1. NEGAÇÃO E ISOLAMENTO: "Isto não pode estar a acontecer"
2. RAIVA: "Porquê eu?"
3. DEPRESSÃO: "Não me quero preocupar com nada"
4. NEGOCIAÇÃO: "Será que dá para negociar?"
5. ACEITAÇÃO: "OK. Mostrem-me o que é preciso fazer, e eu faço"
Nem toda a gente passa por todos estes estágios, mas segundo a autora deste estudo, a psicóloga Elisabeth Kübler-Ross, sempre que lidamos com uma grande tragédia, em pelo menos 2 entramos.
Aqueles que entre nós já sentem a tragédia da vida económica portuguesa em sua casa, de alguma forma já passou ou tem vindo a passar por algum destes estágios.
Desde 2008 que a minha caminhada por estes estágios se iniciou. Tendo eu uma empresa e inúmeras responsabilidades, não me sentia bem em manter atividade empresarial sem perceber o que se estava a passar naquele terrível início de ano que foi 2009, em que muito edifício económico desabava à nossa frente sem se perceber bem porquê.
Tinha que tentar compreender para me preparar, e só quando comecei a vislumbrar o que se estava realmente a passar é que ganhei consciência da fragilidade económica em que estava enfiado.
Portugal, para reduzir o défice a zero e deixar de pedir dívida nova teria que sofrer recessões que poderiam totalizar 20, 30, 40 ou 50 mil milhões do PIB.
Como é que se encaixa uma informação destas?
Não se encaixa.
É acreditar que o MEDO que sentimos nos ajudará a mudar de atitude e a começar a grande preparação.
E que preparação foi essa?
Gerir bem, gerir melhor, evitar mais endividamento e usar os lucros da empresa para liquidar passivo. E assim foi.
A nível pessoal, tive que desistir de muitos sonhos e procurar outros mais compatíveis com o nível de vida que julgo que terei, se por cá continuar.
A agricultura para consumo pessoal foi um desses novos sonhos que me bateu à porta e que nunca na vida julgaria ser possível. A família concordou e lá avançámos. Passados 2 anos e meio já se vê qualquer coisa.
Até certo ponto, tudo o que defendo neste blog já o fiz primeiro na minha vida pessoal (na devida escala), daí sentir algum à vontade em sugerir certas ideias que poderão parecer à primeira vista irrealizáveis.
Se eu lê-se há 5 ou 6 anos o que tenho vindo a escrever nos últimos 2, provavelmente também acharia impossível realizar certas ideias e defender certos postulados.
Todo o português com uma certa maturidade intelectual já passou ou está a passar por algum dos estágios acima descritos. E é o somatório de todos estes estados de espírito dos portugueses que caracteriza o sentimento nacional na atualidade.
Não sei qual a percentagem de gente que está em cada um dos 5 estágios, mas acredito que pela ausência de manifestações violentas em massa, o povo, na sua maioria, já percebeu que de pouco adianta enraivecer-se, sendo bem melhor olhar pela sua vida e preparar-se tão bem quanto lhe for possível para o que ainda aí possa vir. E se uns emigram, outros até ficam, mas alterando qualquer coisa na sua vida. Mas outros há que não passam da depressão, não conseguem dar o salto, e esses sentem-se numa gaiola. São precisos todos os outros, a família e os amigos, para os ajudar a ultrapassar essa difícil fase da sua vida. Acredito que teremos essa capacidade de não abandonar o próximo, apesar de que vivemos talvez umas 3 décadas em que nos pediram para nos esquecermos dessa fraternidade já que isso era trabalho do Estado.
Todos esses edifícios estão a colapsar à nossa frente, e lá estamos novamente a redescobrir o que é ser solidário, fraterno e plural.
Não deixa de ser caricato ver gente desempregada e sem ganhar dinheiro a trabalhar nas campanhas do Banco Alimentar contra a Fome. Pode ser paradoxal para muita gente, mas é a vontade do povo, e isso é a verdadeira soberania, aquela que não pode ser combatida com nenhum edifício político/legislativo/abstrato.
