercícios que mais me têm estimulado o intelecto é tentar perceber que raio de cultura é esta a nossa.

Como sabes, Agostinho da Silva tem-me inspirado a tentar percebê-la através da nossa história, desde a renúncia a sermos uma província de Castela, passando pela colonização de África, Índia e Brasil, até chegarmos aos dias de hoje.
A caracterização quase divina que o filósofo de Barca de Alva faz da nossa cultura fez-me, obviamente, apaixonar por aquilo que temos de mau, de bom, de diferente e indiferente. Quem lê o que Agostinho da Silva escreveu sobre a nossa cultura dificilmente não se deixa apaixonar por ela.

E é neste contexto de caracterização da nossa cultura que emergem as diferenças entre aquilo que somos e aquilo que os outros, para lá dos Pirinéus, são.
Sendo a economia uma ciência social, esta está impregnada de referência culturais dos próprios autores e do contexto social e histórico em que vivem.

Em Portugal, fruto de uma postura mais conservadora da própria sociedade, atrasámo-nos na criação de novos postulados, quer científicos, quer filosóficos. Apenas os eclesiásticos se mantiveram na vanguarda, mas a Igreja Católica não é propriamente o exemplo de vanguarda e farol de novos ideais. Basicamente abriu-se um vácuo ideológico que foi preenchido pelos nossos estrangeirados aspirantes a políticos, impregnando o Estado com sucessivos sistemas políticos que pouco ou nada se adequavam à força da cultura e das tradições portuguesas. Nos dias de hoje ainda perdura a importação de ideais em todas as áreas da sociedade, desde a política até à educação, e com o advento da integração de Portugal na CEE, acho que essa questão até se agravou.

Fazendo uma análise da ideologia libertária e da cultura portuguesa, penso que é possível perceber e aceitar que são mais as semelhanças do que as diferenças.

- O português é alguém que aceita a diversidade com bastante naturalidade. Fruto de uma conceção de vida mais espiritual e menos terrena, menos pragmática, não se dá ao trabalho de pegar em pormenores como a etnia ou outros aspetos mais "visíveis". Desde que se encaixe na ordem natural do Bem e do Mal que as nossas tradições nos legaram, só desconfiamos ao início. De resto, aceitamos o estranho como nosso irmão.

- O português ama a liberdade acima de tudo. Preferimos ser livres a estar certos, escreveu o Agostinho. Não nos importamos de errar, amamos quem erra e não damos grande valor a quem acerta. Desdenhamos até de quem tem sucesso, trazendo o sentimento da inveja e culto da avareza mais à superfície. O conceito de sociedade meritocrática é uma importação da visão protestante da vida que deve ser vivida e do Eu como ser dotado de capacidade para procurar e encontrar a Razão. Não estamos nem aí, apesar de nos exigirem diariamente que o sejamos, quer pela mão do Estado, quer pela mão da Europa.

Tiago Mestre disse...

- Só trabalhamos se for mesmo preciso para assegurar o nosso sustento. Se fosse possível vivermos com sustento sem trabalhar, talvez a grande maioria de nós não o faria. Mas a natureza e a geografia do nosso território nacional não o permite, pelo que só noutras paragens foi possível encontrar o paraíso na terra, como algumas regiões do Brasil, por exemplo... Que maior aspiração à liberdade suprema se pode desejar?

- O Mundo adotou ideais de progresso e evolução tecnológica que surgiram com a explosão ideológica da Reforma protestante e da abertura da ciência à melhoria da condição de vida das populações. Os resultados foram de tal forma espetaculares que nos deixámos apaixonar pelo progresso. O mundo ocidental saiu do fanatismo escolástico que durava desde o Império Romano para se enfiar logo de seguida noutro fanatismo: o da libertação do EU pela força da razão. É claro que esta versão filosófica apresenta tantos ou mais problemas do que a versão escolástica da Igreja, e há muito que se sabe da tentação do homem em desempenhar (mal) o papel de Deus e de sumo controlador de sociedades pela via da Razão. A escola austríaca condena, e bem, este endeusamento que certos líderes fizeram de si mesmos, embebedados pelo poder que conquistaram.

Portugal ia vendo esta explosão de ideias no Centro da Europa um bocado à distância. Com governos monárquicos mais ou menos supressores da liberdade que é intrínseca à nossa cultura, e uma igreja católica que abusava na perseguição de quem desafiava os seus dogmas, muito nos ia passando ao lado, mas enfim, era o que tínhamos. Lá íamos fazendo a nossa vidinha, sendo o Ultramar o escape do mal que que nos faziam cá dentro.

Talvez o contexto em que surge a ideologia austríaca em nada tenha a ver com a nossa cultura, mas nos aspetos fundamentais, que é isso que me interessa, parece-me que estamos muito próximos:
- O direito fundamental à propriedade privada
- Governo pequeno e poder descentralizado
- Liberdade de movimentos, ficando ao critério de cada um associar-se com quem quiser, ou não
- Respeito pela complexidade da cultura e das tradições dos povos, aceitando que a tradição é a depuração de muitos comportamentos involuntários que foram testados pelo "mercado social" e que se foram solidificando pelos costumes e imitação de comportamentos inter-geracionais.

Mais haveria para dizer, mas fico-me por aqui...

Se não concordares com alguma coisa, comenta

E Filipe,que tens a dizer sobre isto?

Vivendi disse...

Estou de acordo com as tuas palavras.

A situação é complexa pois isto não se resume apenas a um problema português, a própria civilização ocidental anda completamente à deriva.

As montanhas da dívida estão aí e o desemprego veio para ficar.