Quanto mais gente entrar no 5º Estágio, mais a Nação estará preparada para esta nova ronda de dificuldades, das muitas que já tivemos na nossa história
E é este modo de reagir, sem afrontar, sem rebentar com o que existe e solidarizando-se com o próximo que está a passar mal, que acaba por manter intacta muita da nossa cultura e muito daquilo que é o Ser Português. Acredito mesmo que só conservámos tantos séculos de história por não termos sido demasiado precipitados em aceitar novas ideias e em querer mudar tudo. Somos permeáveis, atenção, há exceções aqui e acolá, e na minha opinião, o 25 de Abril trouxe, a pretexto das "novas liberdades", muita importação de ideal estrangeiro pouco compatível com o nosso modo de ser, mas mesmo assim foi moderado e pouco extremista, já que não caímos nem no comunismo nem no fascismo, também eles ideais estrangeiros. Mas do mesmo modo que somos ingénuos e aceitamos novas ideias, também começamos a desconfiar delas se acharmos que afinal não nos servem, e em último caso, simplesmente as abandonamos. Isso acontece com a enorme quantidade de leis que ninguém cumpre porque não refletem os padrões comportamentais dominantes nem a preferência do pessoal.
Se cada um de nós tentar corrigir o seu modo de vida em função da nova falta de rendimentos, sem querer ir ao bolso do próximo à força, como se fez em tantas revoluções e como tenta o governo fazer agora para salvar o Estado, penso que conseguiremos reforçar a cultura fraterna e pluralista que caracteriza o Ser português, deixando as instituições/edifícios que se construíram depois do 25 de Abril e que nada têm a ver com a nossa cultura, como a Segurança Social e o seu sistema abstrato e centralizado de redistribuição de riqueza, caírem de maduros.
Teremos menor poder de compra e seremos mais pobres aos olhos dos outros sem dúvida, mas aproximaremos a nossa essência à nossa existência. Prefiro isso do que me distanciar da essência só para conservar uma existência mais próxima daqueles que nos julgam e avaliam.
Que se lixe quem julga que sabe o que é melhor para mim e para ti.
Tiago Mestre
7 comentários:
Excelente!
A melhor forma de os portugueses superarem esta crise é tornarem a serem mais portugueses.
Parabéns Tiago.
Faz uns tempos, estava num grupo de pessoas a quem foi perguntado qual o principal problema da minha região.
Os comentários foram velhice, pobreza, desemprego, falta de oportunidades.
A minha resposta foi simples: identidade!
Ficaram todos a olhar para mim sem perceber o porquê e talvez até a achar que sou ultra nacionalista.
A verdade é que para mim é desde sempre claro que fazemos parte de algo para o qual devemos contribuir porque não devemos esperar que outros o façam por nós.
Os meus pais nasceram pobres, mal estudaram, o meu pai inclusive para ajudar os pais, foi pastor ainda criança e até à idade adulta.
Quando se "emancipou" recriou o seu percurso e hoje está bem com a vida.
Nunca tivemos duas televisões em casa, o primeiro carro durou 17 anos, nem todos temos telemóvel e só o tivemos quando se tornou uma necessidade. Ainda hoje temos produções agrícolas, ajudam um pouco na economia familiar e são uma boa terapia. (também aqui me identifico contigo)
Em Portugal, a identidade perdeu-se, todos esperam que o vizinho do lado se lixe para que sobre mais.
Como escrevi, desde pequenino que vivo com o que tenho e sou feliz assim. A aceitação não é mais do que a única realidade, só a partir daí podemos melhorar.
Excelente post Tiago, muitos parabéns.
Uma frase que lembrei, é quando tudo corre mal, voltas às origens e recomeças tudo de novo. É um bocado drastico sim, mas é mais pela ideia, que devemos voltar à identidade própria que temos como portugueses.
Post de um Homem de Bem!
A força aglutinadora da catástrofe que nos caiu em cima há-de fazer brotar a massa critica de Homems Bons como o Tiago Mestre, na qual reside a esperança de milhões de anónimos que carregam a maior parte do peso da situação.
Doorstep, chiça! que elogio exagerado!!
Sou um "chaval" de 32 anos com MEDO e que não descansa enquanto não encontrar a versão mais atualizada da VERDADE!
Fico muito lisonjeado por saber que no Viriatos encontras pessoas e ideias que te inspiram e que te dão esperança.
Também tenho medos e compreendo os teus.
Versões mais actualizadas da verdade, hás-de sempre encontrá-las: a verdade és tu, e tu próprio confessas que não descansas... Sendo Homem de Bem, todas as verdades que reconheças serão sustentáveis - ainda que a maior parte não seja praticável.
Um abraço de um impertinente que em 1981 tinha a idade que tens hoje!
ps(d-ml): um dia destes telefono-te para irmos almoçar...
anytime
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